6

113 14 0
                                    


Durante a noite que passamos na cobertura do edifício, fui surpreendido pelo som de passos. Estava sonhando acordado. Não podia fisicamente dormir, mas naquele momento estava longe dali. A vontade de ver o que trazia o som aos meus ouvidos era mínima, mas eu o fiz, sabendo que também era minha responsabilidade cuidar da proteção do grupo.

Estava muito escuro.

Madrugada. A lua já desaparecera. No corredor, tudo que podia ver era escuridão e ouvir os passos. Não chamei por ninguém, mas subi as escadas, pois o som vinha do andar de cima.

Quando alcancei o telhado, só conseguia ver o vulto da pessoa, mas é claro que era Char. Chamei seu nome.

— Char!

Ela olhou para trás, assustada.

Vi um pequeno reflexo em seus olhos. Voltou-se outra vez e começou a correr.

— O que está fazendo?

Corria na direção do precipício formado pelo topo do prédio.

Char! — Gritei, desesperado.

Ela não parou.

Char! Não faça isso!

Ficava cada vez mais perto do precipício, não importando o quão rápido eu corresse.

Não salte!

Seu pé direito tocou a beirada.

Não!

Os músculos se contraíram com o esforço.

O impulso a forçou para longe do telhado.

Gritei outra vez pelo seu nome.

Ela sequer olhou para trás.

Seu pé deixou a beirada.

Seus cabelos esvoaçaram para trás.

Char! — Gritei uma última vez, mas ela desaparecera.

Continuei correndo.

Em segundos fiz o mesmo que ela. Saltei do topo do edifício para o precipício da rua. Ela caía mais rápido do que eu, e eu não sabia se conseguiria alcançá-la.

Ela não podia morrer. Ela prometera.

Mergulhei na direção do chão, se aproximando cada vez mais rápido. Tinha de alcançá-la de alguma maneira. Era apenas um vulto mais à frente, caindo.

Venci a resistência do ar e a alcancei.

Agarrei-a e a segurei sobre mim.

Ao chegar ao chão, senti que se quebrava como impacto de meu corpo. Minha pele se tornara tão dura e forte que superava a rigidez das placas de concreto do chão.

— Você está bem? — Perguntei à mulher que segurava apertado.

— Sim. — Ela disse, séria.

— O que você estava fazendo? — Perguntei, indignado.

Tremia.

— Eu... eu...

Levantei e a ergui do chão. Ela mal conseguia ficar em pé, de tanto que tremia. Quem sabe tivesse se machucado e não quisesse falar, ou era simplesmente o impacto emocional. Olhei em volta, lembrando subitamente de que estávamos do lado de fora. E era noite.

— Vamos, Char — disse, começando a me apressar. — É noite. Os sedentos vão aparecer daqui a pouco.

Estava com um braço em suas costas. Abaixei-me para erguê-la pela dobra de seus joelhos, mas ela se debateu e pulou fora de meus braços.

Agora eu MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora