Starbucks

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Chego na casa da minha tia e não presto mais atenção em nada. Como olhos tão bonitos e serenos podem ser tão penetrantes? Eu precisava descobrir mais sobre eles, eu queria saber se eles tinham dona. 

Eu gostaria e sinceramente precisava ser a dona deles.

Minha família sempre teve a tradição de fazer um grande almoço de domingo, minha tia manteve a mania, mesmo que fosse apenas para mim e para minha irmã. E eu já sabia que não havia data melhor para contar minha ida a faculdade do que agora. 

"Para o almoço Serena." Minha tia literalmente berra na ponta da escada.
Antes de vir para as férias, eu pesquisei dezenas de lugares bons na cidade da UCLA, que eu poderia mudar, até achar um apartamento perfeito. Eu tinha bastante dinheiro guardado no banco, além do que meus pais guardavam para mim. Por isso eu decidi alugar o apartamento em um condomínio perto da faculdade e bem habitado por universitários.

Depois de alguns brócolis deixados de lado, eu decido encarar e contar á Jesse meus planos para o final da minha estadia na casa de verão. Eu penso em mil maneiras de contar a novidade, mas parece que minha irmã já sabe o que é "Sereny? O que quer contar?" minha boca se curva, K sabe exatamente o que fazer, ela está me ajudando e mal sabe o por quê "Tenho uma novidade, sei que ficarão felizes por mim"  "O que seria?" Jesse pergunta encarando o prato, cortar a carne se parece mais interessante do que eu tenho a dizer, isso deve ser por que ela não faz ideia do que seja, "Você lembra a faculdade que me inscrevi? Recebi a resposta de que eu fui aceita a um tempo atrás" "Uau" Jesse me encara agora, seu sorriso poderia ser o reflexo da minha mãe, sinto um calor no peito. "Desculpa contar isso só agora, eu tentei adiar a conversa o máximo possível, mas minhas aulas começarão logo" 

Minha irmã me olha com uma expressão solidária, porém triste. Me sinto péssima em ter que tomar decisões e decepcionar as pessoas que eu amo, sei que elas se sentem abandonadas, assim como eu me sinto desde que perdi meus pais, é ruim ter que deixa-las sozinhas novamente.
"Eu já vi o apartamento, ele é meu" agora ela se parece bem mais com meu pai "Como você fez isso sozinha?" seus olhos estão arregalados, é bom se sentir levando bronca, assim parece que existe alguém cuidando de mim. 

"Já foi tia, desculpa" ela faz que sim com a cabeça, não parece satisfeita, mas ninguém se sente bem vendo quem ama ir embora. 

Eu decido não tocar no assunto, já está feito.
São inúmeras tarefas para as próximas semanas, precisarei arrumar um jeito de colocar minhas coisas na casa nova, sem ter que necessariamente voltar para a minha cidade, quanto menos tempo eu passar lá, melhor. Decido que não me permitirei ficar nervosa, é uma nova história que escrevo, isso com certeza é uma coisa boa.

Ando até o Starbucks para tomar um chocochip como sobremesa, sentar na mesa da calçada, sentir a brisa do mar que a cidade oferece, observar o céu, são ótimas pedidas para relaxar e me ajudar a organizar o tanto de coisa que farei na mudança.

Eu já perdi a conta de quantos Starbucks eu já fui na vida, mas nenhum deles era tão perfumado como esse.

Ou talvez não fosse o Starbucks.

"Você por aqui, então?"

Eu reconheço a voz. Mas não quero me virar, tenho certeza que a cor da minha pele é uma variante do vermelho.

"Eu aqui então." Digo, pegando meu pedido e me dando de encontro com aqueles olhos que já tanto pensei. 

Foram 24 horas, ou menos sem avistar o par de olhos verdes á minha frente, a sensação que possuo é que eu poderia morrer de abstinência. 

" Você mora aqui?" ele pergunta gentilmente enquanto sorri fazendo seu pedido para a funcionária que não tirou os olhos de cima dele "Não, bem que eu queria, mas não" respondo, tenho que me lembrar de respirar.

"E você?" Eu não deveria querer saber, mas eu quero, quero muito.
"Gostaria muito, mas estou passando só o verão também."
"Quer dizer, acho que você veio passar o verão, certo?" ele diz como já soubesse e quer apenas confirmar.
O pedido escrito "P" chega. E o universo ri, por que o pedido dele é igual ao meu. 
"Quer se sentar?" ele convida apontando para as mesas do estabelecimento.

"Hoje não" digo sorrindo e indo embora, olho para trás e ele ainda me encara, surpreso. Ele não parece ser do tipo que leva muitos foras. "Até depois?" ele pergunta sorrindo sem acreditar, "Talvez" digo rindo e indo embora. 

FelizmenteOnde histórias criam vida. Descubra agora