Cap. 2

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A sala era fria, como todo o convento que ficava instalado em uma antiga casa grande. As paredes eram de pedra e havia apenas uma lareira para esquentar o ambiente, embora estivesse desligada. Dentro da sala, apenas dois sofás forrados de um veludo azul marinho, duas cadeiras perto de uma mesa de madeira muito bem talhada. E era, justamente na cadeira, que ficava de frente para porta de entrada da sala, ele estava parado na sombra do passado de Daniele.

O Padre Washington não teria culpa, mas a sombra negra que ele trazia era inevitável. Para Daniele ele era uma lembrança da morte.

– Minha querida! – Padre Washington é o primeiro a perceber a presença dela e levanta-se para abraçá-la – Como está criança? – O Padre, com a melhor das intenções, abraça Daniele, que paralisada, não move um músculo, ele percebe a imobilidade dela – Querida, há algo errado?

– Daniele. – Diz Mary – O Padre veio aqui para te visitar.

Daniele pisca os olhos na intenção de acordar do transe.

– Sim. – Ela tenta disfarçar – desculpe-me Padre eu estou muito cansada e na verdade estava indo tomar um banho antes do chá.

– Ora, vai dizer que você abandonou os laços franceses e dedicou-se às práticas inglesas? – Brinca o Padre.

– Já moro aqui há tanto tempo que fica inevitável não se envolver com alguns costumes. – Ela força um leve sorriso – Mas não me esqueci da França.

– Entendo.

– Mas qual o real motivo do senhor estar aqui? – Ela pergunta curiosa.

– Vim acompanhar a cerimônia do nosso mais novo chefe de estado.

Era algo meramente teatral, levando em conta que os chefes de estados e, até mesmo o de governo, eram escolhidos a dedo independente da aprovação ou da benção de quem quer que seja.

– Ah! Ultimamente tudo aqui gira em torno dessa notícia. – Diz Mary.

– Pois então, já que o senhor ficará tanto tempo eu terei mais oportunidades para conversar. Agora se me permitir, gostaria de tomar um banho. – Daniele mais parece uma pessoa hipnotizada, não pisca os olhos, apenas deseja sair dali.

– Pode ir querida, eu ficarei para o chá.

– Ótimo! – Daniele retira-se visivelmente atordoada pelas suas lembranças, ela não queria conversar com o Padre e faria de tudo para evitar esse diálogo.

Depois de um longo banho e algumas tentativas de afogamento, Daniele foi para o refeitório, onde o Padre estava sentado ao lado de sua tia conversando e contando suas divertidas histórias de viagens. Sem ter como fugir, ela senta em um lugar reservado para ela, de frente para o Padre, Daniele estava frente a frente com seu passado.

Padre Washington segura na mão de Daniele.

– Eu soube de seu irmão, estive com ele algumas vezes na Alemanha e posso lhe garantir que ele não para de falar em você.

– Fico feliz em ouvir isso. – Ela sorri de um jeito leve, mas sincero, pois foi o único que confirmou que seu irmão não havia lhe esquecido.

– Sabia que ficaria menina.

Para sorte de Daniele, a irmã Ilda sentou-se à mesa com eles, para ela não faltavam histórias loucas também; assim, a atenção do Padre se voltou para ela. Daniele riu também, mas era o riso mais forçado que ela já tinha protagonizado.

A máscara de um anjoOnde histórias criam vida. Descubra agora