Raio de sol

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Meu apartamento é exatamente o que eu queria, não é grande, mas tem cheiro de vida nova e tem meu nome portado nele. É tudo o que necessito no momento.
Com o dinheiro que eu guardei do verão passado, eu paguei a uma organizadora da construtora pra deixar meus móveis novos do jeito que eu queria. Se eu tivesse que colocar ordem no apartamento nesse momento, eu com certeza deixaria mais bagunçado do que a minha vida tá agora. Por isso pedi uma ajudinha extra.

Quando coloco pela primeira vez o pé no apartamento eu dou risada, e lágrimas correm, eu percebo o quão solitário é não ter com quem dividir o momento. E lembrei na primeira fração de segundo, o por que eu estava sozinha.

Mas quando o raio de sol bate na janela e ilumina o único móvel da minha antiga casa eu me recordo que a solidão é carnal.
A verdadeira companhia estava me observando lá de cima, e é dono do sofá cinza escuro que está sendo iluminado. Essa companhia adorava enrolar os meus cachos na ponta de seus dedos enquanto eu contava sobre meu dia.
E é justiça que eu vim buscar nessa faculdade, e é pela solidão carnal que eu devo sempre lembrar o que eu vim fazer aqui.
Meus pais morreram diante de meus olhos, eu levei um tiro nesse dia, um no coração e outro no estômago. Um foi metaforicamente e o outro denotativamente falando. E é minha cicatriz na barriga que me faz lembrar o que eu tanto quero esquecer.
O dia em que o raio de sol da minha vida virou apenas um raio de sol.
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