Capítulo 15

19 3 0
                                    

Evan veio atrás de mim e abraçou-me e eu aceitei o abraço mas senti revolta pela necessidade desse abraço.

- Eu não sei o que ele tem contigo ou tu com ele mas ele não te merece miúda.

- Eu sei, eu só...

Como explicas algo que não tens claro em ti? Talvez eu não estivesse tão bêbada naquela noite e os sentimentos fossem mais fortes em mim do que nele e talvez eu goste da sua estúpida forma de estar ali, de me provocar e talvez eu ( de certeza) seja estúpida por sentir-me deste modo mas não consigo evitar. Tive todas as aulas mas eu não estava lá ( quando me comecei a importar tanto com estas coisas?). Elona perguntou o que se passava mas apenas disse que estava bem e foi suficiente. Ele estava no meu ano mas noutra turma e eu evitei cruzar-me com ele pois uma coisa estava clara: Eu não preciso disto, tenho muito com que me preocupar, pessoas precisam de mim e não tenho tempo ou força para passar por isto!

- O que estás a fazer ai nesse canto sozinha?

- A escrever... Desculpa tinhas-me chamado?

- Yah mas não tem problema, já não te via desde a festa. Onde está Elona?

- No bar acho...

- OK boa escrita.

 - Obrigada Kylei.

Lembro-me de conhecer Kylei nas férias, Elona apresentou-ma, ela sempre foi louca e sem qualquer noção de realidade e eu ás vezes dou comigo a relacionar-me neste modo de ser, visto que constantemente me perco entre a minha escrita e o que vejo nos filmes e a realidade.

Sem dar por isso parei de escrever e comecei a desenhar, uma face demasiado perfeita, cabelo escuro e olhos escuros... Parei mal o toque soou.

- Liv não vens?

- Vou!

Peguei as coisas e deitei o desenho fora.

( Aulas decorreram...)

Entrei no autocarro e sentei-me nos primeiros lugares (para variar) com os fones postos, não o vi entrar, mas também não queria saber! Então porque continuei a olhar a porta? Patética ( era o que a minha consciência me chamava).

Adormeci no caminho até um solavanco me fazer despertar.

- Estamos a chegar.

Levantei-me e olhei os lábios por onde saíram as palavras e depois vi a quem pertenciam e senti repulsa, afastei-me automaticamente para o olhar com espanto. Estava sentada no autocarro que tinha acabado de parar, deitava no seu colo e ele agia como se não fosse nada de mal, mas eu não achava o mesmo, pois antes de mim quem tinha estado sentada nele foi Rachel que estava lá atrás a olhar e eu tinha dito para mim mesma que me manteria afastada e ia cumpri-lo.

- O que fazes aqui?

- Como assim?

- Porque é que eu estava deitada sobre ti?

- Porque adormeces-te.

- Mas tu não estavas aqui...

Estava confusa e o melhor era sair antes que ele ( ou eu) fizesse mais alguma coisa estúpida. Peguei a mala, levantei-me e esperei que ele se afasta-se para eu passar mas ele não o fez por isso passei por cima e quase cai de volta no seu colo e ele agarrou-me e levei com olhares de raiva lá de trás. Ele saiu logo atrás com a irmã no encalço. Ouvi-o chamar-me.

- Espera Lív!

Continuei a andar mais rápido, que se passa com os meus olhos hoje? Parece que está a ocorrer uma tempestade dentro de mim e as nuvens são os meus olhos. Quando ele me agarrou, sucumbi.

- Deixa-me em paz!

- Eu sei o que viste, ela é que me beijou por causa do gajo que estava contigo.

- Claro, e tu não te importas-te nada! Mas sabes com os olhares que ela me mandou não me parece que fosse só por isso.

- Pois não, mas tu nem tens nada a ver com isso.

Realmente era verdade, eu não tinha nada a ver com isso, virei-me para limpar a porcaria da cara pois devia estar nojenta.

- Porque é que achas que me estás a falar assim?

Não respondi, detestava perguntas que eu não sabia ( ou não queria) responder.

- Porque é que achas que tens essa vontade de verter as lágrimas...

A sua aproximação pôs-me mais nervosa, a única coisa que tinha acontecido desde que conhecera este rapaz que alegava conhecer-me à mais tempo do que me estava na memória, ele só tinha me baralhado os pensamentos e complicado os sentimentos.

- Se quiseres fazer algo, faz.

- Quero ir embora.

- Duvido.

Aproximou-se e baixou-se de forma a ficar-mos face a face.

- O que é que tu queres? Sê sincera alguma vez...

Algumas lágrimas tinham realmente caído, eu sabia o que queria e infelizmente ele também, mas eu jamais o faria e expliquei-lhe isso mesmo.

- Eu não preciso disto, nem tudo o que queremos nos fará bem e tu és tóxico para mim.

Os seus braços rodeavam o meu corpo a certo ponto e a sua expressão estava séria.

- Eu queria provar o meu ponto.

- E conseguiste?

- Eu disse-te mas tu não querias ver, tive de ser mais brusco.

- Metes-te com ela só para provar isso? Quão infantil e estúpido mesmo! Usaste-a e usaste-me e para quê? Para te divertires? Não tens mesmo mais nada que te satisfaça?

Uma pausa, mais lágrimas ( que raiva, não as consigo impedir de descer), mesma expressão séria e os lábios dele descem a face vira de forma a tocarem os meus de um modo perfeito, os meus lábios molhados de água salgada e os dele frios mas quentes do mesmo modo. No fim um sussurro.

- Não no momento.


Estranhos pensamentosOnde histórias criam vida. Descubra agora