Uma Escapada

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   Abri a porta e vi que felizmente nenhuma arma estava apontada para nossas cabeças. Ana segurou meu pescoço e fomos até o portão, que estava com o cadeado quebrado.

- Fábio, seu exibido. - Falei, com uma risada fraca.

- O Fábio veio? - Perguntou a ruiva, espantada.

- Se não fosse ele, nada teria dado certo... - Respondi, olhando para a janela do nosso quarto, e vendo que estava fechada.

   Abri o portão e carreguei ela até a esquina, onde nosso carro já estava esperando, com o asiático muito nervoso no banco do motorista. 

- Achei que nunca mais veria vocês! - Disse ele, abrindo uma das portas de trás do veículo.

   Coloquei Ana no banco traseiro e sentei ao seu lado, fechando a porta com força.

- Para Berlim, agora! - Falei, enquanto a ruiva apertava meu braço.

- Por favor, me digam que não deixaram as armas lá... - Falou Fábio, pausadamente.

- A polícia vai agradecer a quem matou Teresa. - Disse eu. - Todos deviam favores e dinheiro a ela.

- Espero que você esteja certo quanto a isso... - Respondeu o asiático, ligando o carro e saindo daquele lugar. - E você, Ana, está muito ferida?

- Na verdade ela não me feriu muito... - Explicou a ruiva, com uma voz triste. - Toda manhã, Teresa passava uma hora falando que eu não sairia daquela casa e que ninguém se importava comigo...

- Você foi dada como morta... - Falei, tocando sua perna. - Passei mais de um mês em Berlim, sem poder sair do país por causa do processo.

- Eu cheguei a acreditar nela... - Prosseguiu Ana, pondo sua mão sobre a minha. - Mas ver você fez todos esses pensamentos desaparecerem.

  Pus minha mão em sua cintura e a beijei, depois de tanto tempo imaginando que nunca mais a veria. O sentimento de perder minha esposa foi uma das piores coisas que já tinha sentido na vida.

- Velas não são seguras quando estão próximas de explosivos. - Disse Fábio, rindo.

- Explosivos? - Perguntou a ruiva, receosa.

- Só para emergências... - Respondeu o asiático, abrindo o porta-luvas e mostrando as duas granadas cilíndricas.

- Se você acha que é seguro, não vou discordar... - Comentou ela, me abraçando. 

- Fábio, você me deve meia hora de privacidade. - Disse eu, lembrando da manhã no estacionamento do restaurante.

- Tudo bem, você ganhou. - Falou Fábio, com uma risada fraca. - Amanhã você vai ter seu tempo de paz.

- Quem falou em paz? - Perguntou Ana, com um sorriso. 

- Se puderem me poupar dos detalhes, eu agradeço... - Disse o asiático, nos fazendo rir.

- Três dias até Berlim? - Perguntei, já que o GPS não estava em minha linha de visão.

- Talvez quatro, o trânsito não está muito fácil. - Respondeu ele.

   Fiquei algum tempo olhando nos olhos da ruiva, sem dizer nenhuma palavra, assim como ela. Notei que sua roupa estava rasgada, então lembrei que nas malas haviam várias peças que não foram usadas.

- Fábio, pode parar um pouco? - Pedi. - Preciso pegar uma coisa na mala... 

- Sem problemas. - Respondeu ele, calmamente, enquanto desacelerava.

   Ana e eu fomos até o porta-malas, onde peguei uma camiseta branca larga e um calção que estavam, dias antes, sob as maletas das armas. Na outra mala estava o rifle, já desmontado, dentro de sua valise.

   A ruiva ficou atrás do carro e se vestiu, já que nenhum carro passava por nós há muito tempo. Seu corpo não estava cortado como seu rosto, que provavelmente se machucara já no acidente.

- Eu estava sentindo falta disso... - Falei, quando ela já estava vestida, pegando em sua cintura. 

- Não se preocupe, agora vamos ter todo o tempo do mundo... - Disse Ana em meu ouvindo, me beijando. 

Muito Mais Que Uma ViagemOnde histórias criam vida. Descubra agora