Capítulo 18

1.1K 81 5
                                    

Quando eu voltei para a escola, segunda-feira, eu tinha esquecido o quanto eu adorava aquele lugar. Coisas que eu não dava a mínima antes passaram a ser algo que eu apreciava. Se você quer dar valor as coisas, passe por uma experiência de quase morte e tudo a sua volta será algo extraordinário para você.

O corredor que levava até a minha sala que sempre ficava lotado de gente nos cantos conversando entre si. O pátio principal da escola que no centro tinha uma árvore que eles falavam que tinham mais de 200 anos e a escola foi construída em volta dela. Tudo isso me deu uma nostalgia, como se eu não tivesse visto isso fazia vários anos.

Quando eu cheguei na minha sala, a maioria dos alunos olharam para mim com uma expressão de dúvida. Mesmo muitos não me conhecendo, eles notaram o meu sumiço.

Enquanto eu me dirigia para minha mesa, um menino alto e gorducho veio falar comigo. Ele tinha um barba espessa para um garoto que provavelmente tinha 15 anos, e sua voz era grossa.

- Aonde você esteve nesta última semana, Mary? - ele perguntou.

- Eu sofri um acidente. Não foi nada demais. - respondi. Por algum motivo, aquele garoto parecia ser legal. - Qual seu nome?

- Prazer, meu nome é Thiago. - ele estendeu sua mão e me cumprimentou.

- Prazer, Mary. 

Nesse mesmo instante, Jonatan entrou na sala. Ele olhou para mim e Thiago, e pude perceber uma ligeira pontada de ciúmes nele. Porém, ele não decidiu falar nada, apenas veio andando em nossa direção.

- Oi Mary. - ele disse, quando chegou próximo a minha mesa. A esta altura, eu já estava sentada, e tive que olhar um pouco pra cima para ver o seu rosto.

- Oi Jonatan.

- Olá Jonatan, acho que já nos conhecemos. - disse Thiago, com uma voz amigável mas ao mesmo tempo ameaçadora. 

- Sim. Já nos conhecemos.

O clima então ficou pesado. Eu não sabia oque estava acontecendo, mas claramente não era nada amistoso. Uma rivalidade pairava no ar, e eu não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo.

- Então vocês se conhecem? Que legal. Jonatan nunca me falou de você. - comentei, tentando aliviar o clima.

Antes que os dois tivessem chance de me responder, o professor de biologia entrou na sala. Jonatan se adiantou e sentou na carteira vazia atrás de mim, e Thiago se deu por derrotado e foi lá para o fundo da sala.

Por um momento, fiquei tentada a perguntar aonde Jonatan conhecia ele. Mas no momento, ele estava com uma expressão séria no rosto, e eu sabia que ele não iria me responder. Então, apenas virei para frente e fui prestar atenção na aula.

Nos três horários que se seguiram antes do recreio, troquei muitas poucas palavras com Jonatan. A maioria era sobre a aula. Em parte porque eu estava preocupada em não conseguir passar esse ano. Em outra, porque aquele assunto entre Thiago e Jonatan ainda deixou um clima tenso no ar.

- Qual é o seu lance com o Thiago? - Jonatan perguntou, quando tocou o sinal e todos estavam se levantando para ir pro recreio.

- Eu nunca tinha falado com ele antes. E hoje ele me veio perguntar como eu estava, já que eu sumi durante uma semana. - respondi. Não sabia oque estava acontecendo, e por isso minha curiosidade já estava lá em cima.

- Você deve estar se perguntando de onde eu conheço ele. - Jonatan comentou, para minha alegria.

- Sim. Venho me fazendo essa pergunta desde o começo do primeiro horário. - confessei.

Enquanto andávamos em direção ao refeitório, ele olhou para os lados se certificando que ninguém estava olhando. No momento, o corredor estava praticamente vazio, com uma ou duas pessoas ocasionalmente andando apressadas na direção oposta.

- Lembra no primeiro dia de aula, que eu cheguei com a roupa rasgada e todo sujo de lama? - ele perguntou, sussurrando.

Aquela pergunta me pegou de surpresa. Eu já até tinha esquecido aquele acontecimento de tanto tempo que tinha passado, mas agora que ele comentou nisso, minha curiosidade sobre ele se despertou.

- Sim. Eu me lembro.

- Ele foi o principal culpado de ter me deixado daquele jeito. - Jonatan disse. E por um momento, cheguei a ficar tonta por tanta informação que eu recebi ao mesmo tempo.

- Oque aconteceu naquele dia? - perguntei.

- Não posso lhe contar. Ao menos, não agora. - ele disse, com a voz um pouco ameaçadora. - Apenas esqueça esse assunto.

Eu poderia muito bem insistir para ele me contar. Porém, isso só iria piorar as coisas. E, como toda a história dele ter quase me matado estava pesando em nossa relação, eu decidi não chateá-lo.

Ele também não comentou hora nenhuma sobre o fato de eu ter negado o pedido de namoro dele. Mas eu podia sentir que isso ainda o machucava profundamente, mas ele não sentia raiva de mim porque estava com remorso por quase ter me matado.

- Bem que você poderia me contar essa história direito. Seria o mínimo que você poderia fazer por ter tentado me matar. - brinquei com ele. Mas eu jamais poderia previr oque iria vir em seguida.

A expressão de Jonatan no momento seguinte não era de brincadeira. Uma expressão de dor misturada com raiva. Seus olhos ardiam em fúria, e eu percebi que não deveria ter feito isso. Toquei logo na sua ferida mais exposta.

Ele colocou o braço em meus ombros, me obrigando a parar. Já estávamos quase chegando no refeitório, o corredor tinha ficado mais extenso e o pátio principal estava ao nosso lado. Seu aperto em meus ombros era forte, fazendo a ponta de seus dedos ficarem brancos pelo esforço.

Ele cerrou os punhos, e por um momento, eu jurava que ele iria me bater. Já estava até preparando para aguentar a dor.

Mas então, ele me beija.



Melhores Amigos?Onde histórias criam vida. Descubra agora