Capítulo 10

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A semana que passou foi incrivelmente tediosa. Como quando você é levada à costureira pela mãe, para fazer uma correção aqui ou ali naquele vestido que ela escolheu para você usar na noite de natal; elas falam como se nunca tivessem alguém com quem conversar e tudo o que você pode fazer é torcer para a costureira não esquecer que você não é boneca e te dar uma bela alfinetada, e sua mãe não ter tanto assunto em comum para discutir.

No trabalho, as coisas foram como sempre foi. Talvez seja por isso que as pessoas menos sociáveis tenham menos o que falar. Com um cotidiano controlado pela agenda do serviço, você não faz nada de novo senão decidir o que irá almoçar (isso se não precisar do horário do almoço para terminar algum afazer). A diferença na minha vida, é que tenho uma amiga chamada Melanie, que acha que todo dia é uma sexta-feira.

- Sabe, às vezes eu acho que se não fosse por mim, você não teria uma vida, B. – ela disse.

Nós caminhávamos na sexta-feira depois que Mel me convenceu a comermos alguma coisa fora, ao invés de pedir o frango com tangerina do restaurante chinês. Eu estava mesmo com uma vontade maior de caminhar pela rua à noite e ver o movimento dos turistas passeando mesmo com o calor da possível heat wave que chegará na cidade em breve.

- Você acha? – pergunto, rindo.

- Escuta, você se importa se antes passarmos na gravadora onde o Kellan trabalha? Ele quer que eu vá amanhã até Nova Jersey para comprar alguns móveis para seu apartamento. Eu pediria para você vir junto, mas Morgan viu uma oportunidade nessa pequena viagem de fugir um pouco do estúdio. Parece que Zeno está dando bastante trabalho para eles.

- Eles sempre dizem isso. – falei, chateada pelos integrantes que nunca fazem nada senão tocar, reclamarem do excesso de trabalho. Compor não é o mais difícil?

- Eu não digo nada. – Mel ergueu seus ombros. – Morgan fica tão cansado que para mim é ótimo. Você sabe que eu gosto de ficar por cima durante o sexo. E por cima dele em específico é algo! Morgan sempre gosta de bancar o machão; às vezes é irritante, mas chega a ser engraçado, porque ele também não quer me ofender com o papo de bonzão dele.

- Ele está pensando no que falar antes de dizer a você? Caramba...

- Não é? – ela me olhou, estupefata. – No começo eu achei que era charminho, que logo as coisas mudariam, porque nem a Oprah soube lidar com as respostas agressivas dele. Mas pra mim é como tirar doce de criança. Se ele fala uma coisa excessivamente machista, mostro para ele o que seria da vida dele sem mulher. O maior escroto. E ainda assim eu gosto dele. Sou mais idiota ainda.

- Bem, ele está mudando por você. Não é fácil você ser acostumado a ter a palavra e as pessoas fazendo tudo por ti, e do além, ter de ceder para o tipo de pessoa que você disse nunca obedecer.

- É, ele está sendo um bom menino. – ela brincou, rindo. – Minhas recompensas costumam ser muito boas, por isso, para ele, vale a pena.

- Enquanto for assim, é bom. Vocês dois sentem que ganham. Apesar de às vezes eu desconfiar quem está se saindo melhor.

- Amiga, nós sempre temos de fazê-los achar que estão ganhando. Mas é como em casa, não é? A última voz sempre é da nossa mãe.

Ouvir Melanie falar sobre a mulher ser melhor que o homem é hábito antigo para mim. Apesar dela sempre falar que não gosta que seus parceiros fiquem mandando nela, esse comportamento é assim com todo mundo. Nem sua mãe conseguia convencê-la de fazer o que queria, que dirá qualquer outra pessoa. É por isso que gosto dela. Minha amiga gosta de ser independente e não se preocupa de perder contato com alguém porque sabe que outras pessoas virão até si no futuro.

Chain ReactionOnde histórias criam vida. Descubra agora