– Bom dia! – Diz o homem parado ao lado de fora, estatura mediana, pálido, de cabelos negros enrolados. Mary não consegue mover-se, não pronuncia nenhuma palavra sequer. – Está espantada? Eu também estou de ver que levou a vida religiosa a sério mesmo. – O homem sorri sarcasticamente.
– O meu passado ficou para trás. – Mary tenta mover-se aos poucos – Aliás, o nosso passado ficou para trás, você não tem que me julgar pelo que já passou.
– Fácil para você falar, as consequências dos seus atos não atingiram você. – O homem fica agressivo e ela tenta manter-se firme e na defensiva.
– Os meus atos não tiveram nada a ver com o que aconteceu...
– Basta! – O homem a interrompe. – Você sabe muito bem o que vim fazer aqui. – Mary afasta e termina de abrir o portão para o homem entrar.
***
Já passaram das três da tarde, quando Mary pôde ver Daniele voltando para o convento.
Em seus pensamentos, Daniele reafirmava seus novos planos. "Eu vou esperar até o outono, mas o que pode mudar em duas semanas? Vou tentar dar uma chance a Luiz e a toda à história de viver uma vida normal. Nada mais vai acontecer, não posso mais viver no convento, enterro meu passado, meus planos. Por mais que isso me doa. "
Ao aproximar-se mais do convento, Daniela consegue ver que sua tia está na varanda dos fundos conversando com um homem e seu corpo estremece. A pensar que poderia ser outro pedaço ruim do seu passado. Ela guarda rapidamente o cavalo e corre para varanda, começa a ouvir os passos, Mary adianta-se à porta e, antes que Daniele entre na varanda, ela interrompe a sobrinha:
– Tem alguém que quer te ver. – Ela empurra Mary, pois o olhar de sua tia estava tão alarmante que o terror e a ansiedade de saber quem era a dominou.
– Você deseja falar comigo? – Daniele aproxima-se do homem que está de costas para ela, olhando para a imensidão do bosque que ficava aos fundos do convento. Ela mantém certa distância.
– Você cavalga como seu pai. – O homem responde entre os dentes, a voz é parecida, mas ela ainda não identifica.
– Pode me dizer quem é você, o que quer comigo e; principalmente; como você conheceu meu pai?
– Será que... – O homem volta-se para Daniele a fim de ver sua face – Você não reconhece seu próprio irmão?
O mundo caiu novamente, ou será que se reergueu? Ela não sabe. Todas as afirmações que ela fizera a si mesma há uns minutos caíram por terra. O horizonte ressurgiu.
– Jean! – Daniele diz quase sem fôlego e corre para seus braços. São muitos sentimentos que a rodeiam neste momento, sua família, tudo que ela ainda tinha de mais próximo bem ao lado dela. O futuro, o passado, juntos no presente. – Por que você demorou? Achei que você nunca mais viesse. .
– Eu prometi a você que voltaria, não confiou em mim? – Jean à solta para olhar em seus olhos lacrimejantes.
– Eu acreditei o tempo todo, mas começaram a especular que você estaria com outros planos, outra vida... – Daniele engasga-se com tamanha emoção; e, ao mesmo tempo sentindo-se nervosa por não saber se sua vinda era para sempre.
– Calma Daniele. – Jean a interrompe – Olhe para mim. – Ela o olha tentando conter os soluços que a fazia engasgar. – Eu estou aqui - há uma pausa, ele se certifica que ela está olhando dentro dos seus olhos – Estou aqui para sempre. – Ela cai em lágrimas e pula outra vez em seus ombros, amarrando os braços em volta para que ele nunca mais a solte, nunca mais a deixe. Mary, porém, assistia à cena de longe, preocupada, não sabia ao certo o que aconteceria.

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A máscara de um anjo
Fiksi UmumNem tudo que reluz é ouro...Nunca se pode julgar um livro pela capa. Daniele, uma jovem bibliotecária, sabia bem disso. Mas o amor as vezes cega, nos envolve com a paixão e nos vicia com seus perigos. Órfã em um cenário pós-apocalíptico, com o mundo...