O orgulho vem antes da queda

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Uma semana antes do Natal, Lucy entregou-me um pedacinho de papel cor-de-rosa em formato de uma cartinha, que estava sobreposto por um outro pedaço de papel, e este era uma folha de caderno. Era um convite para que eu fosse assistir a sua peça na escola, O Mágico de Oz. Ela parecia um tanto feliz, e curiosamente, orgulhosa.


"Mamãe e papai vão ver a minha peça. Quero que você vá também, por isso estou o convidando do jeito certo. Meu papel será o da Bruxa Boa do Norte, e eu fiquei muito feliz. Você sabia, que diferente do filme, os sapatos da Dorothy são prateados e não vermelhos?"


Seu mero recado cerimonioso escrito em um pedaço qualquer de folha de caderno, soava mais como uma ordem do que um simples anúncio. 

As coisas na escola aconteciam de forma devagar. A maioria dos alunos estavam empolgados para o recesso de Natal, enquanto os alunos do terceiro ano estão uma pilha com o apressado baile de inverno que acontecerá daqui a alguns dias. Rachel e Peter pareciam estar se engraçando, embora eu tenha certeza de que o que acontecia entre eles estava oculto dos olhos de Billy. Ele não ia gostar de ver nenhum de seus amigos namorando a sua irmã. 

Billy, por outro lado, ainda parecia irritado com a rejeição de Mary, e esboçava essa insatisfação em Karen, tratando-a como se fosse um mero pano de trapo, agindo com tremendo desprezo para com ela, que continuava a beijar o chão por onde ele passava. 

Em um dia qualquer, a professora de L. Inglesa nos obrigou a decorar a sala de aula, e também o corredor, para as datas festivas de fim de ano. Descobri que a Donna, a nossa professora, possui um álbum recheado com cartões-postais natalinos de todos os tipos, tamanhos e de todos anos. Ela era aficionada pelo Natal, e obrigar a turma inteira decorar a sala de aula para a tal festa era a prova disso. Surgiu com uma caixa de papelão repleta de enfeites como bolas coloridas, guirlandas, laços e fitas vermelhas, pistolas que utilizavam bastões de cola, meias feitas de folhas de E.V.A., além de um cordão ornado com pequeninas estrelas douradas. Donna mandou-nos soltar a imaginação, parecendo muito diferente da habitual professora rígida e exigente de sempre. Para nos chantagear a participar daquilo, Donna disse que daria pontos para quem ajudasse mais. Naquele instante, todos encarnaram um invejável espírito em equipe.

— John, pode me fazer um favor? — era Lara, com seus óculos redondos e diáfanos falando comigo. Ela quase nunca falava comigo. — Pode arrumar mais desses enfeites? Acho que tem mais desses em outra caixa no depósito — mostrou-me o que parecia ser uma folha verde de uma planta que nunca vi com algumas bolinhas vermelhas. Era um visco artificial. 

Lara pediu para mim para que fosse buscar mais viscos artificiais no depósito empoeirado da escola. Atendo ao seu pedido, não por caridade, mas porque era melhor que mexer na estúpida pistola de cola quente. As pontas dos meus dedos estavam coladas e chamuscadas. Achava aquela decoração natalina um verdadeiro desperdício, pois Natal sempre combinava com dias de neve, e em Paradise, temos dias cinzentos, apáticos e encharcados. Foi nesse mesmo dia que vi Mary sair da secretaria de cabeça baixa. Ela havia faltado as aulas por muito tempo. Estava com o rosto abatido, e era perceptível que havia perdido muito peso.  

Não pude me aproximar para perto dela, pois logo mais Jake também saiu da secretaria, e estava acompanhando-a. Passaram por mim pelo corredor, e não disseram uma palavra ou nem ao menos, olharam para mim. Era como se eu fosse invisível para eles.

— Vamos, Mary — Jake disse para ela. — A decoração natalina da escola está uma beleza, não é? Ainda temos o horário de Química para assistir. Não se preocupe com a professora Donna, falarei para ela que você não precisa participar da decoração natalina da nossa sala.

Nós, em uma casca de noz!Onde histórias criam vida. Descubra agora