Capítulo 3

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Era meu primeiro dia no Ensino Médio. Eu estava nervosa. Me sentei no canto mais fundo da sala e esperei o professor chegar, enquanto observava o rosto de cada pessoa deste ano. Algumas eu já conhecia, como a ruivinha gordinha que era amiga de todo mundo, chamada Hyana. O garoto prodígio magricelo que usava uns óculos gigantes chamado Felipe.

Porém esse ano ia ser diferente. Nos anteriores, a grande diferença de nota entre mim e Jonatan fizeram a gente ficar em salas separadas, mas como ano passado ele se esforçou o máximo, conseguiu uma boa média e iria ficar na minha sala esse ano.

Nós não formos juntos para a escola. Era tradição de nossas mães nos levar no primeiro dia de aula. Tentei protestar falando que eu já estava crescida para isso, mas foi em vão. Mesmo assim, gostava da companhia dela. Parecia que ela ficava particularmente mais feliz quando me levava no primeiro dia de aula.

- Está um ano a menos para fazer a faculdade e ter um emprego. - ela sempre comentava.

- As vezes eu penso que está mais preocupada com o dinheiro que vou ganhar do que a profissão que eu irei exercer. - comentei com ela durante o caminho.

Ela deu uma risada, e após alguns segundos se recuperando falou:

- Acho que eu não preciso me preocupar em você querer virar uma prostituta. Você nem consegue falar com garotos direito. - ela brincou. Ambas caímos em risadas e caminhamos em silêncio até a escola, apenas aproveitando a companhia uma da outra.

Fui tirada do meu desvaneio quando o professor entrou. Como eu já estudava lá desde o sexto ano, eu já conhecia quase todos. Porém esse era diferente. Ele era um senhor barbudo e gorducho, com cerca de 1.60 de altura. Pelo seu material percebi que ia nos lecionar arte.

- Meu nome é Hoston, e sou professor de Artes. - ele fez um gesto para que todos fizessem silêncio e continuou. - Irei estar com vocês até o final do ano, se Deus permitir, é claro.

Todos o cumprimentaram, e ele fez o clichê de todo começo de ano, pedir para cada um dos alunos se levantar e se apresentar. A sala tinha em torno de 30 alunos, então demorou boa parte da aula para todos se apresentarem. Quando foi minha vez apenas falei meu nome e minha idade e me sentei rapidamente.

Olhei em volta porém não consegui ver Jonatan. Fiquei intrigado com aquilo, e percebi que na sala tinha uma cadeira vazia. Como se por ironia do destino, no mesmo instante Hoston aponta para ela e pergunta para ninguém em específico:

- Quem é o senhor que faltou de aula no primeiro dia? - ele perguntou. Porém ninguém respondeu, apenas fizeram uma expressão de dúvida.

Por um momento fiquei tentada a responder, porém meus pensamentos estavam ocupados demais pensando no que tinha acontecido com ele. É óbvio que sempre tinha a chance de ele ter ultrapassado ontem a noite e tivesse ficado até ao amanhecer jogando com seus amigos no Skype. Porém no 9° ano ele tinha se esforçado muito para tirar uma nota boa e ficar na minha sala e eu não acho que ele iria desperdiçar isso e ser irresponsável a este ponto.

Pela segunda vez no dia, a ironia do destino fez ele aparecer neste exato momento na porta da sala. Todo mundo se virou para ele, e o professor que estava de costas para a porta vendo a súbita mudança de olhares os acompanhou.

Este era Jonatan, sem via de dúvidas. Porém só consegui reconhece-lo porque eu conhecia bem seu rosto. Ele estava completamente diferente. Sua camisa estava coberta de lama ao mesmo tempo que rasgado nas mangas, e seu cabelo tinha vários sinais que havia sido cortado bruscamente por uma tesoura.

- Oque diabos aconteceu com você? - me levantei da cadeira e me aproximei dele enquanto o resto da sala, incluindo o professor, olhada sem palavras para ele.

- Longa história, Mary. Depois eu te conto. - ele se dirigiu para a cadeira vazia na sala, e desta vez o professor interviu.

- O senhor entra nesse estado faltando apenas 10 minutos para acabar a aula e pensa que pode entrar? - ele disse ríspido. 

Jonatan calmamente se virou para ele. Deu uma rápida observada no professor, depois em si mesmo. Ele estava imundo.  Com passos largos e lentos, ele se aproximou até o professor e disse, calmamente, perto do seu ouvido.

- Eu vou entrar na sua sala. E eu vou assistir os 10 minutos restantes. E você não vai me impedir.

Seu tom de voz era tão ameaçador que eu até olhei assustada para ele. Esse era um Jonatan que eu não conhecia. Fiquei em receio de perguntar para ele oque tinha acontecido, e o professor se afastou dele e deu continuidade a sua aula como se nada tivesse acontecido.

Definitivamente tinha algo estranho acontecendo.


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