Capítulo 27

1.1K 64 1
                                    

Para minha infelicidade, não foi Jonatan que atendeu. Uma voz feminina chamou por meu nome do outro lado da linha. Por um agonizante momento, pensei que fosse a prima dele que o tinha beijado, porém no momento seguinte esta preocupação foi embora.

- Aqui é a mãe de Jonatan.

- Eu posso falar com ele? - perguntei, impaciente.

- Receio que.. não. - sua voz estava estranha, como se estivesse prestes a chorar.

- O que houve com ele? - uma nota de preocupação era evidente em minha voz. Só pelo o fato de a mãe dele ter atendido, significava que algo muito ruim aconteceu, e ainda por cima com voz de quem andou chorando.

- Jonatan ele.. sofreu um acidente. - disse a mãe dele, desta vez podendo perceber em sua voz que ela começou a chorar de verdade.

Durante alguns segundos, eu não soube o que fazer. De primeiro, eu simplesmente não aceitei aquilo, e achei que era uma grande brincadeira. Porém, logo depois, comecei a voltar a realidade e perceber os fatos.

Desliguei o telefone e o joguei na cama. Meus olhos ardiam intensamente com as lágrimas que estavam prestes a cair. Uma dor de cabeça terrível me atingiu, e precisei me sentar na cama pois não conseguia ficar de pé.

Eu, literalmente, senti a sensação de que meu mundo estava desabando. As lágrimas agora escorriam livremente por minha bochecha. Não fiz esforço para limpá-las, minha visão já estava ficando embaçada. A esta altura, já estava soluçando sem parar.

Meu celular tocou ao meu lado, e eu soube na hora que era a mãe de Jonatan. Atendi sem nem ao menos me dar o trabalho de olhar o número, e ouvi a voz da mãe dele do outro lado da linha.

- Preciso que você venha ver ele. - ela pediu, logo após eu atender. - Vou te mandar uma mensagem lhe passando o endereço. Venha o mais rápido possível.

Levei algum tempo para me acalmar. Com desânimo e desorientada, me levantei da cama e fui até minha mãe.

Quando eu fui até a cozinha, ela me olhou assustada. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar, meu cabelo todo bagunçado e minhas roupas amarrotadas.

- Mary? Oque aconteceu? - ela disse vindo em minha direção, com uma preocupação evidente na voz.

- Jonatan sofreu um acidente. - falei, com dificuldade. Minha voz estava baixa, quase se reduzindo a um sussurro.

Minha mãe teve quase a mesma reação que eu quando dei a notícia. Instantaneamente, lágrimas brotaram de seus olhos, e ela me deu um forte abraço envolvendo seus braços em torno do meu pescoço.

- Aonde ele está? Quero ir com você até lá. - sussurrou no meu ouvido.

- A mãe dele me passou o endereço. Está aqui. - peguei meu celular e mostrei para ela.

- Tenho uma ideia aonde fica isso. Não é muito longe daqui, uns seis quarteirões de distância. - dito isso, ela se apressou em direção a porta de entrada, e eu a segui atrás me esforçando para acompanhar seus passos.

Durante o caminho, nenhuma de nós trocamos uma palavra sequer. Andávamos a passos largos e apressados, e em questão de minutos chegamos ao destino.

Bem na esquina entre duas ruas, estava o hospital em que Jonatan estava hospedado. Era um prédio de cerca de cinco andares, com um estacionamento na frente que no momento tinha algumas ambulâncias e carros dos funcionários do hospital.

Vários bancos estavam espalhados do lado de fora, onde tinham várias famílias de pacientes conversando entre si, algumas animadas, e outras nem tanto.

Quando passamos pelas duplas portas da entrada, nos dirigimos para a atendente que ficava do lado direito. Mal tivemos tempo de falar com ela, e senti uma mão no meu ombro me puxando, e virei para ver uma senhora para a minha frente.

Ela era ligeiramente mais alta do que eu. Seus cabelos eram cacheados com a cor de um castanho vívido, seus olhos eram azuis e brilhantes, seu rosto continha várias rugas, com olheiras profundas ao redor dos olhos.

Era a mãe de Jonatan. Por um instante, não a reconheci. Seus olhos estavam inchados, seus cabelos bagunçados, e por suas feições no rosto dava para perceber o quanto ela estava cansada.

- Mary, me siga.

Sem esperar resposta, ela se virou e foi adentrando nos corredores do hospital. Minha mãe veio logo atrás de mim, com uma expressão de dúvida misturada com tristeza.

Minha mãe era apegada ao Jonatan tanto quanto eu. Conhecia ele desde a infância, e ela tinha total confiança nele. Sua reação ao fato dele ter acidentado era de se esperar. Não duvidava muito que ela estava sofrendo tanto quanto eu nesse momento.

Após alguns minutos andando pelos longos corredores até eu perder a noção de onde estava, a mãe de Jonatan parou em uma das portas e lentamente a abriu.

A cena a seguir quase me fez desmaiar de susto. Quando eu entrei no quarto junto com a mãe dele, quase instantaneamente o vi.

Deitado em uma maca de hospital bem no centro do quarto, estava Jonatan. Quase todo o seu corpo estava enfaixado, deixando de fora apenas braços, pernas e a cabeça. Seu rosto estava com vários arranhões na bochecha e na testa.

Em um impulso, corri até o lado dele. No momento, ele estava recebendo uma bolsa de sangue, juntamente com o soro, e ainda estava adormecido. Uma enfermeira baixinha e gorducha estava do lado dele trocando a bolsa de sangue, que já estava no fim.

- Ele vai precisar de mais três dessas. - a enfermeira comentou, se dirigindo para a saída. - Perdeu muito sangue, tem sorte de estar vivo.

- Espera! - disse, um pouco mais alto que pretendia. - Como ele se acidentou?

- Foi atropelado. Não temos detalhes de como ocorreu, mas encontraram ele na calçada ao lado de um carro que tinha batido em um poste. Ele estava com a respiração fraca, com a boca cheia de sangue, quase morto. A multidão que estava passando por ali perto ligou para a ambulância, chegamos bem a tempo.

- Ele vai ficar bem? - perguntei.

- Não sabemos ainda. Provavelmente irá deixar alguma sequela permanente, isto se sobreviver. - ela disse, em um tom de voz frio.

Ao ver meu rosto horrorizado, assim como o de minha mãe que estava ao meu lado, a enfermeira percebeu que fora muito rude, e disse logo em seguida:

- Desculpa se eu fui muito insensível. Mas esta é a verdade. A situação dele está bem complicada, não sabemos se vai sobreviver. Ele fraturou três costelas, uma delas perfurou seu pulmão, e deve ter alguma entidade divina que o ama muito para ele ainda estar vivo.

E, ao dizer isso, ela simplesmente deu as costas e saiu do quarto. Fiquei parada alguns segundos digerindo tudo aquilo que acabou de acontecer. Voltei para a realidade e me dirigi novamente ao lado de Jonatan.

Peguei em suas mãos com cuidado, e as apertei. Não sabia se o aperto era forte, porém eu não ligava. Pensei em abraçá-lo, porém não seria uma boa ideia.

Novamente, lágrimas escorreram livremente pela minha bochecha.

Me inclinei ate meus labios estarem bem pertos dos seus ouvidos. Sabia que tanto a mãe dele quanto a minha estava olhando, porém eu não ligava.

-Por favor, não me deixe. - sussurrei, na esperança que ele possa ouvir.







Melhores Amigos?Onde histórias criam vida. Descubra agora