Capítulo III

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Na ambulância:

A avó de Elisabeth segurava suas mãos, enquanto orava baixinho, repetindo inabalável:

- Oh Deus, por favor, proteja minha pequena. Não tire ela de nós, ela é o que temos de mais precioso nesse mundo!

A pobre senhora mantinha os olhos fechados, repetindo seu mantra e com lágrimas desenfreadas correndo por sua face, levemente enrugada. Tinha medo de olhar a figura pálida e inconsciente que era sua neta, deitada na maca. Os bombeiros que vieram para o resgate iam de um lado para o outro da menina, tanto quanto o espaço permitia, prestando os primeiros socorros.

A ambulância navegava pelo trânsito, com a sirene ligada, o mais veloz que podia.

- O que é que vocês fizeram a essa menina? – perguntou um dos bombeiros, estupefato pela situação de Elisabeth, que definhou diante dos olhos da família.

Finalmente, levantando a cabeça e abrindo os olhos, mas tomando cuidado para não olhar a neta, Ester parou suas orações para dizer:

- Por favor, não deixe que nada aconteça a ela. Fomos tão... Ah, Jesus! Nós não percebemos, moço. Ela fica sozinha durante todo o dia após a escola. Ela se mostrava estar bem. Nós não... nós não... – e começou a soluçar sem mais conseguir completar suas frases. Seu desespero era quase a prova de seu apreço e amor pela jovem. E os bombeiros se calaram perante aquilo.

Horas depois.

Elisabeth

Vozes. Porque não param de falar? Estou com tanto sono, não quero acordar ainda.

Tentei abrir a boca para pedir que me deixassem dormir, mas de tão seca que ela estava mal consegui descolar os lábios e tudo o que pude fazer fora soltar um gemido que chamou a atenção de quem estava falando sem parar.

Ótimo, se ligaram, vão calar a boca.

Satisfeita com o silêncio, tentei virar-me de lado na cama para ficar mais confortável, mas meu corpo dormente formigou com o movimento e meus músculos que pareciam estar parados há um bom tempo, espalharam aquela dor cortante familiar de quando você senta em cima de um membro e corta sua circulação sanguínea por certo período. Isso no corpo todo chega a ser alucinante. Parei de me mover, porém, o formigamento não cessou por completo.

Abri os olhos, assustada, me deparando com um teto branco de um lugar bem iluminado, virei um pouco a cabeça - que latejou a ponto de me fazer perder o ar - para os lados e para cima, só para perceber que não estava em meu quarto, mas sim num leito de hospital. Como eu vim parar aqui? De repente, minha mãe, meu pai e minha avó surgiram no meu campo de visão, vindos de algum canto da sala.

- Filha? – minha mãe chamou, com certeza, percebendo minha confusão. Olhei para ela. – Como você se sente, querida?

Fiz força para abrir a boca outra vez, mas comecei a tossir e uma enfermeira surgiu vinda da mesma direção que minha família, e ajudou-me a sentar e beber um pouco de água. Lhe dei um sorriso em agradecimento, mas ela deve ter visto somente uma cara de doente distorcida.

- Obrigada. – sussurrei com a voz falha. – Estou bem, mas por que estou aqui?

- Você desmaiou – minha avó respondeu por ela, que saiu da sala, provavelmente para nos dar privacidade. – na porta da frente. Eu ouvi o barulho e quando saí você estava lá caída, Lisa. – ela parecia muito abalada. Seus olhos estavam vermelhos, o que indicava que chorou muito.

- Mas por que esses fios ligados a mim se só desmaiei? E por que meu corpo está formigando tanto?

- Elisabeth, - começou meu pai, contido e sério. – você está com um caso grave de desnutrição e anemia. Como pôde passar cinco dias sem comer direito e fazendo tanto esforço? Seu sangue está fraco e seus músculos estão sentindo a falta dele correndo, por isso estão formigando e doloridos. Por isso, também, você está recebendo soro em um braço e sangue da sua tia no outro. Ela era a única compatível.

Esta Sou Eu Sem Você: InstintosOnde histórias criam vida. Descubra agora