Vista Cay

64 2 0
                                    

Duas semanas se passaram, eu acordei há pouco tempo, 1 hora antes do meu despertador tocar. A ansiedade com certeza me matará um dia.
Depois de ficar um grande espaço de tempo em lugares que não me faziam me sentir acomodada e em casa, finalmente terei meu espaço.

Eu visto minha calça jeans, minha regata cinza, prendo meu cabelo e passo maquiagem. Preciso ficar apresentável para minha nova cidade, mas a tentativa claramente falha.
Minha viagem durará 4 horas da casa de verão até Los Angeles, minha nova casa. Felizmente minhas aulas começarão apenas próxima semana, então eu terei tempo suficiente para me organizar e adaptar à nova rotina.

Com as malas prontas, eu abraço minha tia e "Eu prometo que visitarei você sempre que der pequena, com o tempo eu reservarei um dos três quartos para você." "Um quarto só pra mim?" "Opa, você não pode dividir comigo Kitty?" Jesse reclama "Posso pensar." "Quando vocês voltarão para casa?" "Próxima semana." "Promete que a gente não vai demorar para se ver." Kitty estende o dedo mindinho "Prometo, nossa casa é separada por duas horas de diferença, não é muita coisa. Agora você está mais longe de casa do que quando eu morar na UCLA e você em casa." "Serena, você é minha casa, o resto são só endereços." "Amo você pequena." "Amo você Sereny."

Meus pais sempre tiveram a conta compartilhada comigo, mas eu nunca tive a posse total do dinheiro, depois da morte deles, eu fiquei como responsável e herdei automaticamente a conta bancária, obviamente eu separo uma boa quantia para Jesse, mas ela trabalha no cartório da cidade, e tem seu salário, mas nada mais justo do que cobrir o gasto com a minha irmã. Infelizmente minha covardia me impede de gastar o dinheiro deles, sinto que sou uma criança roubando uma nota de dez reais da bolsa da mãe, mas ultimamente eu utilizo para o que eu sei que eles estariam felizes em gastar comigo.

Me despeço novamente e saio em partida da busca da vida que eu sempre quis. Decido passar no posto de gasolina e pegar chocolate, água e energético. Ficarei 4 horas na estrada e por mais que eu ame pegar estrada, meu corpo não aguenta o nervosismo de chegar á Los Angeles.

E justamente a única coisa que poderia me prender na Califórnia, está parada no posto, sereno, tranquilo e aparentemente feliz. O que mais me espanta naquela imagem, é a minha reação, sinto meu corpo enrijecer e meu coração transbordar, o engraçado é que não parece que eu o conheço desse verão, sinto que já o vi antes, em tempos difíceis e por mais estranho que isso possa parecer, ele me aconchega, mesmo longe.
Dou meia volta no carro e parto para a estrada sem chocolate, água e energético, ficar com fome e sede me parece mais fácil do que enfrentar aqueles olhos.
A estrada é limpa, calma e tem a energia necessária para uma viagem de recomeço, deixo a casa de férias da família Wallen, a casa do prefeito, a morte dos meus pais, o drama de ser invisível e parto pra um lugar desconhecido com pessoas que não fazem ideia do meu nome.

Ouço as músicas ruins que Kitty achou que eu iria gostar em um pen drive no carro, ouço cada uma delas e comento em voz alta sozinha o quanto eu odiei, tentando adivinhar o que a minha irmã diria. 

E então, 4 horas depois eu estaciono em frente a um apartamento com varanda grande, e a outras dez cópias com moradores que possuem mais café do que água no corpo,estudantes da UCLA. O meu novo lar, é assustadoramente bonito, palmeiras circundam o conjunto de casas, e uma placa com os escritos "Vista Cay" em preto se faz reluzente sob a luz do sol.
Chega ser irônico como minhas superstições me acompanham, meu pé direito toca o chão quente, e com um arrepio súbito tenho uma sensação de que farei histórias nesse apartamento, nessa cidade, espero que o final disso tudo seja com uma declaração de "culpado" de algum juiz sentenciando os culpados do caso dos Wallen.

FelizmenteOnde histórias criam vida. Descubra agora