Meu mundo

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Decido passar a tarde com minha irmã, assim consigo dispersar toda a angústia que essa cidade me traz. 

Quando volto em casa minha tia já está dormindo, e todas as camas estão arrumadas. Kitty se prepara para deitar com a camiseta da UCLA que eu trouxe para ela. 

Eu decido pegar uma camiseta de Philip emprestada enquanto ele toma banho. Ela fica grande pra ele e enorme pra mim. O aconchego de algo maior me cobrindo com o perfume de quem me faz bem é inexplicável. Não consigo largar o hábito de usar camisetas grandes, percebo que enquanto tento me definir com adjetivos corporais ruins pela décima vez no dia, Philip me observa. 
Esse homem possui meu coração.

E cada pedaço do meu corpo que ele quiser.

"Philip você é um abusado. Alguém já te falou isso?" "Você, só 200 vezes desde que nós nos conhecemos." Eu dou risada e pego minha bolsa com a pasta do caso, lerei enquanto ele dorme, sei que parece egoísta, mas esse é o meu momento.
Quando me preparo pra dormir, vejo a imagem dele sentado na minha cama, com um shorts branco e sem camisa ele fica mais maravilhoso do que eu já o vi, e eu me pergunto se isso é possível.
Seus cabelos pretos estão molhados, seu rosto transpassa tranquilidade, sua boca é desenhada e seus olhos estão fechados. Aquele homem me parece uma injeção de adrenalina em uma praia calma. Sinto minha perna amolecer, meus pelos enrijecerem e meu coração acalmar. Como é possível tanto sentimento tão junto e separado? E como cabe tudo dentro do meu humilde peito?

 Minha consciência sussurra que o amor faz coisas loucas com as pessoas, eu só não sabia que era possível perder o controle e continuar de pé no chão como me sinto perto dele. E é por isso que sento sobre suas pernas na cama, ele abre o olho, sorri e me abraça. Um abraço caloroso como de um melhor amigo, e mãos nervosas de um namorado.

Ele abre o olho e perco seu verde de vista, consigo enxergar fogo e me ver no reflexo. Ele me vi linda, e eu me sinto linda assim.
Quando eu o beijo sinto que nossa pele é um inimigo.
A sensação é que nossa casca nos separa, que o real significado daquilo tudo é que eu quero beijar a sua alma, não apenas seus lábios, quero fazê-lo sentir-se como eu me sinto, maravilhosa e desejada, ardente e calma ao mesmo tempo.
Sua mão desce em meu corpo todo fazendo um movimento que logo aprendo. Eu nunca fui de dançar em festas, mas percebi que dançar com ele é muito melhor. 

Meu corpo nunca foi meu templo, eu nunca me amei. Eu sempre preferi que os outros me amassem por mim, então eu teria amor próprio, mas isso nunca aconteceu.
Quando ele me olha daquele jeito, sinto como se eu estivesse exposta e isso me deixa mal por um tempo. Mas ele não me julga, ele me beija. Ele beija meu ombro e me elogia. "Você é linda Serena." Ele beija meu pescoço e diz "Você tem um perfume único." Ele beija meu peito e sussurra. "Eu quero você pra mim."
Ele beija meu braço "Você é grande em tudo que faz." Ele beija meus dedos com carinho e sussurra que se orgulha de mim.
Ele enxerga alguém que não sou eu. Como pode ele me ver tão bela assim e eu me sentir como um monstro?
O sorriso dele se faz grande e ele me beija.
Lembra quando eu disse que com aquele sorriso ele ganharia meu mundo fácil?
Philip Mann ganhou o mundo, o meu mundo.
Depois de dar boa noite a ele, eu o observo a dormir, passo a mão pela cicatriz em seu peito que eu nem sabia que existia. Desenho o formato de seu rosto inúmeras vezes, e decido pegar a pasta.

Eu a abro e fotos do carro com as marcas do tiro, as fotos de sangue no chão da rua, as cápsulas das balas, dos suspeitos. As informações voam sobre a minha cabeça.

Tenho saudade dos momentos que eu acabara de vivenciar, o inferno muitas vezes tem precedente no céu.  

Percebo que nada está esclarecido até agora.
Nenhuma das informações lá é algo confidencial. Tudo já estava nos artigos de jornal.
Ao menos uma coisa.
Em todos os jornais, programas de tv, era alegado que não dava pra julgar nenhum suspeito por não haver testemunhas, e eu acreditei, e achava que não havia motivo para duvidar disso. A rua estava deserta, eu não lembro de ver ninguém passar por ali, era tarde da noite e todos estavam dormindo, tirando uma pessoa, tirando a testemunha.

Até eu ler o nome do homem que tinha acabado de ganhar meu mundo.


Principal testumanha-chave: Philip Mann.

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