Olhos do mundo

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Ele está bem.

Ele está bem.

Desligo meu celular e ligo o notebook, preciso de uma resposta de Jesse sobre o testemunho no tribunal. Eu a convido pra passar a tarde algum dia aqui em casa com Kitty, assim conversamos sobre o andamento do processo e posso mostrar minha nova casa a elas, sinto muito falta do aconchego que era o carinho de Kitty. Definitivamente é dele que eu preciso agora. Adormeço no sofá.

Acordo me espreguiçando, sinto o calor do feixe do sol me aquecendo, olho em volta. Estou no meu quarto. Olho para meu corpo, visto uma camiseta de Philip. 

"Realmente Jey, você não existe" digo enquanto levanto da cama.

Minha perna reclama de dor da noite passada e eu gemo. Rapidamente Philip abre a porta do quarto com um saco de lixo na mão.

"Mas que droga é essa Philip?" "Calma Anjo." "Cadê a Jenna? o Jake?" não consigo olhar em seus olhos.

"Eu pedi pra eles irem embora, precisava de um tempo com você." eu dou risada, meu nervoso aflige minha cabeça, eu definitivamente não estou em condições de pensar. "Você quer um tempo comigo P?" Eu chego mais perto dele, passo a mão em seus cabelos, em uma rápida olhada na sala e na cozinha, eu percebo que toda a casa está limpa. 

"Você quer um tempo comigo para que Anjo?" Meus lábios encostam nos dele e eu consigo sentir seu alivio emanando pelo corpo. "Você ficou com saudade disso?" Pouso sua mão nas minhas costas, e meu dedo circula em seu rosto, coloco sua outra mão em minha cintura, "Ou disso?", "Eu sabia que você não ficaria brava de Pam ter dormido lá em casa." "Claro que não Anjo, por que teria, ela é só sua prima não?" Ele faz que sim com a cabeça e engole seco, ele senta no mesmo sofá que estava sujo até ontem e eu sento no seu colo.

 "Eu odiaria brigar com você por causa disso P., até por que, Pam é um ser ileso não é? Ou ela tentou alguma coisa com você?" Eu faço carinho em sua nuca e olho docemente em seus olhos. "Você sabe como Pam é Anjo, ela estava bêbada demais, só melhorou depois do banho." Eu descanso minha cabeça em seu ombro "Puxa P, ela estava tão bem a ponto de tomar banho sozinha?" Ele mal consegue respirar. 

"P? Como ela tomou banho?" pergunto em um tom calmo demais, doce demais. 

"Eu a ajudei" ele responde em um nível sonoro tão inaudível que penso por um segundo questionar se não eram seus pensamentos. 

Pouso meus lábios no canto de sua boca, "Coitada." e dou um beijo em Philip, um beijo de saudade, de reconciliação. 

Levanto de seu colo. Olho em seus olhos e aponto para a porta. Ele levanta desnorteado, "Você não acha que eu sou tão estúpida quanto a garota que estava no seu colo agora pouco né? Eu não passo mais do que a coitada que você salvou a vida, é isso que você pensa. Pois bem, eu não preciso de um homem que não sabe lidar com o meu afeto, ou que não me conhece bem o suficiente para saber que nunca, nunca eu iria querer ver a cena do meu namorado dando banho em uma mulher que nem beber tinha bebido. Você estava mais bêbado que ela Philip." Ele não me interrompe. "Quem dirigiu até a sua casa?" P olha para baixo "Pamline" e ele sai pela mesma porta que já entrou e saiu dezenas de vezes. 

Não tenho a quem recorrer e não posso me dar o luxo de me sentir traída, eu não sei o que pensar no momento. A porta abre novamente e eu me recordo de não ter a ouvido bater,  Philip me olha, com o rosto vermelho, ele chora de um modo como nunca o vi chorar. 

"Se eu não enxergo maldade na Pam, ou se eu não a vejo como um potencial de nossa separação, é só por que eu estou preocupado demais só tendo olhos para você." 

"Sua cegueira nos auto-destruiu Philip, eu preciso de você com os olhos e a cabeça aberta pro mundo, para ser capaz de distinguir qualquer obstáculo que a vida nos trouxer, o que eu quero de você é o coração e você por inteiro.Não preciso de um homem cego do meu lado, esteja exposto ao mundo e de mãos dadas comigo que nós conquistaremos qualquer coisa dessa merda de vida." 

"Você é a primeira mulher que se sente ofendida ao ouvir de um homem que ele é cego de amor por ela." 

"Você é o primeiro homem que diz pra mim que prefere cegar os olhos á entregar o coração para a mulher que ama." 

Eu me viro e abraço a camiseta em uma tentativa falha de reconquistar o Philip que a vestia, mas eu ganho como resposta a porta se fechando. O problema dos contos de fadas é que eles são previsíveis, a vida real não é assim. Ouço três batidas na porta. Não tenho coragem para me virar para trás, não consigo olhar para Philip e pensar no que aqueles olhos viram de Pam. 

Ele é a pessoa que mais me enxergou no mundo, viu meu corpo dezenas de vezes, me fez sentir linda e importante. É traição olhos verdes tão bonitos contemplarem a beleza de Pam, e depois tentarem enxergar algo de bom em mim. 

Dois pequenos braços finos se enlaçam em mim "Sereny." ela diz delicadamente e como em um sussurro. "Pequena." Kitty me abraça e o raio de sol que bate todas as manhãs na porta se faz presente, ela com certeza é o raio de sol mais forte da estrela do céu. 


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