Capítulo X

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Elisabeth:

- Querida, ei! O que foi? - perguntou mamãe, levantando do sofá às pressas, quando me viu verde e suada, apoiada em Thiago, que envolveu um braço meu em volta do pescoço, segurando minha mão do outro lado, e envolvia minha cintura, temendo que eu desmaiasse a qualquer momento, e Bia, que insistiu em vir também.

Minha mãe correu para nós na entrada, com papai e vovó logo atrás. Papai me tomou no colo e correu comigo para o sofá, enquanto mamãe e vovó perguntavam ao meu salvador e namorado e à minha melhor amiga o que havia acontecido.

- Ela viu sangue e ficou assim, foi cinco minutos antes da saída, então eu a trouxe. - ele explicou. Ouvir sua voz era tão reconfortante.

- Era aula de biologia. - Bianca completou.

- Oh, não! - ouvi vovó exclamar.

- Pobrezinha. - agora era mamãe quem falava. E todas correram para mim no sofá, seguidas por ele, o meu amor.

Estavam todos ali a minha volta. Todos aqueles que eu amava, mas, de repente, todos começaram a desaparecer. Tentei levantar e segurá-los, mas algo me sugava para dentro do sofá, que me engoliu como areia movediça, e eu soube que não existia mais para eles.

Abri os olhos e estava deitada numa maca. Para ser mais exata, estava amarrada a ela, presa pelos pulsos e tornozelos. O lugar parecia um quarto de hospital, e eu ainda vestia as roupas com que estava esta manhã, o que me deixou aliviada, a ideia de alguém me despir me causava um temor enorme.

Estava sozinha, até que, poucos minutos depois, enquanto eu ainda estava confusa demais para começar a ficar com raiva, entrara no lugar uma mulher de jaleco, empurrando uma maca onde Quelan estava desacordado.

Ela parou a maca ao lado da minha, ficando de costas para mim, sem olhar ou falar comigo. Quanta falta de educação. Bufei e resolvi ser direta:

- O que aconteceu com ele? - perguntei, e ela continuou calada, sem nem fazer menção de ter me ouvido, ainda ajeitando os equipamentos ligados à ele. Aquilo me irritou, mas mantive o foco. - Com licença? - a chamei, mas ela continuava a me ignorar. Qual o problema dela?

Assim que abri a boca para berrar até que ela me olhasse, como faria uma criança birrenta, a porta se abriu de novo e a mulher que me trouxe a esta prisão entrou por ela, também sem olhar para mim, foi até a enfermeira, pediu que se retirasse e tomou seu lugar ao lado de Quelan, o observando.

- O que aconteceu com ele? - perguntei, baixo dessa vez, sem arrogância, e com uma leve pitada de preocupação, pela sua expressão.

Ela se virou para mim, com um olhar fervente. Senti sua raiva me atingir antes que a lançasse com ainda mais intensidade a mim ao abrir a boca.

- Como tem a audácia de perguntar o que aconteceu com ele, sua peste? - ela silvou, e quase pude ver o veneno escorrer pela sua boca. - Você quase o matou! - explodiu, me fazendo saltar. - Você lhe causou um infarto, sabe lá Deus como, mas foi você, sua desgraçada!

Aquelas palavras me causam um choque instantâneo, olho para ele, desacordado e tomando soro, na maca ao lado, e lembro de querer acabar com ele, mas não queria matá-lo, queria? Lembro de odiá-lo, de sentir muita dor e ficar desesperada, de ter sentido isso nas pessoas lá fora, de puxar para mim, cada vez mais e encher a mim e ao quarto com aquilo, liberando, querendo que ele sentisse tudo o que me causou, porém, logo eu estava cheia demais, sem conseguir suportar tanto, tive um breve momento de lucidez e sabia que não podia fazer aquilo, mas, então, as pessoas sumiram, éramos só nós dois, estávamos isolados e eu não tinha mais como devolver aquilo, e foi aí que a dor foi insuportável. Segurei a cabeça com as mãos com toda a minha força, como se pudesse arrancar a dor que estava lá dentro e gritei, explodindo, como teria sido na noite anterior, e a escuridão me embalou.

Esta Sou Eu Sem Você: InstintosOnde histórias criam vida. Descubra agora