Parte Um
O ÚNICO DA ESPÉCIE
Você pode não acreditar, mas esta é a história de um imortal.
Esta é a minha história.
Ela começou há muito tempo. Sinceramente, não quero me lembrar de quando. Vivi muitos anos; não importa quantos. Minha memória continua a mesma desde que me tornei imortal, mas agora é irrelevante saber quando nasci.
Na verdade, tudo agora é irrelevante. A única coisa que realmente importa é meu suicídio.
Eu quero morrer.
Desejo deitar-me e morrer de uma vez, deixar para trás esse mundo de luxúria, esse mundo grosseiro no qual fui concebido há tanto tempo. Só quero esquecer tudo. Quero esquecer das pessoas que me machucaram, das que fazem desse lugar um mundo terrível e maldito.
Em todo o tempo em que estive aqui, vi apenas destruição e caos. O ser humano mudou muito, em diversos sentidos, mas sempre foi mau. Por fora, pode parecer amável, caridoso, sociável. Mas, por dentro, é maligno. Por dentro, é escuro, tenebroso, sombrio.
Tive tempo para analisar profundamente os seres humanos.
Deixei de ser um humano normal há muitos séculos. Tudo que posso fazer é me imaginar como um. Embora sejam terríveis... morrem.
Tenho nome, mas não gosto dele. Faz com que me lembre de tempos ruins, que desejo esquecer acima de tudo. Hoje, costumo usar o nome "Imort", como uma abreviatura de "imortal", terminando com uma consoante, como é costume se dar nomes hoje.
O motivo pelo qual desejo me suicidar?
Nunca foi minha vontade ser imortal. Foi um engano, desde o começo. Não era eu a ser salvo, mas outra pessoa. Fui apenas a segunda escolha. Estava em segundo plano, e me salvaram.
Salvaram-me da glória da morte e impuseram-me a maldição da vida.
Cansei de tudo. Cansei de todos. O que quero é repousar eternamente no carinhoso abraço negro da morte. Nada mais.
O problema é que não posso me matar.
Tentei de todas as maneiras. Por algum motivo, não consigo nem mesmo perder a consciência. Posso comer, posso beber, mas isso não muda nada. Não sinto fome ou sede. As bebidas alcoólicas não têm efeito em meu organismo. Também não sinto sono. Não posso dormir, embora consiga alguns minutos de semi-inconsciência, caso me esforce. Não é normal. Tudo está errado.
Tudo que eu quero é morrer.
Não tenho certeza de se algum dia serei capaz de finalmente deixar este mundo. A incerteza é o que mais me aflige. Sei apenas que, se for para acontecer, será naturalmente. A morte virá tranquila, tomando-me para a escuridão e esquecimento lentamente.
Certa vez, imaginei-me sozinho em meio a um deserto, em paz. O céu estava encoberto por nuvens gigantescas, de formatos variados. Elas se abriam e davam passagem a uma escadaria de luz, que vinha até o ponto onde eu esperava para subir para o céu, em direção à morte e ao descanso eterno.
Uma vida grandiosa – ou apenas longa – não poderia terminar de outra forma. A mim, qualquer coisa que fosse diferente parecia pequena e triste. Percebera, enfim, que minha morte deveria ser fora do normal, como fora minha vida. Eu não deveria morrer como um ser humano qualquer.
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Agora eu Morro
Science FictionEm uma grande cidade, quatro pessoas tentam sobreviver ao terrível ano de 2033, quando grande parte dos problemas mundiais, como a falta de água e o aquecimento global, explodem junto de uma bomba de hidrogênio em Berlim. A radiação se espalha pelo...