Um Imprevisto

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   O som da batida do teto do carro no chão ecoava em minha mente, junto com a risada de Teresa, depois de arrancar meu dedo. Acordei repentinamente, com um susto, notando que já havia amanhecido. 

- Fábio, já amanheceu. - Avisei, dando um empurrão em seu ombro. 

   Sem dizer nenhuma palavra, o asiático se jogou para o banco que ficava à sua direita. Passei entre os assentos da frente e me sentei no do motorista. 

- Vou continuar dormindo. - Avisou ele, enquanto checávamos os cintos. 

   Dei a partida e acelerei, entrando novamente na estrada. As nuvens tinham se dissipado, fazendo com que o dia ficasse ensolarado.

- Mais dois dias... - Disse ele, repentinamente, ainda de olhos fechados. 

- Você não estava dormindo? - Perguntei, rindo.

- Não. - Respondeu, rapidamente. - Só tentei colocar as ideias no lugar...

- Se você quiser desistir disso, eu vou entender. - Falei, ainda tendo esperanças de que pudesse poupá-lo  dessa missão suicida.

- Você não vai conseguir me fazer mudar de ideia. - Falou o asiático, decidido.

   A viagem corria tranquilamente, mas minha fome começou a aumentar.

- Se você ver algum restaurante, me avise. - Avisei, enquanto Fábio olhava pela janela, completamente distraído.

   Ele assentiu com a cabeça, e eu sabia que essa distração tinha motivo.

- Pensando nas chilenas? - Perguntei, ironizando uma das descobertas que o moreno havia feito.

- Na verdade, estou lembrando da habilidade delas. - Respondeu ele, rindo. - Faz mais de um mês que eu não faço sexo. 

- Bom, estamos na mesma situação. - Comentei.

   Alguns minutos depois, passamos por um prédio baixo com uma grande placa de "Restaurant". Freei rapidamente, fazendo com que um carro que estava trás de nós tivesse que desviar.

- Aqui foi o último restaurante onde paramos antes do acidente. - Falei, com o carro já parado no meio da pista. 

- Pedro... - Disse Fábio, tentando me acalmar. - Nós vamos encontrar aquela vadia. 

- Nós precisamos encontrar ela! - Gritei, dando um soco no volante. 

   Consegui conter minha raiva, então liguei o carro novamente e fui até o estacionamento. Deixamos o veículo lá e entramos no estabelecimento, indo até os bancos do balcão.

- Tudo vai dar certo... - Falou o asiático, quebrando o silêncio que prevalecia desde que saímos do carro. 

- Eu espero que seja assim. - Respondi, quando a atendente, uma loira de olhos castanhos claros, voltou para o balcão.

   Pedimos dois pratos de macarrão e suco de maçã. 

- Por que suco de maçã? - Perguntou Fábio.

- A garçonete ofereceu. - Respondi, começando a comer a massa. 

   Um pouco do molho caiu em minha camisa branca, a manchando. 

- Se alguém perguntar, responda que foi um tiro. - Ironizou o moreno, rindo.

   A atendente olhava repetidamente para Fábio, que retribuía seus olhares. Paguei a conta e fui em direção à porta, mas parei quando notei que o asiático não me seguiu. 

- Você só fala alemão? - Disse ele, em inglês.

- Nicht... - Respondeu a loira, ficando com as bochechas avermelhadas.

   Fábio não entendeu o que ela disse, então apontou para ela e desenhou um coração no ar. A atendente apontou para o relógio, mostrando que faltavam quinze minutos para as onze horas.

   O asiático pegou um guardanapo de cima do balcão e tirou a caneta que a garçonete segurava, escrevendo "11?". A loira assentiu com a cabeça, então voltamos para a rua e sentamos em um banco que ficava no fim do estacionamento.

- Logo ela vai sair. - Avisou o moreno, com um sorriso no rosto.

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