Cap. 6

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O dia amanhece nublado, devido ao calor a chuva agora chega para refrescar. A mudança de estação está começando, o vento fica mais forte e Daniele já se pode permitir tomar algo mais quente, pois o calor do dia já não é tão insuportável.

Ela estava arrumada para trabalhar, mas não queria. Agora tinha as chaves e algumas responsabilidades, porém com Patrick disponível não eram necessários os dois. Poderia ficar ausente hoje e não faria diferença para ninguém. Sentada no banco, com os pés apoiados no beiral da varanda, olhando o bosque aos fundos do convento, as nuvens caindo vagarosamente, pesadas pelo volume da chuva. Daniele não estava pensando em nada, só observava.

– Daniele. – Mary interrompe o silêncio. Ela olha para a tia ainda com os pensamentos longe, como se colocasse o cérebro lentamente para funcionar – Tem alguém para vê-la.

– Alguém? – Ela força seus pensamentos para tentar adivinhar quem – Alguma outra surpresa inesperada?

– Eu não sei, mas depois gostaria que você mesma me explicasse. – Mary retira-se. Daniele fica sem entender nada. De repente, ele entra na varanda, fazendo com que ela se levantasse em um movimento só.

– Bom dia. – Henrique estava de pé na frente dela, Daniele estava com a caneca na mão quase entornando o chá. – Eu percebi que você não apareceria na biblioteca hoje. – Daniele não sabia que horas eram exatamente, mas percebe que poderia passar das 11h da manhã e que o tempo nublado estava a enganando.

– O que faz aqui? – O primeiro impulso dela é agressivo e ela tenta se acalmar e reorganizar os pensamentos, "Liga cérebro, liga!!!!!!" – Digo... Há algum problema?

– Não, eu só precisava conversar com você.

Agora que Daniele estava observando Henrique mais de perto, ela não consegue vê-lo como um homem charmoso, mas como um garoto assustado, com problemas psicológicos, pois o olhar fica confuso e perdido, a sensação é que a qualquer momento ele pode desabar em choro. Também não era difícil imaginar que frequentar guerras com a intensidade que ele participou não é bem uma aventura, então ela se acalma.

– O que houve? – Ela coloca a caneca no banco e caminha devagar até ele – Em que posso te ajudar?

– Não me sinto à vontade de conversar aqui, na verdade nem tenho muitas palavras para me expressar, eu só quero desabafar, eu só... – Ele começa a se engasgar nas palavras.

– Tudo bem. – Daniele segura firme a mão dele – Venha comigo, eu sei onde posso te levar.

Era perigoso demais, era ousado demais, mas ela fez. Daniele pegou o cavalo na cocheira, por sorte o de Martim estava lá também, os dois entram bosque a dentro. Mary assiste à cena de longe; e, com certeza ,a sobrinha teria muito o que explicar a ela.

Eles cavalgam, uma garoa fina inunda o bosque, não é uma chuva, mas começa a molhá-los refrescantemente. Daniele o conduz até uma casa de caça que fica no coração do bosque, em uma parte mais alta, quase em uma colina. Eles param à porta, deixam os cavalos amarrados embaixo do telhado e entram. Dentro da casa há um fogareiro, muitas armas e um velho sofá.

– Este não é o melhor lugar, mas... – Diz ela desculpando-se.

– Está ótimo, não tem ninguém aqui a não ser nós. – Essas palavras assustam-na, pois talvez não tenha calculado as possíveis consequências desse ato impensado. Ela estava sozinha dentro do bosque com um cara que estava à beira de um colapso nervoso. Ainda bem que a casa estava repleta de armas, o que poderia resultar em um assassinato mútuo caso ele tentasse agredi-la. Ela balança a cabeça para afastar a cena de horror que ronda sua mente.

A máscara de um anjoOnde histórias criam vida. Descubra agora