Capítulo 14

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Entrei na escola e eu sabia que estava a ser seguida por isso dirigi-me para a casa de banho a passo rápido. Várias faces familiares e alguém me segurou o braço para me falar mas eu respondi um bom dia rápido e um tudo bem retórico ( como todos fazem) e continuei sabendo que ele estava mais perto... 

Vi Elona ao longe num grupo de raparigas da nossa turma do ano anterior e queria ir lá ter mas ainda estavam longe e ele estava mais perto! Cheguei à porta e o braço dele chegou no meu ombro mesmo antes de entrar. O toque soou e todos se dirigiram para o anfiteatro para a apresentação e habitual discurso do director (eu ainda nem tinha ido ver as turmas, apenas tinha visto o horário de relance). 

Todas aquelas almas seguiam e nós estávamos ali quietos, ele com o seu sorriso provocador (incrivelmente alto e destacando-se por estar todo de preto e parecer daqueles rapazes que eu tenho no meu tumblr...) e eu encolhida contra a porta numa tentativa de que alguém conhecido viesse ter comigo, agora, pois não queria olhá-lo quando tinha a sensação de... lágrimas?! wtf!?

Ele aproximou-se e segurou-me o queixo, de forma que tive de olhá-lo nos olhos, naqueles olhos que condiziam com a roupa escura.

- Ciumenta.

Espero não ter parecido perturbada com o que ele disse, quer dizer... Espero que ele tenha percebido a minha confusão e entenda que não tem nada a ver, eu não estava com ciumes! Estava... Atrasada para a apresentação...

- O que te leva a pensar isso?!

- Não sei, talvez essa cara, começo a conhecer as tuas expressões, és fácil de ler.

Fácil de ler?! Eu não sou um livro e ele não tem qualquer direito...! Eu não... Ele irrita-me!

- Lês muito mal então.

- Presumo que essa é a atitude de alguém com ciumes...

- Ciumes de quem?!

- Da miúda do autocarro.

- Nem sequer sabes o nome dela?

- Isso faz te sentir melhor? Que ela signifique tão pouco que nem decorei o nome.

Não gostei da sua maneira de me fazer falar algo que eu não queria pois parecia que me manipulava de alguma forma, eu estava a ficar atrasada por isso resolvi responder rude e sair.

- Não me faz sentir nada de todo, podes ir ter com ela e deixar-me em paz!

Sai feliz por me impor e querendo esquecer os pensamentos contraditórios que me iam na cabeça mas ele colocou o braço na frente não querendo deixar a conversa por ali e eu só queria que alguém me resgata-se.

- Onde vais?

- Que tens a ver com isso?

- Não gosto dessa atitude, é tudo por causa da miúda?

- Não! Eu não tenho nada a ver com quem falas ou encostas.

- É verdade, mas pelos vistos não corresponde à tua forma de agir.

A minha pouca energia estava a esgotar-se.

- O que queres dizer?

- Que tu me odiavas mas ultimamente não tem sido bem assim. 

- Isso é o que tu achas. Nós apenas ficámos naquela noite e porque eu não estava em mim, não interessa o que penses que aconteceu, esta é a verdade e eu só quero começar bem o ano por isso podes deixar-me passar?

Incrível como a sua expressão se mantinha inalterável e a postura inquebrável, parecia que fazia tudo aquilo para me tirar do sério como se se trata-se tudo de uma espécie de jogo e o que mais me irritava era que eu própria começava a acreditar que era mais transparente do que imaginava.

Ele retirou o braço bem devagar e eu agarrei a mala que tinha deixado cair no chão e atravessei o corredor, no vidro em frente observei-o afastar-se para o lado oposto e por mais  irritada que estivesse tinha uma estúpida curiosidade de saber onde ele ia se o anfiteatro era para o outro lado e afinal porque é que ele me seguiu?  

Que merda, porque é que eu queria saber? Eu tinha acabado de o afastar e agora ia atrás para saber onde ele ia? Que é que estou a fazer? Ia repetindo para mim mesma ao longo do corredor oposto.

De repente apanho um dos maiores sustos da minha vida.

- Posso saber porque me estás a seguir agora?

- O anfiteatro é do outro lado... Pensei que poderias fazer uso dessa informação.

Não o olhei e mantive-me no modo... amuada? Será a melhor palavra? 

- Eu sei.

A voz serena e o olhar dele deixava-me super desconfortável... Parva! Porque voltas-te para trás?!

- OK, então.

Virei para me ir embora mas eu não queria e então tive a excelente ideia de pensar noutras coisas , como Evan, como ele estaria e quando voltaria a encontrá-lo...

Quando cheguei no Anfiteatro, fui informada que afinal estavam todos no pavilhão e que estava bem atrasada ( pois a segunda parte era dispensável, tinha a noção disso!), mas sendo assim Dilan não sabia onde era e mesmo sabendo porque é que ele não veio para cá? 

Sentei-me num banco, convencida que não valia a pena ir para o pavilhão agora e tinha de esperar Elona para depois irmos juntas para a primeira aula.

- Não devias estar a apanhar a maior seca a contar as intermináveis horas até o discurso do diretor acabar?

- Supostamente.

Sorri quando vi aquela faceta alegre transparecer e ele aproximou-se e beijou-me a face.

-Eu também escapei, é o meu ultimo ano por isso tenho algum privilégio.

- Qualquer um pode faltar.

- Sim, incrível como nem todos o fazem.

- O director precisa de plateia...

Evan sorriu, era tão mais confortável e parecia tão fácil falar com ele, sem qualquer embaraço, e realmente era o seu ultimo ano aqui e senti pena de só agora nos estarmos a dar tão bem. Ao contrário de um certo demónio, Evan era super simpático e era o total oposto de Dilan, visto que era louro, olhos claros e até a sua roupa era clara mas do mesmo estilo de Dilan, ambos altos e porque é que continuo a fazer estas comparações visto que ele está a falar e eu já nem estou a escutar!

- ...e como vês as minhas férias foram mais trabalho do que descanso, mas o que interessa é que a banda está a fazer sucesso.

- Isso é muito bom! Estou muito feliz por ti.

Ele tem uma banda?!

- Daqui a nada vai tocar, tenho de ir ao cacifo, deixei lá uma senas... Vens comigo?

- Claro.

Descemos até ao bar e do outro lado, numa zona mais isolada onde apenas tinha um banco e alguns cacifos, estavam dois indivíduos a comerem-se, ela sobre ele ( pelo que eu conseguia observar ao longe) e Evan passou sem dar qualquer importância mas eu fiquei chocada porque aquele rapaz que tinha a língua na boca da miúda (Rachel já agora) era sem mais nem menos o meu demónio.












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