Capítulo 2

20 3 0
                                    

Adoro as luzes que entram pela manhã num domingo àquela hora que normalmente o despertador não te deixa chegar, o calor da cama e o cheiro de comida que faz uma longa viagem desde a cozinha até ao teu quarto para te dizer que está na hora de levantar. Já os gritos que se seguem da tua mãe a chamar-te para comer podiam ser mais agradáveis...

A primeira coisa que vejo quando me levanto é a minha figura no espelho, o meu pijama de pêlo e o meu cabelo despenteado, quão sexy eu pareço de manhã...

- Liv acorda!

Um dos pirralhos atira-me um urso de peluche enorme e eu caiu no chão sem vontade de levantar de novo, o quarto está um caos e eu estou muito cansada ( como sempre) para o arrumar. Empurro o urso e subo na cama, na ultima gaveta retiro o meu caderno de anotações, que tem como título "Who am I?" , é neste caderno que escrevo para o meu blog.

Comecei a escrever desde pequena, coisas sem nexo ou estúpidas anotações da minha vida de criança solitária. Acho que achei graça ver o desenrolar da minha pessoa, como mudava em todos os aspectos. As minhas amigas também mudaram, acho que todos...

Desço e pego uma torrada, ninguém nota a minha passagem, abro a primeiro página do caderno e começo a escrever, a partir daí não sou mais eu, ou talvez seja a verdadeira eu agora... Who am I after all? Isso é o que quero descobrir... The real me.

Caro caderno sem nexo hoje sonhei que o meu pai estava doente, a minha mãe culpava-me dizendo que eu era egoísta, todos culpavam-me, eu era o que eles diziam certo? Nós não somos o que os outros vêem? Não são essas acções que todos testemunham que definem a pessoa que somos? Então eu era egoísta, eu era patética mas enquanto me culpavam e falavam todas aquelas coisas horríveis tinham se esquecido do meu pai que estava a morrer bem atrás deles e eles não viam, estavam demasiado preocupados em culpar alguém e esse alguém era eu, ali a vê-lo morrer sem poder fazer nada. Sou egoísta então? 

Sonhos! Tão imprevisíveis e mesmo assim parecem querer sempre dizer algo...

De qualquer forma não foi o único sonho que tive, normalmente eles não ficam mais na minha memória logo que os meus olhos despertam mas desta vez ficaram... 

Sonhei que estava a ser empurrada das escadas a toda a hora, sempre que subia era empurrada de novo para o fim da escada. Irónico, é normal que eu não confie nas pessoas...

- Liv vai lá a baixo chamar o Heitor, preciso de ajuda...

- Estou a estudar tia!

- Muito estudas tu! Vai lá num instante.

- Já vou!

Que raiva, levantei-me pondo o caderno na gaveta e fechando-a à chave. Descia as escadas com o estúpido peluche e observo a sala onde estava a minha mãe, a minha tia e... duas figuras que eu não reconhecia que olharam para mim logo de seguida que a minha tia se aproximou e estendeu-me um molho de chaves. Eu escutava o que ela dizia e olhava o rapaz na ponta da mesa que tinha uns olhos enigmáticos, ele não pareceu estender muito a sua atenção para mim, a rapariga ao seu lado devia ser a namorada, era loura e linda... 

- Querida estás a prestar atenção?  

Acenei que sim, mesmo que ambas saibamos que não.

- Levas-lhe?

- O quê?

O tio Heitor foi buscar umas coisas à garagem e esqueceu a chave, estou a falar contigo Liv... Dá-me esse peluche, não achas que és muito velha para brincar com peluches?

Estranhos pensamentosOnde histórias criam vida. Descubra agora