Um Pneu

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   Fechei os olhos e deixei que o vento passasse pelo meu rosto. Fábio estava em silêncio, mas tinha um grande sorriso no rosto.

- Se você não tiver nenhuma objeção, vou te deixar sozinho aqui... - Disse ele, pegando as chaves e indo em direção à loira que saía pela porta do restaurante. 

   Os dois entraram no carro e foram para o banco de trás. Fechei os olhos novamente, tentando esvaziar minha mente.

   Eu não podia negar que receber aquela foto gerou a pior raiva e a maior alegria que já senti em toda a minha vida. Eu precisava encontrar Ana logo, ou acabaria perdendo a sanidade.

   Cerca de meia hora depois, o asiático saiu do carro, sendo seguido pela loira, que o beijou e voltou para o restaurante. Ele veio até mim e se sentou no banco, enquanto olhava a garçonete entrar pela porta.

- Esquece aquilo sobre as chilenas... - Disse o moreno, me fazendo rir.

- Mas como vocês se comunicaram? - Perguntei, confuso.

- Existe uma língua que não precisa ser falada. - Respondeu ele.

- Tudo bem, sem detalhes, por favor. - Pedi, rindo.

- Agora deveríamos continuar a viagem. - Comentou ele.

   Me levantei e fui até o carro, vendo a pior coisa que poderia ver.

- O pneu furou. - Falei em voz alta, pondo as mãos no rosto. - E você cortou o estepe.

- Meu Deus... - Falou Fábio, sem acreditar no que havia acontecido. 

   O asiático se virou e entrou no restaurante, voltando em menos de cinco minutos.

- Dois quilômetros adiante podemos trocar esse pneu. - Avisou ele.

- Eu não sei como você faz isso. - Disse eu. - Mas não importa, vamos lá.

   Entramos no carro e fomos lentamente até o lugar. Uma garagem aberta, com alguns carros esperando na frente.

- Espero que o lugar seja esse... - Comentei, entrando pela grande porta e saindo do carro.

   Apontei para o pneu, e o mecânico entendeu qual era o problema. Descobri que palavras nem sempre são necessárias.

- Espero que ele não cheque o estepe. - Falei, rindo.

   Depois de alguns minutos, o mecânico começou a trocar o pneu. Em alguns minutos, o trabalho estava finalizado.

   O paguei e voltamos para o carro.

- Em menos de dois dias, vamos chegar lá. - Avisei, virando a chave e acelerando. 

- Se voltarmos... - Disse ele, enfatizando a primeira palavra. - Vou levar a Judith para o Brasil.

- Quem é Judith? - Perguntei, sem entender o que o asiático quis dizer.

- A garçonete. - Respondeu ele, olhando pela janela. - Eu vou morrer, mas quero morrer feliz!

- Você ainda tem uma chance... - Falei, tentando dar esperanças ao meu melhor amigo.

- Um doador é minha única oportunidade. - Ele respondeu. - Já estou na fila de espera, mas não é fácil como parece...

- Realmente espero que tudo dê certo. - Disse eu. - Você é uma pessoa incrível.

   Fábio continuou olhando pela janela, pensativo. Eu sabia que as esperanças dele não tinham morrido.

Muito Mais Que Uma ViagemOnde histórias criam vida. Descubra agora