Elisabeth:
- Ah! - solto o ar pela boca quando a água do chuveiro começa a cair pelo meu corpo, totalmente extasiada. Pego o shampoo como se fosse um tesouro e massageio meu couro cabeludo, fazendo espuma. Só posso ter enlouquecido pela culpa para ficar naquele buraco escuro, fedendo e usando um penico.
O sabonete parece um presente divino quando começa a limpar minha pele, e eu não quero mais sair dali, viver na sujeira me fez ver o quanto amo um bom banho.
Saio enrolada na toalha, e me arrependo imediatamente, assim que percebo que a porta vermelha do anexo está aberta e ele está me encarando.
Quelan cuidou de mim durante os últimos três dias, me dando analgésicos, trocando os curativos, me ajudando em tudo, desde comer até a caminhar ao banheiro - claro que ele não me ajudava no banho nem a usar o banheiro, não sou tão inútil assim - e tudo isso evitando ao máximo o contato com a minha pele extremamente perigosa. Agora, felizmente, ela já voltou ao normal.
Nos aproximamos nesse meio tempo, tivemos um mal começo, mas agora aceitamos que nenhum de nós foi realmente culpado. Ele é totalmente o oposto do que demonstrava ser, mas, mesmo assim, espero uma cantada de mau gosto, uma piadinha, algum comentário infame a qualquer momento, porém, ele não faz nada além de se levantar e dizer:
- Avise quando terminar. - fechando a porta em seguida.
Fico parada por um tempo, olhando para aquele vermelho intenso e pensando se eu não sou mais atraente agora que a ligação se foi, ou se ele na verdade é esse cara gentil e com semancol que vem se mostrando. Sacudo a cabeça, rindo de mim mesma. Por que ligo para isso?
Assim que me visto e penteio os cabelos, bato na porta e entro em seu quarto. Ele estava de frente para a janela, virou-se para mim e deu um sorriso contido, tímido. Puxou a cadeira da sua escrivaninha e pediu que eu pegasse a da minha também, para que pudéssemos conversar. Engoli em seco enquanto me sentava a sua frente. É claro que estávamos muito mais próximos, mas é a primeira vez que temos uma conversa realmente séria sobre isso, sempre que começava a pedir desculpas pelo que fiz, ele me interrompia dizendo que eu estava fraca demais e deveria poupar minhas energias por enquanto, como se não quisesse ouvir o que eu tinha a dizer.
- Me desculpe, por favor! - pedi, antes de qualquer coisa. Se ele me interromper de novo lhe arranco os olhos! - Eu não queria te machucar desse jeito...
- Você perdeu o controle, não foi? - ele me interrompe, porém não muda de assunto. Respiro fundo e continuo:
- A princípio sim, mas depois, quando recobrei a consciência, não consegui mais devolver tudo aquilo às pessoas lá fora. Elas desapareceram, de repente, e eu não consegui segurar, daí explodi e você recebeu a carga toda. Eu sinto muito. - explico-me, e ele me encara por um momento, antes de dar um tapa em sua testa.
- Droga, então você ia conseguir. Eu achei que você não ia conseguir fazer isso e fechei a janela. Era a única coisa aberta no quarto, era através dela que você estava conseguindo se ligar às pessoas lá fora. Foi tudo por minha culpa mesmo. Caramba. - sacode a cabeça, rindo. E voltando a ficar sério em seguida. - Sou eu que sente muito por duvidar de você, mentir e acabar com tudo o que você tinha. - diz, segurando minhas mãos, e finalmente são desculpas sinceras.
- Está tudo bem, agora eu sei que isso não foi culpa sua, não tem porque se desculpar. - digo, ainda encarando suas mãos.
- O que quer dizer? É claro que é culpa minha, eu apaguei as mentes deles. - retruca, murcho.
- Mas não foi porque você é ruim ou nada disso, você precisava obedecer a ela. Confia nela. - tento me lembrar de nossa conversa, Daphine não me impediu de contar a ele, nada me impede de tirar esse peso de suas costas.
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Esta Sou Eu Sem Você: Instintos
General FictionVocê deixaria que te dominassem? Que controlassem sua vida? Que arrancassem de seus braços aquele que ama? Tudo se tratava de amor, até que um destino cruel o arrancou de Elisabeth, e um coração partido foi tudo o que lhe restou após a morte daquele...