Na minha cama, estava um vestido simples, azul escuro e com renda, brutamontes mas tem bom gosto. Me vesti, calcei uns saltos, caprichei na maquilagem e no perfume. Não conseguia acreditava que o meu pai me tinha vendido assim e eu tinha de ser alguém que eu não queria, passei o tempo trabalhando para entrar na faculdade para ser alguém e como assim? Ele acaba com todos os meus sonhos de uma só vez? Então ganhei coragem peguei no meu celular e liguei para meu pai, chamava, chamava e nada, até que ele atendeu.
— Alô? - Quando ouvi a voz dele do outro lado o meu coração ganhou asas e medo.
— Alô é sua filha, aquela que você vendeu. Aquela que sustentava a sua casa e que agora está no meio e favela, é essa mesmo.
— Me perdoa por favor.
— Perdoar você? Está brincando com a minha cara, não é? Você me vendeu, como fez isso para mim? Sua única filha.
— Me perdoa, você é tudo para mim.
— Então me tira daqui, me vem buscar.
— Não posso filha, agora ele tem sua guarda.
— Minha guarda? Como você pode ser tão idiota ao ponto de dar a minha guarda para um marginal que nem ele?
— Eles iam me matar e aí você ligou e apareceu sua foto no meu celular e ele viu e falou que eu era um merdas mas que fiz uma filha bonita pena que ela ia perder o pai e eu falei que ele podia ficar com você.
— Ficar comigo? Você é doido? Como você me entregou para um favelado? Você tem noção que ele pode me matar? Eu? Numa favela? Está doido?
— Desculpa filha, me perdoa.
— Te perdoa o caralho, vai se fuder seu merda, a mãe está vendo a merda que tu está sendo, como você me fez isso?
— Me perdoa filha, eu estava nervoso e com medo e cedi.
— Cedeu? Então eu espero que você arda no inferno e que morra mas longe de mim. - Desliguei a chamada e desatei a chorar, como meu pai me fez isso? Nada disso acontecia se minha mãe estivesse viva, desde que minha mãe morreu, eu nunca mais fui uma menina normal, sempre cuidando dele, parecia até que a criança era ele, o brutamontes entrou pelo quarto e me tocou no ombro.
— Não chora menina.
— Como eu não vou chorar? Sabendo que pai me vendeu? Como não vou chorar? Desde que minha mãe morreu eu tenho cuidado dele, parei de estudar durante 1 ano para trabalhar para não perder a nossa casa, trabalhava dia e noite sem parar e quando finalmente acabei a escola e entrei na faculdade ele me vende? Eu consegui, passei a vida estudando para ser alguém, minha mãe era advogada e eu sempre quis ser igual a ela e agora que consegui, ele me vende assim? Estava um pé mais próximo da minha mãe e ele me corta as asas assim? Como ele fez isso comigo? Onde eu errei? - Senti um abraço quente e confortador com um doce cheiro do brutamontes e pousei a cabeça no seu peito e chorei como nunca.
— A vida é muito dura, sabe? Toda a gente tem maus momentos na vida ou até demais mas cabe a você mudar isso.
— Eu estou farta de mudar, eu só quero ser uma garota normal, quero ter dramas da cor do meu verniz e não de como vou pagar as contas.
— Agora não tem de se preocupar com isso, aqui a seu único drama é qual que escolher.
— Obrigado. - Abracei ele forte e nesse abraço eu retribuia com carinho e ele não tinha culpa de meu pai ser um merdas.
— Para com essa coisa ai. - Ele falou, o nosso abraço acabo e eu fiquei de costas e ele me empurra pelas costas e me empurrou para fora do quarto, hoje é sexta feira e está um cheiro horrível a fritos aqui na favela, detesto cheiro a frito é horrível. Descemos as escadas e saímos porta fora, ele andava sempre me agarrando pela anca e todo o mundo o cumprimentava, não sabia que um brutamontes poderia ser tão conhecido assim, as meninas me olhavam e lado como se eu quisesse esse brutamontes para alguma coisa, bem que podem ficar com ele, que nem oferecido eu queria ele. Chegamos numa casa, pintada de fresco, bonitinha até, já cheirava a comida grelhada e cerveja.
— Af que cheiro.
— Cheiro de quê?
— De cerveja, que nojo.
— Para de frescura menina, não se fica achando.
— Eu? Me achando? Já viu as meninas daqui? Eu sou um salto alto perto destes pés de chinelo meu amor.
— Cuidado com o que diz, essas meninas daqui metem o pé na sua cara.
— Amor não fala do que não sabe, não pense por não ser favelada e arruaceira que nem essa meninas que não sei me defender.
— Cuidado com ela. - Ele ironizou o que eu disse, entramos no churrasco e todo o mundo ficou nos olhando e um grupo de meninas já está me olhando de lado, essas meninas estão querendo apanhar, estão pensando que são quem?
— Vem para aqui e não arma confusão.
— Eu? Armando confusão? Elas é que estão me olhando de lado.
— Isso é porque você está com o dono do morro, eu.
— Você é dono do morro? Boa.
— Ué, está desdenhado? Olha que o que você não quer, elas querem.
— Então elas que fiquem com você.
— Eu vou só ali, não saí daqui menina.
— Tá bom, vai lá. - Ele saiu dali e logo umas meninas me montaram um círculo em minha volta e eu não falei nada, só me levantei.
— Olha quem ficou sozinha?
— Não aprendeu a não se meter com o homem das outras? Olha a patricinha está se achando.
— Escuta aqui sua pé de chinelo, sua imitação, eu acho que você está falando demais.
— Falando demais? Sabe quem eu sou?
— Sim, sei sim, uma puta que se acha alguém e que não passa de uma vagabunda que enfia os shorts no útero. - Vi as meninas me cercando muito e já eu já estava tirando os meus brincos e a seguir era os meus saltos.
— Parou essa merda toda. - Veio o brutamontes todo nervoso e todas elas pararam e todos param a olhar para ele.
— Essa é para todo o mundo, ela é minha fiel e quem se meter com ela vai levar bala. E olha que eu não estou de brincadeira. - Meu coração subia e descia depressa demais, era um nó no peito, ainda agora já tinha chegado e já ia apanhar.
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A vendida
RomanceMaria Júlia, uma garota de 17 anos que vive com seu pai. Perdeu sua mãe com 14 e desde então vive para pagar as contas, devia ser seu pai mas ele é viciado no jogo. Ele devia para para Luan, o temido dono do morro. Um dia ele ia ajustar contas com...