Déjà vu

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PARTE III

JOHN



Eu não estava nada animado para ir para a L. M. Alcott High naquela segunda-feira, porém o barulho ressoante do despertador não me deixaria dormir mais cinco minutos. E se eu dormisse mais cinco minutos, não acordaria mais.

As confissões de meu passado para Mary, segredos que prometi jamais desnudar diante de mais ninguém, agora também pertenciam à ela. Era como se uma enorme pedra fosse removida de meu coração. Eu já não me sentia mais culpado pelos temores do passado.

Escovo os dentes, lambuzo meu cabelo com gel, e visto uma camisa branca, e por cima, uso um moletom azul com as palavras "New York 1962" estampadas em azul escuro bem na parte frontal.

Algo agita-se em meu peito. Não sou supersticioso e nem nunca o fui, mas tenho um péssimo pressentimento de que algo muito ruim vai acontecer. 

Desço as escadas, e vou para a cozinha comer um pouco de cereal. Encontro-me com Lucy, já sentada na cadeira alta diante do balcão, comendo em sua tigela e prontamente vestida em seu uniforme escolar. 

— Estava conversando com a Mary ontem?

— Isso mesmo — confirmo enquanto pego o galão de leite da geladeira e apanho a caixa de cereal de cima do balcão. 

— E você não assistiu o resto do culto?

— Pois é — digo, submergindo a colher no leite com o cereal e empurrando para a minha boca.

— John, você e ela estão namorando?

Imediatamente, surpreso com a pergunta nada sutil de Lucy, cuspo o cereal para longe. Era impressionante como ela conseguiu fazer um questionamento tão sério e continuar tão tranquila, como se tivesse apenas perguntado "que horas são" ou "será se vai chover hoje?". A cada dia, ela agia como se fosse mesmo a minha irmãzinha.

— E isso é pergunta que se faça, Lucy?

Susan surge na cozinha com um envelope pardo em mãos. Ela foi o meu bastião durante algum tempo, permitindo que eu ficasse na sala dela, enquanto me escondia dos valentões da escola. Nunca contei ao meu pai o que eu passei nas mãos de Billy, e talvez, nunca o faça. 

— Chegou para você, John — Susan anuncia enquanto entrega-me o envelope. — Veio de Los Angeles, Califórnia.

Minha mãe havia me enviado as fotos de sua viagem pela Europa, depois de ter me prometido que as enviaria há algum tempo. Rasgo o envelope ali mesmo diante de Susan e Lucy, e espalho as fotografias sobre o balcão. Minha mãe está em quase todas as fotos, sempre a esbanjar sorrisos e muitas poses. 

— Sua mãe é muito bonita — Susan elogia a mulher na fotografia. — Vocês são parecidos demais.

E Susan tem razão. Mamãe tem cabelos loiros e olhos que de tão azuis, são cristalinos. Regina ainda é uma mulher jovem, esbanjando apenas trinta e três anos. 

— Você passará o Feriado da Independência com a sua mãe? — Susan pergunta.

— Acho que sim... ainda não decidi. 

Estou muito vacilante esses dias. O John de antes não teria perdido a oportunidade para dar uma resposta ácida e seca, e falado o quanto queria se livrar de Paradise. No entanto, no atual momento, não acho que possuo mais sentimentos contraditórios a respeito desta cidade.

Nós, em uma casca de noz!Onde histórias criam vida. Descubra agora