Lá fora está chovendo, uma chuva fina de outono. Daniele está sentada na cama que fica encostada na janela. Ela pensa, como sempre, no seu passado, no seu presente e no seu futuro. Agarrada à capa que era de sua mãe, já são 8h da manhã, ela se arruma, coloca suas botas e sai.
Passos largos por causa da chuva, que mesmo fina é enjoada de se escapar. Daniele chega à biblioteca com partes do corpo ainda molhadas. Ela abre a porta e ainda não há ninguém, a chuva espanta até os mais estudiosos. Aproveitando a solidão para refletir, o que estaria acontecendo, tudo tão rápido e inusitado, que nem deu tempo de ela tomar fôlego. Daniele respira fundo, sem poder perceber se de paixão ou de preocupação.
Finalmente Patrick chega e ela aproveita para recolocar uns livros no lugar. Continua perdida em seus pensamentos, isolada em sua ilha literária, colocando os livros na prateleira no final da biblioteca.
– Daria tudo o que tenho, até mesmo o que não tenho, para ser o dono de seus pensamentos – Tão ele, tão doce, tão Luiz.
– Olá! – Daniele diz timidamente – à que devo sua visita? – Ela apoia os livros que tinha na mão em uma prateleira vazia.
– Falta agora pouco para o Baile. Gostaria de saber se você não quer se juntar a mim.
O coração de Daniele afunda. Depois de tudo, como Luiz iria reagir a isso? Mas ela respira fundo e dispara de uma vez apenas:
– Eu vou com Henrique. – Ela o encara por uns minutos, olhando para avaliar sua expressão, que, por hora, não poderia ser diferente.
– Não me surpreende. – Ele diz secamente, escondendo o nó de desgosto na sua alma, se não se fizesse tão frio seria até capaz de chorar – Eu acho que apenas queria ter certeza. – Daniele encara o chão, apoiando uma das mãos na estante de livros – Eu a perdi. – Um silêncio paira e, como uma navalha, atinge Daniele, que respira fundo, como se engolisse as lágrimas de... Pena? Não, Luiz não merecia lágrimas de pena, ele era mais valioso que isso e ela sabia.
– Eu não quero falar disso. – Ela ainda não consegue encará-lo, então olha acima de sua cabeça e desviando o olhar para os lados – Eu não quero me afastar de você, tem grande valor para mim e sabe disso. Apenas... Não poderia ser você.
Luiz pesa a face com uma expressão de pura reprovação e decepção.
– Faça o que bem entender. – Ele diz, com amargura – Sua vida, não é? – Daniele olha para ele e concorda – Então faça o que bem entender. Só... – Ele hesita, mas acaba amansando o tom de voz – Apenas não se esqueça de mim.
– Nunca. – Daniele sorri e para a surpresa de ambos, ela se lança contra seus braços de uma forma que Luiz se escora para não cair. Daniele, apertando forte seus braços em volta, e ele a correspondendo com um abraço forte. – Eu sei que você não quer ouvir o que eu tenho para falar, mas o amo como um irmão, você é muito especial para mim e nunca se esqueça disto, nunca se esqueça disto! – Ela enfatiza.
Ele não responde, apenas a abraça, e então, a deixa, olha em seus olhos e simplesmente se vai.
***
Assim como a chuva, o dia é enjoado e constante, mas algo chama a atenção de Daniele "Eu vou te ver amanhã"; a voz de Henrique aparece em sua cabeça e ela sente... O que seria? Sua falta? Ele não aparece e ela se preocupa, distraída em seus pensamentos, nos beijos e em sua respiração. Luiz havia a beijado, mas não era a mesma sensação, Henrique tinha algo mais, que a faz travar a garganta quando tenta engolir e pensar nele ao mesmo tempo.
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A máscara de um anjo
General FictionNem tudo que reluz é ouro...Nunca se pode julgar um livro pela capa. Daniele, uma jovem bibliotecária, sabia bem disso. Mas o amor as vezes cega, nos envolve com a paixão e nos vicia com seus perigos. Órfã em um cenário pós-apocalíptico, com o mundo...