Corra, John, Corra!

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— Eu até tentei aconselhá-lo, sabem? Tirá-lo do mau caminho, mas John Walker é uma pessoa imprevisível — Billy dizia essas palavras, gabando-se para os alunos da escola.

Ele era o herói que tentou impedir o grande vilão de fazer maldades. Billy havia ganhado a todos com aquele papo, e por cada corredor que eu passava, Billy era tido como um grande virtuoso digno da chave da cidade, enquanto eu, era um marginal patético e cínico que merecia uma surra.

É a hora da saída. Caminho para o Lada a fim de ir para casa. Ao longe, vejo Billy piscar para mim. Fizemos um pequeno acordo, um pacto. Eu deveria disputar um racha com ele, e se eu ganhasse, poderia dizer as minhas condições. Porém, Billy estava extremamente confiante de que ganharia de mim.

Ao chegar em casa, não há nenhum sinal de Robert ou Susan. Apenas Lucy chegara, e encontra-se com os olhos pregados na frente da TV assistindo Punky Brewster¹³, ainda de uniforme escolar, completamente alheia ao que está ao seu redor. Vou para a cozinha, abro a geladeira e tomo um gole de leite direto do galão. 

Observo, na lata de lixo da cozinha que fica perto da pia, meu maço de cigarros amassados no fundo da lixeira. Robert deve ter feito isso ao vasculhar o meu quarto, e irritado com tudo o que aconteceu e com tudo o que descobriu, jogou fora os meus cigarros. Não o culpo e não duvidaria se depois de tudo ele não me mandasse de volta para Los Angeles.

Assim que fecho a porta da geladeira, Lucy está diante de mim com sua expressão distante, e por pouco não me assusto com ela. Ergue a mão em minha direção, oferecendo-me uma caixinha com confeitos brancos e refrescantes, também conhecido como Tic Tac®.

Não entendo a atitude de Lucy, mas aceito assim mesmo seu mero presente. Olho para o relógio em formato de pinguim. São 19h05. Subo para o meu quarto e por lá fico até a chegada de Robert e Susan. Ao que parece, Susan não só trabalha como psicóloga na minha escola, descobri que ela também trabalha no mesmo hospital de Robert.

Finjo que estou deitado na cama, e cubro minha cabeça com o cobertor. Escuto a porta se abrir, e pela fresta do lençol, vejo a luz do corredor irradiar pelo meu quarto. A sombra na parede denuncia a silhueta de Robert. Talvez queira falar algo comigo, mas desiste, pois acha que eu estou dormindo. Antes dele fechar a porta e ir embora, ainda escuto-o sussurrar.

— Eu queria entendê-lo, John... Gostaria de ter sido mais presente em sua vida...

Robert está se culpando pelo o que está acontecendo comigo. Aquilo surpreende-me, fazendo uma sensação desconhecida aflorar dentro de mim. Achei que ele me castigaria, assim como a mamãe fazia comigo, deixando-me sem TV ou sem sair de casa, mas ao que vejo, Robert não sabe como funciona tal procedimento.

Pego o relógio que ganhei de Alfred e que nunca ponho em meu pulso, e fico a vislumbrar as horas, esperando que elas não passem, esperando que o tempo não corra tão rápido, e escondido debaixo do cobertor, isso é tudo o que eu posso fazer... esperar.

O silêncio predomina por toda a casa, e logo as luzes são apagadas. Dou-me conta de que todos foram dormir. 

Preciso me apressar se eu quiser ter a chance de sair dessa enrascada.

Às 23h23, acabo por cometer outro crime. Roubo o carro de Robert, o Cadillac vermelho modelo 1970 que ele mantinha guardado como se fosse um tesouro em sua garagem, e parto para encontrar-me com Billy nos limites da cidade. Não foi difícil encontrar as chaves do Cadillac, pois Robert nunca as escondia, deixando as chaves bem à vista penduradas no cabide que fica no hall da entrada da casa, perto do closet de casacos.

Minhas mãos estão muito suadas e tremem a todo instante. Aperto meus dedos no volante. Estou longe de casa. Tarde demais para me arrepender. Ligo o rádio automotivo do Cadillac de Robert. Na estação de rádio local está tocando Sirius de The Alan Parsons Project. É como se a própria música me indicasse o que me aguarda no final dessa estrada. Meu destino decidido por Billy Carson.

Nós, em uma casca de noz!Onde histórias criam vida. Descubra agora