Meu Primo Playboy Carioca

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CAPÍTULO 16

Voltei ao trabalho no dia que sairia o resultado do mestrado, passei o dia tão ocupado que nem me lembrava de procurar saber. Ao final do dia meu primo me liga perguntando, eu disse que iria na UERJ para dar uma olhada. Não contava muito em ser aprovado, afinal a prova havia sido catastrófica, na verdade eu já estava vendo novas possibilidades, talvez uma pós-graduação paga ou algo assim, mas sempre com um gosto amargo já de vencido.

Só que para minha total surpresa meu nome estava na listagem, havia sido aprovado e figurava como um dos melhores classificados. Eu não acreditava. A primeira pessoa que eu pensei em ligar foi pro Rafa.

– Rafa! Eu passei! Passei! – minha voz sumiu tomado pela emoção

– Caralho lek!! Eu sabia! Você é O CARA!!

Ficamos falando pelo celular. Eu sentado no chão, escorado na parede onde estava a lista dos aprovados, ainda de terno, super feliz como uma criança.

Naquela noite fomos jantar num restaurante que eu adorava. Eu estava tão feliz, tentei esquecer que ainda faltavam duas fases, a entrevista e a prova de línguas.

Passei a semana revisando o projeto de dissertação para ser apresentado na entrevista, dormindo pouco, estressadíssimo, só meu primo que ficava fazendo palhaçada pra me fazer rir.

No dia de apresentar meu projeto à banca, foi pior que o dia de defesa da minha monografia na graduação. Eu suava dentro daquele terno, minhas mãos tremiam, eu fui ao banheiro. Olhando-me no espelho repetia pra mim mesmo: “Segura a barra, tu num é frouxo, você não está aqui pra brincadeira, por isso chegue chegando, botando pra foder”.

Meu primo estava lá, junto com a Gabi, foram pra dar uma força.

A banca formada por três professores parecia totalmente alheia a tudo, emanando um ar de superioridade que me deixou irritado. Eles não estavam ali para ser bonzinho, por isso eu não poderia esperar misericórdia. Comecei a falar, apresentando meu projeto de pesquisa, encarando bem eles. Era como uma competição, alias, aquilo era uma competição e eu não aceito perder.

Eles fizeram algumas perguntas sobre os livros que eu pretendia usar, opinaram um pouco e pronto.

Dias depois, após mais um período de agonia, saiu o resultado e eu havia passado. A prova de línguas foi só uma formalidade, pois eu tinha estudado a vida toda, e assim acabei ficando muito bem colocado na classificação final.

Eu mal podia acreditar, euzim, menino do nordeste, um desconhecido do Rio Grande do Norte, estava num dos melhores mestrados do Brasil. Senti como se finalmente conquistasse meu lugar ao sol da Cidade Maravilhosa.

Minha mãe ligou para dar os parabéns, e no final ela disse que sabia desde o início que eu passaria, que ela tinha a sensação que nunca mais eu voltaria pra casa, agora que eu havia voado pra longe. Coisas da minha mãe.

Papai também ficou muito feliz, todos meus amigos ligaram.

O mais estranho disso tudo foi que Deus me ligou.

Calma lá! Não estou bancando a Baby do Brasil, dizendo que tenho contato direto com forças cósmicas incognoscíveis. É que no escritório onde eu trabalhava, tínhamos a mania de chamar o todo poderoso chefão, dono do escritório de Deus. Eu nunca havia trocado uma palavra com ele (afinal poucos falam com Deus), achava até que ele nem sabia da minha medíocre existência de mortal. Estava enganado.

– Alô, Cedeño?

Eu não reconhecia aquela voz, mas pra me chamar pelo sobrenome só podia ser do trabalho, ou alguém do ramo jurídico, pois o pessoal do direito tem mania de se chamar pelo sobrenome.

– Sim, é ele.

– Aqui é DR. Fulano de tal (segue-se aqui a uma lista de sobrenomes, ele se apresentou usando o nome completo, parecendo personagem de novela mexicana, ou seja, ele queria dizer: “você está falando com Deus”).

– Dr. Fulano?? – Eu engasguei, fiquei totalmente sem saber o que falar.

– Bem meu rapaz, soube que você passou no mestrado pra UERJ, estou ligando para parabenizá-lo por essa conquista. Creio que você já está ciente da reunião que teremos amanhã, na qual você terá participação.

Claro que eu não sabia de porra de reunião nenhuma. Eu era do baixo clero e reunião com Deus era só pra os advogados antigos. Mas aquele era o jeito dele de dizer “Você está intimado a comparecer à reunião”.

– Sim doutor! Claro, estou já ciente da pauta – eu não podia deixar a peteca cair.

Nos despedimos, de maneira muito formal, e no outro dia eu fui feito bala implorar pra secretária de Deus me inteirar do teor da reunião.

Na reunião, estava todo o alto clero e Deus à mesa. Praticamente a Santa Ceia, essa citação pode parecer meio herege, pois se tratava de um monte de advogados.

Eu entrei me sentindo meio inseguro, mas não demonstrava, levantei a cabeça e entrei como se fosse habitual participar daquela reunião. No começo Deus falou:

– Gostaria de parabenizar Dr. Cedeño, nosso mais novo mestrando aqui do escritório.

Putz! Meu auto controle deve ter ido pro espaço, sentir meu rosto queimando vermelho, enquanto o pessoal me aplaudia. Eu não sabia como Deus tinha descoberto minha aprovação, se bem que ele era Deus ne?

– Aproveito para informar a todos que ele ficará responsável pelos advogados juniors do nosso escritório.

Ele passou para as outras pautas da reunião e eu nem podia acreditar. Tinha acabado de ganhar uma promoção e entrado para o alto clero.

As aulas do Rafa começaram e ele estava muito empolgado, parecia que estava disposto a levar a sério. Eu tentava ajudar ele como podia, pra que essa empolgação não acabasse com o tempo.

A gente continuava se curtindo, sempre em casa as escondidas, e era cada vez mais legal. Mas eu começava a achar que aquilo talvez fosse mais sério que um tesão. Meu primo não saía mais com os amigos, ficava todo o tempo comigo. Eu não sabia até que ponto isso podia ser bom ou ruim. Ele me tratava cada vez mais com carinho e eu sou meio difícil de lidar com essas coisas.

Eu continuava falando com a Gabi, mas não podia ficar com ela, afinal seria sacanagem da minha parte, eu não queria nada sério com ela, e minha parada com meu primo era já muito complicada. Com o tempo ele tinha umas crises de ciúmes, sim, eu comecei a identificar aquilo como ciúme. Se um cara passava me olhando na rua, ou se eu saía com a Gabi. Isso me preocupava, era algo do tipo: “Pow, ele pensa que sou propriedade dele?”.

Um dia fiquei puto e disse:

– Não tente me impor regras, ou você vai saber que não sou cachorro pra ter dono.

Passamos bem uma semana sem se falar, mas a gente voltava. Ele continuava marrento e a gente vivia brigando como cão e gato, o que só servia pra apimentar ainda mais o sexo. Era incrível, a relação da gente, de parceria. Nenhum dos dois abaixava a cabeça. Raphael era meu nêmeses.

Continua...

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