Capítulo 16

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A primeira reação de Jonatan ao me ver acordar foi chorar. Ele cobriu seus olhos com as mãos, e começou a descontroladamente chorar, dando vários soluços durante o processo.

- Desculpa. Desculpa.. - ele sussurrava constantemente. - Foi tudo minha culpa.

Eu queria poder tranquilizá-lo, mas em parte eu ainda continuava nervosa com ele. Porém, ver ele assim em prantos me deixava com o coração doendo, mas eu segurei firme. Ele quase me matou, e eu não iria perdoar isto tão facilmente.

- Foi você que fechou a porta? - pergunto, tentando manter a voz firme, mas sem sucesso.

- Não. A única coisa que eu fiz foi bater forte demais e ter feito a fechadura emperrar. - ele diz, entre um soluço e outro.

- Quem me tirou de lá? Pelo oque eu me lembro bem, eu estava deitada ao lado da porta envolvida por fumaça antes de ter apagado. - perguntei.

Só de relembrar esta cena me deu vontade de chorar. Por um momento, eu realmente aceitei a morte. Apenas me deitei ao lado da porta, e lentamente ia sentindo minha consciência indo embora.

- Eu senti o cheiro de fumaça enquanto ia embora para minha casa. Como eu lembro que tinha usado várias velas para fazer aquela surpresa para você, eu liguei os pontos na mesma hora. - ele disse, com os soluços um pouco mais controlados.

Notei um pequeno machucado em seus ombros enquanto ele falava isso. Era um grande roxo que se estendia por quase toda a região do braço, e eu por um momento fiquei tentada a perguntá-lo sobre isso.

- Você está olhando para este machucado, não é? - como se por ironia do destino, ele pergunta isso na mesma hora.

- Sim. Oque aconteceu?

- Eu não sabia quando tempo você tinha antes de inalar fumaça e desmaiar. Então, ao invés de chamar os bombeiros e esperar por eles, eu usei toda a minha força para arrombar a porta.

Por um momento, eu senti uma onda de calor tomando conta do meu corpo. Parece que por alguns segundos eu tinha esquecido de que foi ele que me causou toda aquela situação, e apenas estava apreciando seu ato de heroísmo.

- Obrigada por isso. - falei. Não tinha o porque de eu pedir obrigada, já que ele foi o culpado. Mas mesmo assim, eu senti que devia isso a ele.

- Fui eu que causei isso. O mínimo que eu poderia fazer era te salvar. - por um momento, parece que ele ia começar a chorar novamente. Mas a porta do quarto do hospital faz um click, e se abre.

Minha mãe, com os olhos cheio de lágrimas, olha para mim. Eu olho para ela, e por um momento isso tudo era demais para mim, e começo a chorar descontroladamente.

Ela rapidamente deixa uma sacola que estava segurando em uma pequena mesinha do lado da minha cama, e vai em minha direção com os braços abertos para me dar um abraço.

Ela envolve seus braços por volta do meu pescoço, e eu levanto minhas mãos bem levemente por conta de uma seringa que estava enfiada bem nas costas da minha mão.

- Eu fiquei tão preocupada! Perder a única coisa importante na minha vida esses últimos anos seria demais para mim. - ela disse, ainda chorando.

E por um momento, eu senti remorso por não ter tentado lutar para sobreviver. Sinto remorso por simplesmente ter deitado ali no chão, e aceitado a morte. Nunca tinha passado pela minha cabeça na hora oque eu iria fazer com minha mãe caso eu tivesse morrido. O quanto ela iria sofrer.

- Eu estou a quanto tempo aqui no hospital? - pergunto, enxugando as lágrimas dos meus olhos quando minha mãe se afasta.

- Três dias. - desta vez era Jonatan me respondendo.

Levei um susto com esta informação. Não sabia que ter inalado aquela fumaça iria fazer tão mal para mim, e eu iria ficar tanto tempo desacordada desta maneira.

- Mas.. Pareceu que foram apenas alguns segundos.. - disse, ainda processando a informação.

- Dizem que quando a pessoa está em coma, o tempo passa muito mais rápido na percepção dela. - minha mãe me diz enquanto se senta em um sofá que ficava ao lado direito de minha cama.

- Então eu estava em estado de coma? - perguntei, assustada.

- Sim. Os médicos disseram que você não morreu por sorte. A quantidade de fumaça que seus pulmões receberam era o suficiente para matar qualquer um. - Jonatan responde, com um sentimento de culpa evidente em sua voz.

- Mas não vamos pensar nisso! Você está viva, e é isso que importa. - minha mãe interrompe Jonatan.

Por um momento, me perguntei se minha mãe sabia que a culpa disto tudo era ele. Eu olhei no fundo dos seus olhos, e por alguma mágica parece que ele entendeu a minha dúvida.

Ele apenas balança a cabeça negativamente. Este era um detalhe que minha mãe não precisava necessariamente saber.

- Eu estou me sentindo meio tonta. - comento com eles. - Acho que vou dormir.

- Sim, os médicos me disseram que é bom você dormir bastante, querida. - minha mãe acaricia levemente meus cabelos e me dá um beijo na bochecha.

Sem precisar de mais nenhum convite, me ajeito na cama do hospital, que por sinal era incrivelmente confortável.

Momentos antes de eu entrar em um profundo sono, lembro do rosto de meu pai e daquele seu sorriso que por anos senti falta.

E por um momento eu desejei que pudesse me encontrar de novo com ele em alguns dos meus sonhos.

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