Catherine

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Eu olho pro cara que está sentado ao meu lado e não o reconheço.
Não sei se as palavras doces que saíram de sua boca eram verdade. Como ocultar algo tão concreto? A primeira real pista do caso dos meus pais, ele sabia por que estávamos aqui. Nada disso faz sentido.
Eu decido não acorda-lo e não fazer perguntas, preciso descobrir a verdade sozinha.
Coloco meu celular pra despertar cedo, muito cedo, o necessário pra ele não ter acordado e nem minha tia.
Amanhã eu levarei um café pra Martín e arrancarei cada palavra do depoimento de Philip. Custe o que custar, eu preciso saber com quem eu estou dormindo. Por que nesse exato momento, eu não faço ideia do que acontece. 

Faço questão de deixar a pasta aberta na cama com o nome de Philip em negrito em cima da cama. Eu visto uma calça jeans preta e uma regata branca. Prendo meu cabelo e faço uma boa maquiagem, eu preciso esconder tudo o que me magoa agora, tudo que me deixa curiosa.

Entro na delegacia e vejo policiais dormindo com cafés nas mãos. Vejo uma moça ruiva, cabelo pintado, bonita de uns 30 e poucos anos. Eu a ofereço meu melhor sorriso, que no caso não é muita coisa. Ela se espanta ao me ver de tal maneira que penso que algo está muito errado no meu rosto.

Chego perto da mesa dela pra perguntar de Martín. Há uma placa escrito "Catherine-secretaria principal"
"Bom dia Catherine, meu nome é ..." "Serena Wallen." Ela completa para mim, Martín com certeza já mencionou meu nome.
"Eu preciso da pasta COMPLETA do caso Wallen."  Faço careta no "completa" para enfatizar.
Ela me olha de um jeito estranho e puxa uma pasta. Deve ser essa a REAL.
"Aqui contém os depoimentos.?" "Sim. Inclusive o seu. E o meu."
O dela??? Por que ela teria que depor? Olho para aquela mulher e percebo que ela não me é estranha, ignoro e concentro na pasta.
Eu vou no starbucks e pouso os papéis em meu colo. Meu chocochip grita de ansiedade.
Abro a pasta amarela e procuro o nome dele, da única pessoa qu me faria levantar esse horário.
Eu percebo que não tenho coragem. Não tenho coragem suficiente pra saber a verdade, as testemunhas-chaves costumam ser as principais suspeitas também, pois sempre foram elas que viram o crime de perto, e sozinhas.

Se Philip tiver qualquer coisa a ver com a morte dos meus pais, sinto que morrerei junto, assim como morri naquele dia.

Eu leio o nome dele no título da pasta e eu fecho. Eu leio o nome de Catherine e percebo que ela trabalhava com meu pai, era secretária dele e depois da sua morte, virou secretaria de Martín.
Minha mãe sempre foi uma mulher muito ligada nas filhas, ela era meu porto seguro, meu forte. Quando ela morreu eu tentei ver a mesma imagem na minha tia, porém eu nunca a dei confiança necessária pra uma chance.
Minha mãe era irmã dela, por isso eu lerei o caso com a minha tia. Eu não tenho coragem de enfrentar Philip agora e ela certamente saberá o que fazer com as informações.

Quando chego em casa ela já está acordada e fazendo panquecas doces. Me chama pra sentar e antes de me perguntar aonde eu estava, eu levanto o copo de chocochip e ela assente.
"Onde Philip está?." "Não sei querida, ele saiu cedo, assim que você saiu." Certo...
"Eu preciso te falar por que eu vim aqui te visitar tia." "Eu sabia que algo estava errado."
"Eu vim investigar o caso Wallen." "O SEU caso? O caso dos SEUS pais??" "Sim, eu entrei na melhor faculdade de direito pra isso, e você sabe muito bem." "O que você tem pra me falar?" "Eu fui pegar a pasta do caso com Catherine e ela está na minha bolsa agora."
Menciono o nome de Catherine para caso ela perguntasse eu apenas respondesse que é a secretaria da delegacia, com certeza ela ficaria mais preocupada se eu falasse que tenho contato com o próprio delegado, mas ao invés de questionar o nome de Catherine, minha tia passa mal. Ela abre seus olhos e engasga, se engasga com algo que não é paupável. Como se o nome trouxesse um pacote de coisas mal pronunciadas. 


"Fique longe dela Serena." "Longe de quem tia?" "Cale a boca e nunca mais volte a ter contato com essa moça." Com certeza Calar a Boca não estava no dicionário dela.
Eu dou a pasta pra minha tia.
"Ela lê os mesmos depoimentos que eu, e faz a mesma cara ao ler o nome de Philip. Ela lê o depoimento e ri, um riso de descrença"
"Por favor tia, me fala do que se trata Philip."

Ouço uma voz que não é de Jesse, e ecoa nas minhas costas "Eu acho melhor eu falar Serena." 

Ele está parado no batente da porta, parecendo um anjo.

Preciso me lembrar que o Diabo também era um anjo.

FelizmenteOnde histórias criam vida. Descubra agora