Encarei suas orbes trêmulas. Ou era o que me parecia.
Zeno não sorria. Tampouco parecia nervoso. Para ser sincera, nunca vi um homem parecer tão inexpressivo depois de dizer que ama outra pessoa mais do que ama si mesmo. Tentei, nos poucos minutos de tempo que tive para raciocinar, decifrar qualquer mensagem que conseguisse de seus olhos, mas eles estavam acostumados a se fechar do mundo. Zeno estava acostumado a não demonstrar seu amor por alguém, por isso provavelmente fazia o momento parecer como outro qualquer.
Como se fosse fácil dizer para alguém que a ama.
Alguém que conheceu a pouco mais de um mês.
- O que você quer de mim? – perguntei, enfraquecida. Para ser sincera, estou cansada de tentar decifrá-lo, porque acabei percebendo que ao seu lado, tento ser uma mulher diferente de quem sou. Percebi que gosto de ser difícil ao mesmo tempo que odeio enrolação.
- Eu quero somente o que você pode me dar.
- Por que você faz isso? – perguntei, enquanto continuava tentando descobrir o que havia por detrás daqueles olhos azuis. Por uma fração de segundo, pensei em perguntar se ele havia voltado às drogas, mas acho que sou eu quem estou alucinada. Ele acabou de dizer que me ama e ainda assim não consigo processar a maldita mensagem.
Zeno suspirou; sua primeira reação mostrando ser um ser humano. Resmungou algumas palavras e então me deu as costas, bagunçando seus cabelos. Abri a boca para lhe dizer algo, mas eu já havia estragado tudo. Agora sim estou sendo eu mesma. A garota que estraga tudo, principalmente sua própria vida.
- Se você não quer o meu coração, basta esmaga-lo com suas unhas. – ele disse, de costas para mim. Fiz uma careta, ouvindo o que parecia ser uma parte de uma música. – Parece que eu vim tarde demais. – murmurou, movendo sua mão direita para algum ponto próximo ao ombro.
- Você está compondo? – questionei, confusa.
- Não! – ele gritou, derrubando alguns copos de aço que eu empilhei pela manhã para lavá-los depois do expediente. – Eu não disse que estou sendo Albert, droga!
Dei um sobressalto para trás, com o susto. Com uma simples ação, Zeno estava ofegante. Ele não me olhava diretamente nos olhos, mas estava com sua atenção virada para mim.
- Você disse que quer saber sobre Albert, não Zeno, então por que diabos você volta com Zeno na história? – ele disse, finalmente voltando o contato de seus olhos nos meus.
Ele estava magoado. Vi ali, no meio daquelas orbes, a tristeza de não estar sendo levado a sério. Como fazem seus colegas de banda, provavelmente. Como faz seu empresário ou a produtora que cuida de seus álbuns. Por um curto tempo, vi seu corpo mais forte, apesar de ainda continuar magricela, sair pela porta e eu nunca mais ver o brilho da galáxia de seus olhos escuros. Aquilo, por mais estranho que possa parecer, deixou meu corpo irrequieto.
Sem tomar conta de meus pés, caminhei até ele, que arqueado para frente pela raiva não viu me aproximar e passar meus braços ao redor de sua cintura, prendendo-o em um abraço e encostando meus lábios nos seus, em um protótipo de beijo.
- Eu acho que sou tão incompreensiva quanto você. – disse, ainda com nossos lábios grudados.
Senti mais uma vez meu rosto ser preso por suas mãos de pele seca. Zeno abaixou seu rosto até a altura do meu com um sorriso sereno, como se nada tivesse acabado de acontecer, e então disse:
![](https://img.wattpad.com/cover/40930451-288-k954649.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Chain Reaction
RomanceFama, dinheiro, poder e toda a abundância que uma celebridade merece receber pelos seus esforços e a disposição em transformar sua própria vida em uma série de TV. Queen Bardot nunca quis nada disso, mas vê seus planos de ter uma vida comum longe da...