Capítulo XIV (Parte 2)

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Quelan:

Passei a noite em claro, formulando cada detalhe do plano e pensando no que aconteceu comigo. Antes dela, do amor platônico, eu era endurecido, amargurado e totalmente fechado e é claro que ainda sou assim, esse sou eu! Cheio de traumas e rancor, mas depois de saber que alguém nesse mundo, realmente se importa comigo, confesso, não quero perdê-la jamais.

Ela se vira em sua cama, dormindo tranquila, enchendo nossos quartos com essa paz, enquanto escrevo o plano numa folha, no ponto cego do meu quarto e depois na banheira, para que não possam ler através das câmeras. Resolvi não falar do plano em voz alta, pois, por mais que as câmeras dos quartos não possuam áudio, agora sei que há certas pessoas por aqui que dariam tudo para me ver cair.

Assim que Lis acorda, entrego-lhe a folha com o plano, aviso para ler no banho e que o colocaremos em prática assim que ela sair, para que ela possa ver sua família o quanto antes. Ela não para de sorrir, e por mais que eu goste disso, torço para que ela seja uma boa atriz.

Ela sai do banheiro alguns minutos depois, vestindo um roupão, eu me encosto no batente da porta de acesso:

- Preparada? - sussurro, tão baixo que duvido que tenha escutado até que pisca para mim, dando um aceno de cabeça quase imperceptível. Me aproximo e, quando estou a apenas alguns poucos centímetros de distância, ela se vira, com uma expressão de incomodo tão bem feita, que acredito ser real. Chego mais perto ainda, e ela recua até ser freada pela cama, avanço para beijá-la, sou rápido demais e ela não tem tempo de me dar o tapa antes que nossos lábios se unam.

Ambos ficamos em choque, e posso jurar que ela começou a retribuir o beijo quando sinto suas mãos nos meu peito e ela me empurra com toda força. Ela começa a chorar, ainda parada no mesmo lugar, e ódio é o que vem a seguir. Está dando errado, não deveria haver nada além de fingimento, e cá estamos nós com um falso ataque que na verdade aconteceu, e uma falsa revidada que parece estar acontecendo. Me preparo para a dor, mas ela não vem. Sinto o sentimento na sala, mas ele não é lançado em mim, está totalmente concentrado nela, como se jogasse em si mesma. Dou um passo à frente, em sua direção, para tentar ajudar, porém, perderíamos toda a cena. Tem que haver outra saída, outro jeito. E tem!

Caio de joelhos e grito, tão alto que a trago de volta, o ódio desaparece e ela me encara assustada, olho ela nos olhos e sibilo: "continue com o plano". Ela compreende e levanta virando a palma da mão para mim e encenando me castigar por ter sido tão ousado. Assim que abaixa a mão, fico de quatro, ofegante de tanto gritar. Finjo estar com o orgulho ferido enquanto levanto e abro a porta com força.

Sigo pelo corredor, passando pelos outros experimentos, que ouviram o show. Marcos está entre eles, esboçando uma expressão interessada ao invés da assustada que os outros possuem. Continuo minha marcha, pisando firme e bufando, como um touro endiabrado, sem mudar minha atitude nem quando entro no elevador. Mantenho o foco e a postura, entrado sem permissão na sala do monstro.

- Quero que a garota pague! - esbravejo para o homem no centro da sala, cujo o olhar brilha à simples menção de castigo e vingança.

- Posso saber pelo que, número 2? - seu veneno é quase visível, mas escondo a repulsa que me causa ser chamado assim.

- Ela não me quer, não aceita viver entre nós e quase me matou. Eu quero que ela pague! - vocifero e vejo a sombra de um sorriso macabro em seu rosto.

- E o que tem em mente? - pergunta, inclinando-se sobre a mesa, sedento pela única coisa que lhe agrada no mundo: crueldade.

Finjo parar e pensar um pouco, simulo ter uma ideia e imito seu sorriso macabro, respondendo:

- Quero que ela sofra. Quero que veja com os próprios olhos que não tem mais família ou amigos. Que não é nada, assim como nós. Que sou a única escolha que ela tem. - ele esfrega o queixo, ouvindo com atenção. - Quero guardas comigo, para que ela não tenha a menor chance de fugir, e quero isso agora. - espero sua reação, mantendo meu semblante perturbado, e ele solta uma gargalhada.

- Gostei do seu espirito. - para de rir e faz um gesto de dispensa com a mão. - Vá buscá-la e domestique sua parceira. Mandarei seis guardas esperá-los no subsolo, e mais um vai acompanhar os dois até lá em dez minutos. Adoraria ver tudo isso, há uma bela surpresa para ela lá, - ele volta a sorrir e meu sangue gela. Não! Ele não pode estar lá. - mas infelizmente tenho outras pessoas para torturar. - quase suspiro de alivio. Quase. Ele para por um momento, como se lembrasse de algo. - Venha aqui. - diz, e sigo para o espaço ao lado de sua cadeira, levo um tapa no rosto assim que estou perto o bastante. Minha pele pinica, voltando a ter tato e o local arde e dói ao mesmo tempo. Todos os músculos do meu corpo querem desesperadamente revidar, e preciso de toda a minha sanidade para não atendê-los. Ainda não posso fazê-lo pagar. - E nunca mais entre nessa sala sem bater ou tente me dar ordens moleque, ou levará uma bala ao invés de um tapa. Hoje foi salvo por seus bons motivos, mas da próxima vez, não vou ser generoso. - o encaro, possesso, e contra minha vontade, aceno com a cabeça em concordância. - Saia! - ruge, e faço o caminho de volta descontando minha raiva no chão, pisando como se pudesse esmagá-lo.

No elevador, respiro fundo e a ficha cai: deu certo! Antes que eu comece a das pulos de alegria, outro pensamento logo me ocorre: eu a beijei. Ai, droga! Eu a beijei! Ela deve estar querendo me enforcar ou esfolar vivo ou pior, pode achar que foi proposital.

Massageio as têmporas, esperando que isso ajudasse a tirar essa possibilidade da face da terra, mas não funcionou. O elevador parou em nosso andar e segui para o quarto a passos lentos. Não havia mais ninguém no corredor além de um guarda aqui e outro ali. Virei a maçaneta, temendo que ela não quisesse mais me ver, mas quando entro, ela me olha com nada mais que expectativa.

- Deu certo? - pergunta, preocupada.

- Não sorria nem demonstre alegria nenhuma. - soou grave. - mas saímos em dez minutos.

Seus olhos brilham como estrelas e se enchem de lágrimas, ela não mexe um musculo sequer, porém, a sala é preenchida com tamanha de felicidade, que tenho certeza que sufocaria Folger.

- Vou vê-los. - afirma incrédula.

- Conseguimos. - reforço, e por incrível que pareça, o sentimento bom dobra, chegando a um ponto que segurar um sorriso é doloroso.

Mas ainda me parecia que eu havia deixado algo passar.

Olaaaaaaaa pessoas mais lindas desse Wattpad!! Como vão vocês?

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Olaaaaaaaa pessoas mais lindas desse Wattpad!! Como vão vocês?

Cá está a segunda parte do capítulo! Espero que tenham gostando e me digam: o que estão achando dessa nova relação dos dois? Acham que esse beijo vai mudar algo? E o que acham que o Quelan pode ter deixado passar?

Atenciosamente,

D. S. Humans 😄

Esta Sou Eu Sem Você: InstintosOnde histórias criam vida. Descubra agora