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Os exércitos estavam prostrados frente a frente, em linhas de batalha, divididas em centro e flancos. Normalmente no extremo dos flancos, ficava a cavalaria. A formação do exército romano era basicamente a de um centro forte e flancos fragilizados, numa grande massa de pessoas concentradas no meio. O centro continha romanos; os flancos, aliados. A cavalaria fora dividida por igual e separada nos dois. No direito, os romanos. No esquerdo, cavaleiros aliados.

Era sua formação padrão.

— Não têm criatividade para fazer algo diferente — reclamou Hanno, embora estivesse claramente satisfeito com a falta de criatividade de nossos inimigos.

— Agora me explique essa formação do Aníbal, porque eu não consigo entender — eu disse. Estávamos no flanco esquerdo, fazendo parte da infantaria pesada.

— Nosso comandante, ao contrário do deles, dividiu a cavalaria em três partes. Colocou duas no flanco esquerdo, de frente para a cavalaria romana, então somos mais fortes ali — o capitão indicou o lugar exato. — No outro lado, colocou a terceira parte da cavalaria, composta principalmente pelos númides. Ali, somos mais fracos, mas tenho certeza de que Roma não será capaz de explorar essa vantagem.

Os númides eram guerreiros vindos da Numídia, na África. Era próxima a Cartago, e eram nossos aliados. Um século depois, a região seria integrada ao império romano.

— Nosso centro é muito fraco para competir com o deles — comentei.

— Exato — ele disse, e vi que não se estenderia. — Tudo que posso dizer é que lá fica nossa infantaria leve. Nós somos a infantaria pesada, que está, claramente, espalhada nos flancos. Agora me diga: por que Aníbal escolheu essa posição para lutarmos?

Eu deveria estar fazendo essa pergunta.

— Estamos testando você, não eu.

Pensei um pouco a respeito, olhando para os lados e verificando nossa posição. Voltei a pensar no sol queimando nossas nucas. E então disse:

— O sol está atrás de nós — refleti. — Por mais que esteja nos queimando, está atrás. É melhor que esteja às nossas costas do que à nossa frente. Assim, eles vão ter o problema da luz para combater.

— É isso aí, garoto! — ele disse. — E isso também explica nossas roupas.

Olhei para elas, e entendi o que ele quisera dizer.

— Usamos roupas leves. Embora não tragam muita proteção, impedem que sintamos muito calor. — O dia estava insuportavelmente quente. Olhei para os romanos, com suas volumosas armaduras, e senti felicidade por não estar dentro de uma.

Hanno apenas sorriu.

— A brisa está mais forte que o normal, não acha? — disse o capitão, aguçando minha mente.

— É claro — pensei em voz alta. — Aníbal escolheu a melhor posição possível. O vulturno está soprando atrás de nós, na direção dos romanos — sorri. "Vulturno" era o vento que soprava no Mediterrâneo, trazendo poeira e areia fina, quando muito forte. Ao longo do tempo, seu nome mudou e tornou-se, na grande compreensão mediterrânea, "scirocco", embora seja chamado por outros nomes em diferentes locais.

— Não vai nos atrapalhar.

— Mas vai atrapalhar eles — eu disse.

— É...

O capitão riu ao me ver coma boca escancarada, um sinal claro de que acreditava. "Gênio" talvez Aníbal nãofosse, mas era muito inteligente. Com certeza muito inteligente.

Agora eu MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora