Capítulo XII

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Elisabeth:

O som da porta se abrindo me acorda e percebo que dormi demais quando a lâmpada se acende e um homem que não conheço abre a porta.

- Olá! – ele cumprimenta, passando pelo batente carregando uma cadeira dobrável e alguns cadernos de capa dura. – Como vai? – pergunta, assim que fecha a porta e começa a sentar-se.

- Bem, hm, quem é você? – questiono, confusa, observando o homem simples, de calça e sapatos marrons e camisa branca sociais, negro, de olhos escuros como os meus e com a cabeça raspada, que começara a abrir seus cadernos e colocar seus óculos, tranquilamente.

- Meu nome é Alfredo, sou o psicólogo deste complexo, é um prazer conhecê-la! – ele sorri e estende a mão, que aperto sem pensar duas vezes e a calmaria que ele possuía, acabou sendo transmitida para mim. – Seu nome é Elisabeth, certo? – questiona e eu assinto. – Bom, fui enviado até aqui por Daphine, ela gostaria que conversássemos um pouco sobre os acontecimentos dos últimos dias, tudo bem. – aceno positivamente. – Então, poderia me dizer o que houve?

Relato a ele todo o ocorrido do meu ponto de vista, sem mencionar, é claro, os motivos reais para ter perdido o controle, informando que apenas me irritei com uma brincadeira de Quelan para com minha família e ele escuta atentamente, fazendo algumas anotações em seu caderno.

- Você sente muito a falta se sua família? – assim que ele profere a pergunta, as lágrimas invadem meus olhos.

- Sinto. – solto, tentando segurar o choro, e a dor, para que ele não sofra comigo. – Eles eram tudo o que eu tinha e foram tirados de mim, Doutor, entende o quanto isso pode doer?

- Sim. – ele diz e me espanto. – Eu perdi minha mãe e meu irmão quando era um pouco mais novo que você, e fui acolhido por alguns parentes. Eles eram minha família, eram tudo o que eu tinha e também os perdi, mas não se deixe abater por isso, como eu não deixei, ou nada do que fizeram por você a vida toda, terá valido a pena. – fico o encarando, suas palavras ecoando em minha mente. – Pense um pouco nisso, tudo bem? Volto para vê-la assim que possível.

- Obrigada! – aceno, realmente grata por tamanha gentileza, mas assim que ele sai, Marcos, como um cão do inferno que fareja uma vítima frágil, aparece com o meu jantar e a representação mais cínica existente de um sorriso inocente.

- Com fome? – pergunta, com uma voz mais melosa que mel.

A presença de alguém nunca me causou tanto enjoo.

- Não muita. – respondo com a voz rouca. Se eu comer com certeza vomito em cima de você. Hm. Pensando bem, vou comer sim. – Mas comida sempre é bem-vinda! – sorrio sem mostrar os dentes, ansiosa para fazê-lo sair correndo, porém, minha força de vontade evapora quando ele coloca a bandeja no chão à minha frente e lá está meu prato favorito: espaguete ao molho branco com pequenos pedacinhos de brócolis.

Eu sei, parece uma gororoba nojenta, mas dou minha palavra de que é uma delícia, nunca imaginei que eles fizessem coisas assim aqui!

- Esse troço foi o que serviram hoje, não sei porquê. Eles sempre nos empurram comida saudável goela abaixo, e do nada, oferecem essa massa com brócolis. Quem é que gosta de brócolis? – diz, fazendo cara de nojo.

- Eu gosto de brócolis, e esse é o meu prato favorito, não sei porque fizeram e nem me interessa, vou comer isso aqui como se fosse minha última refeição. – retruco, olhando meu prato com paixão.

- Bom, então com certeza é o seu presente. – ele responde, parecendo mais com o Marcos que conheci, que adora fornecer informação e, como não digo nada por estar com a boca cheia, levanto uma sobrancelha, curiosa, e ele continua: - Me parece que o Sr. Folger apoia perdas de controle. Quando Jonas explodiu todas as janelas do refeitório, serviram o prato preferido dele também, e ele apareceu, pessoalmente, para lhe dar os parabéns pelo feito. Não tinha entendido nada até agora. – engulo e fico boquiaberta.

Esta Sou Eu Sem Você: InstintosOnde histórias criam vida. Descubra agora