Elisabeth:
Alguns minutos se passaram, até que o último casal adentrou a sala, Carla e Jonas, a garota me olhou com curiosidade e engoli em seco, sabendo que era uma telepata e que independente do que Marcos dissera, sobre ela não gostar de invadir a privacidade alheia, ela não deixa de poder fazê-lo. Notando minha apreensão, Quelan se virou para mim e sussurrou um "não se preocupe", se voltou para os outros e pediu silêncio.
- Vamos começar mais um treinamento, todos já comeram? - Todos acenam, positivamente, e de repente, me lembro de que não como desde o café da manhã de ontem e meu estômago revira, faminto. - Peguem seus materiais, sabem o que fazer. - e todos se dirigiram para o anexo. Ele se volta para mim. - Pode ir tomar seu café da manhã agora se quiser, não vai haver ninguém lá para te incomodar. - franzo a testa. Não é Carla quem lê pensamentos? Respiro fundo e relaxo, enquanto o encaro, percebendo que está totalmente alheio ao que penso.
- Tudo bem. - sussurro de cabeça baixa. - Obrigada por isso. Sabe, não me fazer ficar no refeitório com eles assim tão hostis. - indico a direção do anexo com a cabeça e percebo que Marcos nos observa.
- Não há de quê. - diz, dando de ombros com indiferença. - Pode ir para seu quarto quando acabar, levo seu almoço, geralmente como no quarto. - os outros saem do anexo com vários objetos. Quelan se volta para eles, enquanto saio da sala, estranho sua bipolaridade, já que estava, novamente, sendo gentil.
Tomo café da manhã e sigo para o meu quarto, durante todo o caminho examinando os corredores, vendo se há falhas na segurança, algum lugar que possa servir como rota de fuga, mas não há. Eles não arriscariam deixar qualquer um de nós sair.Ao virar no corredor das acomodações, meus olhos se fixam na saída de emergência que fica no fim e resisto ao impulso de correr até ela e tentar abri-la. Um passo em falso e eles tomam consciência do que eu planejo.
Entro em meu quarto e fecho a porta, agindo de forma neutra e natural. Sento na cama e respiro fundo, tentando não pensar no terror que venho passando para não acabar perdendo o controle.
Controle. A palavra me faz pensar em Quelan automaticamente. Ele perdeu o controle hoje, não tenho dúvida alguma, pois, num momento estava lá, como sempre, frio e distante e no outro ele estava demonstrando se importar comigo tão loucamente que parecia um alucinado e então, voltou a ser como antes. Mesmo assim, no treinamento, parecia ainda se importar um pouco, e escondia, mas por quê? Só pode ser a tal ligação científica estranha que faz todos nós andarmos aos casais. A propósito, casais que me odeiam. Respirei fundo. Ele me livrou deles também. Deus! Por quê?
Dobrei os joelhos, colocando os pés em cima da cama e segurei minha cabeça, balançando devagar para frente e para trás para me manter calma, ficar confusa daquele jeito não me fazia bem, mas a ideia de que assim que ele voltasse ao quarto esclareceríamos tudo foi suficiente para que me recuperasse.
Levantei-me e, como de costume, meus olhos se voltaram para a porta de acesso, afinal, era a única cor viva em meio as mortas do quarto. Nem é claro como a neve que isso é intencional. Cruzo os braços.
Não vou entrar no quarto dele. Não mesmo. - Nego mentalmente.
Ando pelo meu quarto, examinando cada canto. Principalmente, o minúsculo banheiro, já que não tive muito tempo para isso pela manhã, ele é inteiramente branco e metálico, como o quarto, com apenas uma escova de dentes, toalhas, e os produtos básicos para a higiene pessoal. Que beleza, vim parar num mosteiro onde não posso ter nada além do extremamente necessário.
- Argh! - grunhi. - Quero meu celular! Meu notebook! Minha vida! - falei alto, irritada. Segurei na borda da pia com tanta força que minhas juntas ficaram esbranquiçadas. Longe de casa, sem amigos, família e amor, parece que a sempre doce, calma e gentil Elisabeth se foi e tudo que restou foi esse ser humano instável. - penso com lágrimas nos olhos.
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Esta Sou Eu Sem Você: Instintos
General FictionVocê deixaria que te dominassem? Que controlassem sua vida? Que arrancassem de seus braços aquele que ama? Tudo se tratava de amor, até que um destino cruel o arrancou de Elisabeth, e um coração partido foi tudo o que lhe restou após a morte daquele...