Um Almoço

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   Ana e eu voltamos ao posto de combustível, onde Fábio nos esperava pacientemente.

- Não poderiam demorar mais? - Perguntou ele, sarcasticamente. - Foi muito divertido esperar aqui...

- Não quis te deixar esperando. - Respondi, saindo do veículo. - Você não estava falando sobre comida mais cedo?

- Claro... - Prosseguiu o asiático, medindo as palavras. - Vão nos dar um desconto no almoço.

- Tudo bem, eu pago. - Afirmei, seguramente.

- Ótimo, vou falar com o pequeno Hitler. - Ironizou ele, indo em direção ao senhor que nos guiara até o banheiro.

- Adolf era austríaco! - Gritei, enquanto ele se distanciava, rindo.

   O moreno entrou na pequena loja envidraçada que ficava ao fundo do posto. Ana se sentou sobre o capô do carro e ficou olhando para o céu, que se iluminava mais a cada minuto, se aproximando do meio-dia.

- Fome? - Perguntei, me prostrando à sua frente, curioso quanto a sua expressão.

- Felicidade... - Respondeu a ruiva, pondo os pulsos sobre meus ombros.

   Minhas mãos seguraram sua cintura com firmeza, então a beijei. Senti suas pernas se envolvendo em meu corpo, quando alguém tocou meu ombro.

- Se os coelhos já terminaram... - Falou Fábio, com um tom entediado na voz. - Podemos ir comer.

   O asiático nos guiou até a pequena lanchonete, onde algumas mesas estavam dispostas uniformemente.

- Podem se sentar. - Proferiu o moreno, apontando para uma mesa com três cadeiras.

   Quando já estávamos em nossos respectivos assentos, Ana se adiantou e abriu a grande panela que estava entre nós.

- Meu Deus! - Comemorou a ruiva ao ver o conteúdo do recipiente. - Não como sopa há meses!

   Aproveitamos a melhor refeição dos últimos dias, antes de ter que continuar a viagem. Não tínhamos comido muito mais do que alguns pães enquanto estávamos no hotel.

- Amanhã chegaremos ao restaurante. - Disse o asiático, logo depois de apertar a mão do senhor que nos prestara os serviços e o pagar.

- Restaurante? - Perguntou Ana, confusa.

- Fábio, não está na hora de contar as "novidades"? - Questionei, fazendo aspas com as mãos. - Ana merece saber da verdade...

- Verdade? - Perguntou ela, novamente sem entender nada.

- Ana, eu tenho uma doença terminal, e não muito mais do que um ano de vida. - Desabafou Fábio, talvez rápido demais. - Conheci uma garota aqui na Alemanha, e como tenho dois por cento de chances de sobreviver, espero que ela seja louca o suficiente para voltar para o Brasil comigo e tentar me fazer morrer feliz.

- Nossa... - Falou a ruiva, completamente pasma. - Eu não sei o que dizer.

- Eu não estava esperando por uma resposta melhor que essa. - Comentou ele, com uma risada fraca. - Já me conformei com a ausência da vida.

   Fomos em direção ao carro e Fábio se sentou no banco do motorista. Seguimos viagem por algumas horas até que anoitecesse.

- Amanhã é seu grande dia! - Falei, quando os últimos raios de sol sumiam no horizonte.

- Se ela conseguir entender o que eu disser, talvez seja suficientemente sem-noção para voltar conosco. - Afirmou ele.

   O asiático desacelerou e parou no acostamento, assim como na noite anterior. Beijei Ana e fui até o banco da frente, deixando todo o espaço dos assentos traseiros para ela.

- Boa noite meninos. - Disse a ruiva, bocejando.

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