Capítulo 8

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- Eu estou com medo. - disse para Jonatan, pela décima vez.

Ele me lançou um olhar tranquilizador. Eu podia ver que ele também estava nervoso, mas ele tentou se manter o mais estável possível para me tranquilizar.

Estávamos no momento escondidos atrás de uma árvore. Já estava de noite, e eu mal conseguia ver seu rosto. Na nossa frente, uma grande casa branca de dois andares. A casa de um dos amigos de Jonatan.

- Oque exatamente estamos fazendo aqui? - eu perguntei.

- Eu já te disse, vamos fazer uma pequena surpresa para ele. - ele respondeu tentando fazer uma voz misteriosa.

- Essa resposta só levanta mais perguntas! - protestei. Mas ele não me respondeu.

Uma janela do segundo estava com a luz do quarto ligada. Ele esperou até que ela se apagasse e então lentamente saiu de trás da arvore e se aproximou da casa. 

Enquanto andávamos agachados com as costas doendo, pensei oque ele estaria planejando fazer. Lembro que ele me contou que todo ano fazia pegadinhas com seus amigos, e me perguntei se essa seria uma delas. Provavelmente sim.

Chegamos na porta de entrada da casa. Jonatan tirou algo do bolso, e pude perceber que era um arame. Ele ficou alguns segundos trabalhando na fechadura enquanto eu olhava tudo em volta a procura de alguma testemunha.

- Sem chance que você sabe abrir uma porta usando um arame. - comentei após algum tempo.

E, como se por ironia do destino, ouço um click na hora e a porta silenciosamente se abre. Ele vira para mim e me lança um sorriso sádico, e tive que me segurar para não lhe dar um soco na cara. E isso só o fez rir ainda mais.

A casa por dentro não era grande coisa. Logo após passarmos pela porta de entrada, se estendia diante nós a sala, sendo interligada pela cozinha que estava separada apenas por um balcão de mármore.

Uma escada no canto direito levava para o segundo andar, e pude perceber que ela é de madeira. Jonatan não fazia nenhum barulho com seus passos, e momentos antes ele me ensinou como fazer isso.

Concentrei o peso do corpo nos meus calcanhares e vagarosamente os encostei no chão. Sincronizei o movimento das minhas pernas com o do meu corpo, e a cada passo dado eu olhava em volta para ver se não iria bater em alguma coisa.

O único problema era que estava escuro e eu momentaneamente esbarrava em um móvel, fazendo um leve barulho. Toda vez que isso acontecia Jonatan congelava em seu lugar e me lançava um olhar raivoso e preocupado ao mesmo tempo.

- Que pena que você não trouxe um vuvuzela para fazer ainda mais barulho. - ele sussurrou para mim.

- Eu não sei se você sabe, mas o meu passatempo preferido a noite não é sair por ai invadindo a casa dos outros.

Depois de uma demorada e cuidadosa caminhada até o pé da escada, Jonatan apoiou as mãos no degrau superior e os pés no outro. Era outra técnica para não fazer barulho, ainda mais em uma escada de madeira onde a maioria pode ranger quando estiver sendo forçada.

Desta maneira o nosso peso seria redistribuído, e mesmo que faça algum barulho, algo que é inevitável, seria algo mínimo. Não daria para alguém ouvi-lo. Ainda mais se estiver dormindo.

No momento em que pensei nisso, me perguntei que horas eram. Enquanto estávamos escondidos na árvore a alguns minutos atrás, já eram 23:30. Vou ter que usar as técnicas de Jonatan para chegar em casa escondida hoje.

Subir a escada levou vários minutos. Cada degrau era uma luta, e ocasionalmente a madeira rangia sobre nosso peso, e a cada vez que isso acontecia podia sentir os músculos do braço de Jonatan ficando rígidos. Ele realmente estava tenso, tanto quanto eu.

Quando finalmente chegamos em cima, um corredor se estendia. Nele continha cerca de três portas, e Jonatan me explicou que a primeira porta a direita era a do quarto de seu amigo. Se eu me lembro bem, seu nome era Matheus.

- Hoje ele saiu pra ir em uma festa e só vai voltar depois da meia-noite, então temos tempo. - ele sussurrou no meu ouvido quando estava prestes a abrir a porta do quarto.

No quarto ao lado, consegui ouvi um leve barulho de uma pessoa roncando. Provavelmente os pais de Matheus dormindo. Eles não pareciam do tipo que tinha um sono leve, mas mesmo assim redobrei meu cuidado para não fazer barulho.

As dobradiças da porta estavam perfeitamente lubrificadas, e ela deslizou sem barulho algum quando Jonatan empurrou ela. Ao menos isso de bom.

Quando entramos no quarto, ele parecia um campo minado. No chão, tinham várias roupas e saquinhos de salgadinhos espalhados pelo chão. Até mesmo consegui ver uma latinha de coca-cola jogada no canto do quarto.

Uma cama de casal se situava no centro do quarto. A direita dela, estava uma pequena mesa aonde continha seu computador e sua impressora. No lado esquerdo, o seu guarda-roupa, que no momento estava aberto.

- Este lugar é uma bagunça. - comentei quando cuidadosamente fechei a porta atrás de mim.

- Ele não é do tipo organizado. Acho que você já percebeu isso.

Só agora tinha percebido uma porta no canto esquerdo do quarto, próxima a porta de entrada. Provavelmente levava para o banheiro, e era para lá aonde Jonatan estava indo.

- Você poderia me falar oque irá fazer agora? - perguntei.

- Você já seu Quem É Você Alasca? - ele perguntou.

- Sim, claro. Mas eu não sei oque isso tem haver.

E antes de perguntar mais qualquer coisa, ele tirou um frasco azul do bolso direito de sua calça. E no mesmo momento eu liguei as coisas. No livro, Alasca fazia uma pegadinha colocando tinta em um shampoo de um garoto.

- Você vai mesmo fazer isso? - perguntei aflita. - O cara vai ter que cortar seu cabelo.

- Sim. Tentei fazer algo original, mas eu não tive culpa. Isso é simplesmente genial. - ele comentou enquanto entrava dentro do banheiro.

Ele olhou em um armário que ficava em cima da pia, e lá tinha apenas dois shampoos. Ele abriu ambos e distribuiu a tinta azul em cada um deles, de modo que ficassem com a mesma quantidade. Era como se ele soubesse exatamente oque ia encontrar ali.

- Estive estudando essa casa por várias semanas antes de fazer esta pegadinha. - ele comentou, e eu descobri na hora o porque ele conhecia tudo tão bem. - No começo, eu não sabia oque queria fazer. Mas então eu lembrei de uma das brilhantes idéias de Alasca em seu livro.

Após ter terminado, ele cuidadosamente devolveu o shampoo no armário, deixando exatamente aonde ele estava. Saí do banheiro antes dele e fiquei esperando suas instruções.

No quarto, tinha uma longa janela que dava vista para uma árvore que ficava ao lado, e quando ele se dirigiu para ela, eu já soube oque ele ia fazer. E isto me causou náuseas só de pensar.

- Eu vou é sair pela porta principal. Nem ferrando que eu irei descer pela árvore. - intervi.

- Faça isso e corra o risco de encontrar cara a cara com Matheus enquanto ele chega da festa. Ou então dos seus pais, a mãe dele tem o costume de levantar a noite para ir pra cozinha.

E eu soube que não tinha como argumentar contra isso. 

Quando Jonatan já estava cuidadosamente abrindo a janela, e já com uma das pernas para o lado de fora, ouvimos barulhos de passo no corredor e a porta do quarto se abre instantaneamente. 




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