Dois meses se passaram e a situação continuava a mesma.Semanas atrás eu decidi ir ajudar vovô com as plantações, mas foi só passar pela porta que travei no lugar. O olhar curioso dos trabalhadores, me fez virar e voltar para dentro.
Estava cansada de ficar em casa, mas nunca me vinha coragem para passar pela porta. Até que um dia, vi vovó com a perna machucada.
- O que aconteceu, vovó? - Perguntei, me ajoelhando para ver melhor a ferida.
- Nada, minha querida - respondeu.
Eu sabia que era mentira, sua ferida não parava de sangrar. O corte não parecia fundo, então deveria ser apenas um arranhão, mas eu precisaria fazer um curativo.
- Mentira - disse uma criada se aproximando. - Isso é culpa sua, criança. Um grupo de mulheres a derrubou sob algumas caixas hoje no mercado.
- Chega Amelia! - Gritou vovó raivosa. - Está demitida, dê o fora da minha casa.
- Isto é verdade, vovó? - Questionei a encarando.
- Não... - começou a falar, mas a interrompi.
- Olhe nos meus olhos - pedi e ela abaixou a cabeça envergonha.
- Eu estou bem, querida.
- Não está, não. Por que não me pediu para ir ao mercado no seu lugar? Você sabe que não me importo em sair.
- Não era necessário e você ainda não pode sair.
Isto era verdade. Se sendo minha avó, ela conseguiu um arranhão. O que fariam comigo? Peguei um pano que estava sob a pia da cozinha e o molhei um pouco.
- Eu posso me disfarçar - propus, enquanto limpava sua perna. - Não se preocupe comigo, vovô e papai me ensinaram a me defender.
Papai. Tinha recebido uma carta dele, informando que estava chateado com a situação e que gostaria muito de estar aqui. Mas que não podia pedir uma folga naquele momento. Então, me pediu para ser a garotinha valente que me tornei nesses anos com seu treinamento.
- Lady Campbell - chamou um criado se aproximando.
- Diga.
- A cozinheira precisa de alface para o jantar, gostaria que eu fosse comprar?
- Não, eu irei - disse, decidida enquanto me levantava.
- Querida...
- Não se preocupe vovó. Será bom pegar um ar diferente, faz muito tempo que não saio de casa.
- Tenha cuidado - ordenou irritada.
- Terei - prometi e beijei sua testa.
Precisava voltar a enfrentar o mundo real.
Fui até meu quarto e peguei um de meus vestidos mais fechados. Estava tremendo, mas sabia que teria que enfrentar o público algum momento. Depois de colocar o vestido, prendi o cabelo no alto com um coque e o escondi com um chapéu. Peguei um cachecol e o enrolei tentando deixar meu rosto escondido ao máximo, eu tinha sorte que estávamos no inverno.
Sai do quarto e parei em frente a porta de entrada. Com a mão tremendo, virei a maçaneta e respirei fundo. Abri um pouco e verifiquei se tinha alguém passando, seria muito suspeito se me vissem saindo. Meu coração estava palpitando quando dei o primeiro passo e logo depois consegui dar o segundo. Finalmente. Soltei o ar que tinha prendido e passei a andar mais depressa, teria que ficar próxima das árvores para evitar dar de cara com alguém. Consegui chegar ao mercado sem fazer nenhuma besteira e me aproximei rapidamente do senhor que vendia alface, teria que ser rápida.
Peguei um pé de alface e, após uma rápida analise, constatei que estava bom. Entreguei para o vendedor, deixando meu rosto abaixando.
- Boa tarde, minha jovem - cumprimentou ele e gelei. Fingi ser esnobe e lhe entreguei o dinheiro sem responder. "Sinto muito, senhor" pensei, ao me sentir mal pelo pobre velho. Ele me estendeu o alface e me virei para ir embora, mas acabei olhando para a banca de jornal logo a frente. Muito tentador. Vovó tinha me proibido de ler e passou a jogar fora todos depois que lia pela manhã.
Discretamente fui a banca, empurrada pela minha curiosidade, e peguei o primeiro jornal.
"Rainha da Inglaterra ainda não deu nenhuma declaração sobre a filha".
Lembro que na época, eu tinha ficado animada com a noticia, até passei a pensar que toda aquela historia era apenas uma mentira e logo a rainha esclareceria tudo. Mas o me chamou a atenção foi o jornal debaixo.
"Família real volta para cidade e promete fazer um baile".
Será que finalmente teria noticias de Oliver? Estava tão contente que quando me virei para voltar para casa, dei de cara com um homem e acabei caindo no chão.
- Ei garota, olhe por onde anda! - Gritou irritado e foi embora.
Irritada peguei meu chapéu, que tinha caído, e me levantei.
- A Bastarda! - Ouvi alguém gritar e quando olhei para cima, vi várias pessoas me encarando.
- Ela quer envergonhar todos nós para a família real.
- Deveria sentir vergonha de respirar o mesmo ar que nós.
Minha cabeça começou a rodar e parei de ouvir todos ao meu redor. Meu coração palpitava e as lágrimas caiam forte por todo meu rosto. Senti uma dor forte e percebi que alguém tinha quebrado uma garrafa na minha cabeça. Como as pessoas podem ser tão malvadas? Me ajoelhei e puxei minhas pernas tentando me proteger, mas não parava de sentir coisas batendo contra meu corpo.
Até que senti uma mão tocar em minhas costas e todas as coisas pararem de serem atacadas. Levantei a cabeça e encontrei os tão conhecidos olhos verdes que me fazia perder horas de sono. Ele perguntou algo, mas eu não consegui ouvir. Só conseguia pensar que meu velho amigo tinha finalmente voltado. Me levantei apressadamente e o abracei forte. Era tão bom finalmente me sentir em casa. Senti suas mãos fortes me puxando para seu colo e o permiti me puxar para longe de tudo aquilo.
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A Bastarda - O Sangue Sujo da Família Real (Completo)
Cerita PendekEliza leva uma vida tranquila ajudando os avós a venderem os frutos cultivados em sua propriedade. No entanto, tudo se transforma com a chegada de uma estrangeira à cidade, revelando um segredo surpreendente: Eliza é, na verdade, Eliza Williams Woo...