Capítulo 3

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Elona é a minha melhor amiga, se acho o meu nome mau nem vamos falar do dela apesar de ela decretar que adora o seu nome. O que sempre adorei nos pais dela (além do maravilhoso sentido para nomes) é que ela tem passe livre para dar grandes festas, tipo festas de pijama e de piscina cheias... Falo disto porque ela convidou-me para uma este fim de semana, estou a contar os minutos...

Hoje resolvi falar no meu blog sobre algo que sempre evitei falar até à morte da minha avó paterna, perdas. Não fiz anotações sobre isto porque não ficaria bem feito desta forma arranjada, acho que entenderão melhor dito de coração, mesmo que seja de um de gelo.  

Porque me fecho e tenho tanta dificuldade em dizer o que sinto eu não sei, mas sei que sou fria e egoísta, e para vos convencer disso vou contar uma história: 

Sempre agi de forma diferente, para com os meus pais, para com os meus amigos e para com os meus avós e outros... Talvez por querer que todos tivessem uma boa imagem de mim, todos gostassem de mim, mas então descobri que isso não é possível e que muitas pessoas não iriam gostar da minha verdadeira pessoa e não lhes guardo rancor, no fundo eu sei quem sou, sei que não sou a boa menina que gostava que a minha avó tivesse orgulho...

A minha avó paterna morreu à 42 dias e enquanto esteve no hospital eu não a visitei e podem ter a certeza que lágrimas caem agora sobre este teclado, serão apenas lágrimas de crocodilo? Lágrimas de alguém tão egoísta que não visitou a própria avó no hospital, alguém tão preocupado com o que os outros pensam, alguém tão...

O que importa é que ela sofreu muito e eu sabia que ela estava a sofrer, a doença corroía e matava pouco a pouco, eu tinha medo de entrar no hospital e vê-la daquela forma, talvez porque me abituei ao seu sorriso e sempre pensei que a avó nunca morreria, era impossível, ela era minha avó, ela estava sempre lá, ela nunca iria embora, o cheiro e o abraço, o riso alto e forte e toda a solidão após a perda. Chuva caiu nesse dia, era o aniversário da minha mãe.

- Hey Liv posso entrar?

- Lo não estavas a preparar tudo para a festa na piscina?

- Estava e estou, preciso de...

Aquele momento em que estás com cara de monstra e estúpidas lágrimas nos olhos e a tua amiga invade o quarto e faz a cara de preocupada e tens de arranjar explicação para estares a chorar feita ranhosa...

- Antes que perguntes, estou óptima, vou lá ter a tua casa.

- Ok.

A Lo não é dessa amigas, ela sabe que se eu quiser falar eu não falarei de qualquer forma, a verdade é que nós desabafamos muito uma com a outra, mas eu sou difícil demais, acho que se estivesse em interrogatório teriam de me bater para falar, é estúpido pensam vocês mas eu sou mesmo assim, o que leva-nos à questão principal: Porque não fui realmente ver a minha avó? Porque era inconveniente? Sou assim fria e calculista? Porque não me apeteceu? Gosto de pensar que queria recorda-la como antes, a sorrir, sem dor, feliz...

Escrevi isso na página aberta e acrescentei logo após...

Lembro-me de o meu pai dizer do nada que ela iria viver mais ou menos 15 dias e é como se a realidade me bate-se com toda a força, como se essa coisa impossível se torna-se real e eu só agora visse, chorei muito mesmo, sozinha, fechada no escritório.

Como doeu ouvir aquele telefone tocar e o meu pai atender, o silêncio de querer saber e ao mesmo tempo não querer, ele desligou e não me lembro das suas palavras certas, mas foi algo vago e doloroso da mesma forma. A minha mãe abraçou-o e eu corri para o meu refugiu e não sai até de manhã...





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