Capítulo doze - Não me importa!

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– Chega de conversa, vamos embora. - Era impressionante como íamos fingir algo que não éramos, como íamos estar juntos como se fosse tudo lindo e perfeito e como os nossos corações estavam desfeitos, como iam olhar para nós e dizer que éramos um casal falso, que eu era só mais uma e elas não sabem como têm razão, como eu trocaria tudo pela vida delas, mesmo que não tenha nada pelos menos elas têm liberdade e isso é coisa que não tenho, nem sonhos ou coisa que se valha.

Quando saímos porta fora só víamos sorrisos calorosos, dos mais novos aos mais velhos, dos mais simples aos mais estranhos e não falo de beleza, era muito estranho olhar para tudo aquilo, todo aquele fogo para cumprimentar alguém que me roubou tudo tão friamente e sabe a pouco, sabe a muito pouco saber que ele sofre, porque ele nunca sentiu dentro de si uma vida, nunca questionou tudo que existe em prol de uma vida tão inocente, ele não sentiu o que eu senti quando soube que ia ser mamãe, quando eu soube que ia ter alguém para me fazer sorrir, para eu ser tudo que sempre quis, para me dizer: "Gosto de você mamãe.", alguém que fosse parte de mim, alguém que eu soubesse que por muitas pessoas que passassem na sua vida, nenhuma seria melhor do que a sua mãe, do que a sua melhor amiga, quem cuidou em neném, quem trocou a fralda, quem viu seu primeiros passos, sem dormir nas noites em que estava doente, contando os segundos só para ver crescer, esse era o amor que eu ia ter mas deixei de ter, perdi num piscar de olhos.

– Estou nervoso hoje. - Como sempre não respondi, quando é que ele entende que eu não quero falar mais com ele.

– Qual é maju? Como assim você nunca mais vai falar comigo?

– Não temos nada para falar então porque haveria eu de falar com você?

– Desculpa.

– Sua desculpas não trazem de volta o meu filho, o meu bebé, o meu pequeno.

– Ele não era só eu.

– Se você se preocupasse tanto com ele, você nunca me faria o que fez porque enquanto ele esteve na minha barriga, eu era a sua casa e você não quis saber, então quem não quer saber sou eu.

– Quantas vezes vou ter de pedir desculpa para você me desculpar?

– Você pode pedir quantas vezes quiser porque nenhuma vai trazer de voltar meu filho.

– Então pelo menos finge, se não você vai implorar para ter ido o nosso filho.

– Só me fazia um grande fazer, você não sabe que nada do que possa fazer me atinge?

– Tudo bem Maria Júlia como você queira, agora que veio pode pelo menos parar de olhar para mim como se fosse um monstro de sete cabeças?

– E não é?  - Ele respirou fundo e ignorou o que eu lhe disse e eu ainda me pergunto, como é que ele consegue? Ficar assim? Como pode fingir que está tudo bem se não está? Como pode querer que eu o perdoe depois de ele me ter tirado a minha vida inteira? Como é que ele quer que eu esqueça isso? Eu não tinha propósito e ganhei com o meu filho e agora ssem ele, o que é suposto fazer? Do morro não posso sair! Como fico aqui sem nada para eu amar? Sim, porque nesta altura, nem amo mais Luan.
Quem me dera que ele sumisse da minha vida.

– Oi, tudo bem? - Uma moça de cabelos curtos, perfumada, bonita, parecia simples, parecia simpática embora os seus traços mostrassem tristeza mas no final das contas, era baile na famosa favela do Luan.

– Oi, comigo tudo bem e com você ?

– Comigo tudo legal, olha será que te posso fazer uma pergunta? Só responde se quiser.

– Acho que sim, não sei, depende da pergunta. - Sorri amigavelmente talvez eu pudesse mudar a vida de alguém com uma simples resposta, a pergunta parece-me importante pelo nervosismo que ela demonstrava em seu corpo.

– Como você conseguiu? Você sabe ... Superar a perda do seu neném? É que eu não consigo, tento muito mas me atormenta a cada segundo da minha vida. - Estranhava como as notícias se sabiam depressa, eu não tinha contado para ninguém e todo o mundo sabe, pessoas que eu nem sequer sei quem sou, parece que Luan só me sabe meter na boca do povo. – Me desculpa estar a fazer uma pergunta tão pessoal mas eu não consigo encontrar ninguém que esteja passando pelo mesmo que eu, que me possa dizer se o que sinto é natural ou se me custa tanto a mim como a todas as outras pessoas e ainda para mais, meu casamento não é como o seu, todo bonito, eu apanho todo o dia, meu marido mal mete os pés naquela casa, sou usada como empregada de casa, ele trabalha na boca, tenho medo e sinceramente não sei o que fazer... - De repente os seus olhos se abriram em lágrimas, tentava não chorar, limpava cada lágrima que caía como se fosse pecado ou pior, como se não fosse humano mas no fundo entendo ela, quem quereria chorar num dia de festa, afinal hoje é dia de baile, baile que a mim nada diz mas era dia de baile, onde a música combinava com os pecados e com a felicidade, mistura improvável mas acontece sempre.

– Você não esquece, eu acho ... Pelo menos eu não consigo esquecer, tudo me atormenta, tudo me dói, sonhei muito com um momento que me foi tirado assim de repente, sem nada, sem esperar, foi um golpe muito duro.

– Como eu entendo você. - Os sorrisos eram tristes e de repente a música do baile parou, era Luan, ele parou a música e subiu para o palco.

– Como é geral? Tudo bom? Estão gostando do baile? - Todos assobiam e gritam, como podem fazer festa a alguém que matou o meu filho.

– Como vocês sabem, eu estou apaixonado, faz tempo, tenho uma mina na minha vida que dá tudo por mim, caralho! Fiz muita merda e ela nunca me abandonou cara então eu tenho uma coisa para dizer. - O meu coração acelerou, doeu, apertou, ele não pense que pode dizer umas palavras bonitas e mudar tudo aquilo que fez!

– Maju você quer casar comigo?

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⏰ Última atualização: May 29, 2019 ⏰

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