Estava a ler um livro no quarto sossegada e aconchegada no meu muro de almofadas e a minha mãe entra sem bater com cara preocupada, estou com muito sono para outro sermão mas ela parecia mais estupefacta que irritada.
- Liv fazes o favor de descer? Andas sempre com essas coisas enfiadas nos ouvidos e não me ouves quanto te chamo!
- Eu não estou com os fones, estava concentrada no livro...
- Desce.
Ela saiu e eu segui atrás dela escada a baixo, muito aborrecida.
- Olha a minha netinha que nunca se lembra de mim...
- Estava a ler avô.
- Pois, eu sou só um velho, agora não queres mais saber de mim.
- AVÔ!
Ele ria-se e eu sorria pois ele sempre dizia essas coisas, os seus olhos apesar de tudo mostravam alguma tristeza e tive receio de ser distante mesmo ou que se passa-se alguma coisa que não me contaram.
- O que se passa?
- Precisas saber de uma coisa.
- Contem logo.
Os meus tios estavam ligados na televisão e apenas olhavam de soslaio de vez em quando e o avô parecia não querer falar assim como a mãe. Insisti para que revelassem o segredo mas pareciam com duvidas, a avó passou na sala e ao ver aquele ambiente falou e as suas palavras pareciam setas que quebravam o mistério e me pareceu que entrei outra vez naquela realidade que eu insistia em fugir.
- Então já contaram que o velho tem cancro?
A minha mãe olhou-a com alguma fúria e ela saiu, sem mais nem menos, eles ficaram à espera de uma reacção mas eu não sabia que dizer e não precisei pois os miúdos acordaram e desceram as escadas a correr, observei a minha prima mais nova a esbarrar e a minha ti a correr para a apanhar, as atenções foram viradas para aquele cenário e eu aproveitei e sai, sai para o escritório que era o sitio mais próximo, sempre era,sempre era um refugio pensava eu.
Naquele canto eu não conseguia não pensar, não pensava na revelação em si mas no que o meu avô tinha dito antes e como cada vez soava menos uma brincadeira e mais uma revelação maior para mim mesma, que eu não ligava mesmo muito para eles e no fundo tinha uma voz a dizer que não era verdade, que ele brincava ao dizer aquilo, pois eu sempre fiz o que ele me mandou e sempre tentei ter paciência assim como ele tinha para mim mas seria suficiente?
Eu adorava o meu avô, até porque não tinha conhecido o meu avô paterno e quando o pai chegava tarde a casa ou quando ele não tinha paciência para uma criança que só fazia parvoíces era o avô que estava lá e eu nunca dei importância, porque eu não dou importância a essas coisas porque eu penso que as pessoas sabem que eu estou aqui para elas e o que significam para mim e eu devia ter dito naquele momento que eu ia estar a apoia-lo, devia ter perguntado pelos tratamentos e que íamos passar por isto juntos , todos, como sempre fizemos as coisas. Mas eu não disse, porque toda a minha vida resume-se a coisas por dizer, a palavras que não saem, coisas por resolver, sentimentos escondidos...
- Oi posso entrar?
Ouvi a voz da Leona do outro lado da porta e não quis preocupa-la.
- Palavra chave?
- A sério? Deixa-me pensar...
- Leva o teu tempo.
Risos. Ela abriu a porta devagar.
- Eu já sei o que se passa.
- Quem te contou?
- A tua avó.
- Qual é o problema dela?
- Bem, acho que a tua avó não é muito sentimental...
- Pois, acho que sim, o marido dela está com uma doença e ela...
Nunca compreendi bem a minha avó materna, ela sempre foi um pouco estranha e a sua atitude mostra-se fria mas a minha mãe diz que é só por fora. O que me faz pensar se também pareço fria vista de fora.
- Acho que cada um lida com estas coisas de formas diferentes, não é Liv?
- Yah...
Caminhei com ela para fora do pequeno escritório ao fundo casa e fomos até à praia. Não conseguia conter a curiosidade.
- Achas que sou fria como a minha avó?
Ela pensou um pouco.
- Acho que não, vejo-te mais como uma pessoa que não fala muito sobre as coisas que sente mas não és fria.
- Obrigada.
Sorrimos ambas e ela começou a fazer-me perguntas sobre o individuo da festa e sobre o que tinha acontecido, contei-lhe e enquanto ela me contava o que tinha ocorrido com a Elisa e o namorado na festa eu viajei para o beijo que o rapaz me tinha dado e que eu tinha detestado mas ao mesmo tempo não tinha, o que me fazia odiar-me a mim mesma por ter estes estúpidos e confusos sentimentos.
- Sabes quem me convidou para uma festa hoje à noite?
Tentei afastar os pensamentos estranhos e os negativos com uma mudança de assunto.
- Quem?
- O novo vizinho.
- OMG, também vais?
- Yap, ele também te convidou?
- YAH! Tou tão feliz!
- Não sei bem se quero ir agora...
- Tens de ir!! O teu avô tem a próxima consulta amanha, podes ir com ele e apoia-lo, além disso ele agora está com o resto da família e deve precisar é de descanso, não vais fazer nada em casa.
- Sabes mais que eu...
- As noticias meio que se espalham... Sabes eu queria dizer-te que o Evan tinha-me convidado também antes mas estava com senas de poderes ficar coisinha porque eu não sabia que ele também te tinha convidado, pensei que podias ficar mais chateada por teres ficado presa no quarto e eu não ter ido ver de ti e essas cenas...
- Sabes que eu não sou assim, e to muito feliz que possamos ir as duas.
- Yah, e...
Fiquei à espera que ela terminasse a frase mas ela ficou a olhar feita parva para o mar e quando olhei para ver o motivo fiquei estupefacta e com certeza ( mesmo não sendo dessas coisas) corei.
- Quem é ele??
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Estranhos pensamentos
Teen FictionLiv é uma adolescente que ama escrever e por isso criou um blog que actualiza todos os dias, esta história é a história de Liv, dos seus amigos e família e todos os que entraram na sua vida e de alguma maneira permanecem ou não. A escrita e o desenh...