Estranhos pensamentos

Capítulo 7

- Não sei mais quem sou.

- Nem eu.

- Nós somos o que dizem que somos, o que os outros vêem ?

- Nós somos quem quisermos ser, é isso que fazemos na nossa vida, criamos nós mesmos e recriamos de novo e de novo, sempre a editar até sermos "perfeitos".

- Mas nós não podemos ser perfeitos.

- Eu sei.

- Então porquê perder esse tempo?

- Porque somos humanos e é isso que fazemos. Perdemos tempo com essas coisas.

- Parece bem estúpido.

- Porque escreves num blog?

- Porque ás vezes preciso desabafar e é mais fácil falar quando ninguém sabe quem és.

- Isso parece estúpido, não tens amigos?

- Tenho, mas não quero incomodá-los com estes estranhos pensamentos...

...

Lembro-me dele, o Difire999, eu achei que fosse meu amigo ( alguma espécie de confidente, não sei bem), mas ele um dia desapareceu e não voltamos a ter qualquer contacto. Ele tinha visto uma das minhas publicações e começamos a falar desde então apenas por alguns meses à algum tempo atrás, quando criei o blog. 

Enquanto aquele rapaz me segurava naquele quarto eu lembrava-me de conversas que tive no passado e a voz..., porquê que a voz era-me tão familiar?

- Quem és tu?

A minha voz parecia que se desvanecia, estava quase noite quando a desvairada da minha amiga se lembrou de vir ver-me, levei um abanão e abri os olhos cansados.

- Que foi?

- Que foi?! Tu adormeces-te aqui, não me digas que ficas-te aqui toda a tarde e noite à procura do estúpido caderno, achaste-o ao menos?

Não sei se estava mais irritada por ela ter-me acordado ou ter-me dado aquele sermão quando foi ela que se esqueceu de mim enquanto aquele... Onde estava ele? 

- Hey Liv? Estás a ouvir-me?

- Sim...

- Que foi? 

- Onde está aquele... demónio?

- Demónio?

- O gajo que me roubou o caderno e veio aqui quando foste embora, fechou-me no quarto e gozou comigo, depois beijou-me para que a rapariga sai-se e depois...

- Uau, espera, espera, muita informação...

- Sabes que mais só quero ir para casa, acabei por não me divertir e depois de amanha começa a escola por isso é melhor ir preparar as senas.

- Sempre a mesma. Mas tens de me contar o que aconteceu, estou a pensar em...

- Não, não e não, estou muito cansada hoje.

- Desde quando viras-te uma velha chata?

- Desde que me abandonas-te e abusaram de mim.

- Mas ele tentou alguma sena?

- Ele puxou-me o braço e beijou-me, e pior ele invadiu a minha privacidade.

- Não eu estou a falar doutras senas...

- Não, eu matava-o.

Despedi-me, agarrei as minhas coisas e sai, estava quase de dia agora e ainda havia pessoas a dormir no jardim dela, muitas coisas espalhadas pela rua e eu estava só a tentar raciocinar tudo o que se tinha passado. Não sei como me senti ontem, posso dizer que vou trancar o estúpido caderno num cofre escondido numa caixa fechada bem arrecadada no fundo do armário coberto de roupa.

Porquê?

Porque é que estas coisas sempre me acontecem? Quem era ele? Será que é... Não pode ser! Mas...

- Lívia!

Olhei para trás instintivamente e observei nem mais nem menos que Evan a caminhar na minha direcção.

- É Lívia certo?

- Apenas Liv.

Corrigi educadamente.

- Fiquei a perguntar-me onde estives-te durante a tarde de ontem? Não te vi mais depois daquela queda. Fico espantado de ainda te encontrar aqui...

Ele sorriu e eu estava bem cansada mas sorri de volta, ele era mais simpático do que alguma vez pude imaginar e senti-me tentada a ficar na conversar tanto quanto sentia a falta da minha cama e do meu pijama de pêlo. 

- Eu tive um problema, trancaram-me num quarto.

- Isso é muito azar, primeiro roubam-te e depois trancam-te.

- Yah, essa sou eu, nunca tenho sorte nenhuma...

Adorei o facto de estar a conversar com Evan Carter, ele era tão giro e mais velho e tão mais simpático que os rapazes normais da minha escola, era um anjo comparado a certos demónios da minha vida...

- Bem, eu estava a pensar se não gostavas de vir até ao cinema connosco, talvez para compensar o dia de ontem.

- Connosco?

- Yah, eu e uns amigos, se quiseres juntar-te a nós...

- Eu adorava, quando estão a pensar ir?

- De noite, posso vir buscar-te, moras logo ali em frente certo? 

- Yah...

- Ok então, até lá.

Ele era bem sensual e espero não ter parecido muito ansiosa ao falar com ele, ou pior espero não estar com cara de zombie ou cabelo despenteado depois de ontem, sim porque já era de manhã e tinha de ir dar explicações aos meus pais e com a minha sorte a toda a família que me esperava para o pequeno-almoço.