Capítulo 11

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Futuro Inesperado.

"Big girls cry when their hearts are breaking."

- Sia

***

Lola

Diante do reflexo do espelho estava uma mulher derrotada, uma mulher que eu nunca havia enxergado daquela forma antes. Eu já havia visto a pequena garotinha, que já fui um dia, daquela maneira anos atrás. Quando tudo desmoronou na família que eu pensava ter, naquele momento eu jurei não me tornar aquela imagem de novo, mas infelizmente ali estava a vida me dando uma rasteira e me mostrando que não basta querer para fazer acontecer.

Passei a mão, tentando conter o meu cabelo desgrenhado. Meus olhos vermelhos de tanto chorar ardiam. Meu coração estava partido, completamente aos pedaços. Aquela imagem diante do espelho não era a garota desapegada e durona na qual eu havia me transformado. Aquela não era a Lola que eu havia criado ao longo dos anos. Aquela era uma mulher adulta, despida de todas as suas barreiras. Eu esperei Andrew voltar. Eu queria que ele voltasse, mesmo sabendo que ele estava arrependido, provavelmente por causa da garota com quem ele estava saindo agora. Eu me senti mal por ela, que parecia ser uma boa pessoa, mas o que havia entre Andrew e eu era algo tão confuso e tão intenso, que eu mesma não conseguia definir em palavras.

Andrew não voltou. Andrew não se despediu. E após esperar como uma tola iludida, eu percebi que aquele era o nosso ponto final de fato. Aquele ioiô de sentimentos, que nos envolvia e sempre nos trazia de volta quando nos afastávamos, havia finalmente se danificado. A corda tinha arrebentado. Não haveria mais volta. Em uma profunda respiração, segui nua em direção ao chuveiro, decidida a tomar uma ducha para tentar me recompor, pelo menos um pouco.

Eu quis ligar para ele, mas seria apenas mais um momento de humilhação após a noite anterior.

Grossas gotas quentes da água do chuveiro deslizavam sobre o meu corpo, enquanto as lágrimas voltavam sem permissão, junto com a memória da nossa ultima noite juntos. No fundo, havia sido uma bela despedida e mesmo que doesse eu iria me lembrar daquele momento pra sempre. Naquele banho lavei minha alma e decidi o novo rumo da minha vida.

Pena que às vezes o curso da vida não siga o caminho que nós ingenuamente pré-determinamos.

A chuva cobria a cidade, deixando o local da mesma forma em que se encontrava o meu humor. Escuro e sombrio. Eu estava de volta a Maryland. Disposta a cuidar da única parte da minha vida que realmente importava naquele momento. Abandonei minha bagagem no apartamento que alugava em um local próximo ao hospital onde Joana estava internada. Infelizmente a sua condição não permitia que ela deixasse aquele hospital. Caminhei ansiosa em direção ao quarto no terceiro andar do prédio, estanquei diante da porta, observando minha querida babá em um sono profundo, o corpo amarrado, como ficava nos últimos tempos, para que ela não se machucasse. Aquela imagem fez o meu coração partir mais uma vez. Mas eu me esforcei para me recompor, antes de entrar no quarto e cumprimentar a enfermeira que cuidava de Joana na minha ausência e tomar o seu lugar ao lado da minha mãe do coração, pronta para zelar pelo seu sono e esquecer os problemas e desilusões que eu havia tido em Londres.

Parecia ter sido por um segundo, um piscar de olhos para tentar aliar o ardor dos meus olhos cansados, um grande descuido imperdoável. O bipe dos equipamentos de monitoramento soaram pelo quarto, o susto me fez abrir rapidamente os olhos que não deveriam ter se fechado. O som da respiração falha, da luta por ar se propagou fazendo o pânico se instaurar em mim.

Dois meses haviam se passado desde a minha ida a Londres, dois meses que se arrastaram e ao mesmo tempo pareciam ter passado voando. O quadro de saúde de Joana só piorava, os médicos já haviam me deixado ciente de que era tudo uma questão de tempo. Mas mesmo eu sendo uma pessoa racional, uma pessoa da aérea, que acreditava na ciência, a fé que Joana havia me ensinado a ter não me deixava abandonar a esperança de que ela pudesse ter mais algum tempo.

Quando conheci você.Onde histórias criam vida. Descubra agora