Capítulo VII

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Elisabeth:

- Thiago! – gritei desesperada, perdida na escuridão.

- Ele não pode te proteger de mim. – respondeu uma voz. Eu a conhecia, mas de onde?

- Onde estão mamãe, papai e vovó? O que fez com eles? – gritei para o nada.

- Eu? Mas não fiz nada a eles, foi você quem os perdeu. Você não serve nem mesmo para disfarçar o que sente. Você os perdeu porque é burra e ingênua. – respondeu a voz familiar, novamente.

- Não! – berrei, caindo de joelhos e abraçando meu próprio corpo. – Não foi culpa minha!

- Mas é claro que foi, você deveria ter se escondido, não se explorado, e como sempre, a curiosidade matou o gato, não é mesmo? – a voz respondeu, me despedaçando com a culpa que me negava a sentir. Mas agora eu sei a quem pertence a voz. Era aquele que me amaldiçoou, que está a frente desse lugar, o meu pior pesadelo. Folger. A voz escolhida por minha consciência homicida. Se escondendo atrás da minha culpa, que, por sua vez, não tinha voz, não tinha opinião, não tinha autonomia.

- Cale-se! – disse, sufocada. – Seu monstro maldito, me deixe em paz!
E nada mais se ouviu. De repente surgiram a minha volta, uma de cada vez, imagem das pessoas que amo, minha mãe, meu pai, minha avó, minha amiga, Verônica, e por fim Thiago. Todas eram imagens de lembranças felizes que tinha com cada um. Me levantei e estendi uma mão para tocar o rosto de meu amado, que sorria, convidativo, mas assim que as pontas de meus dedos tocaram a imagem, esta, e todas as outras, se esfacelaram, ficando em pedaços.

Desesperada, joguei-me sobre os cacos, apoiando-me nas mãos e nos joelhos. Senti cada pequenino caco estrar em minha pele e gritei de dor e agonia.

- Isso e tudo o que você tem agora! – as vozes de todos eles falavam em coro, vindas das sombras. – Você não tem lar, amor, amizade, nada! Você nos perdeu, Elisabeth, todos nós. A culpa é sua! Sua! Sua! ... -  repetiam, interminavelmente, enquanto eu tentava em vão tapar os ouvidos com as mãos feridas e ensanguentadas, gritando contra o vento que surgira como se as vozes me rodeassem.

Acordei com meu próprio grito, assustada, suada e abatida. Meus membros tremiam, eu ofegava, e olhava minhas mãos e joelhos em busca de sangue e feridas, mas não havia nada lá.

- Foi só um sonho, garota. – ouvi uma voz vinda da parede aos pés da cama. Olhei na mesma direção e vi uma sombra sentada em uma cadeira. Meu coração acelerou-se ainda mais, temendo não estar acordada e sim prestes a sofrer ainda mais. A sombra levantou-se e veio em minha direção. Meus olhos se encheram de lágrimas com medo do que teria de enfrentar agora, mas ela passou por mim, estendeu a mão para a escrivaninha e acendeu o abajur. Meu coração acelerado quase parou ao ver Quelan, o homem que apaga memórias, me encarando, mas voltou a se acelerar ao lembrar que estava sozinha num quarto com aquele homem, que agora me encarava. Eu realmente não sabia o que pensar dele desde o incidente. Ele, afinal, era bom ou mau?

- O que faz em meu quarto? – perguntei, sem conseguir disfarçar a voz trêmula.

- Eu precisava falar com você, mas não é boa hora, então, se quiser ficar sozinha, saio agora mesmo e não volto até que você esteja melhor.
Considerei a proposta, ele parecia sincero, mas eu sabia que se ficasse sozinha, não suportaria a dor. Não dessa vez. Eu não tinha mais nada no mundo para me salvar dela.

- Por favor, fique. – pedi, sentando-me na cama e abraçando as pernas. – Nem precisa ficar perto de mim, mas fique, pode falar a que veio, mas não vá. – continuei, com a voz abafada, a cabeça baixa, na expectativa de segurar ou esconder o meu choro angustiado, mas silencioso.

Esta Sou Eu Sem Você: InstintosOnde histórias criam vida. Descubra agora