Não diga que eu não falei das estrelas

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Os médicos estipularam apenas um mês de vida para Mary. Ela está vivendo muito mais do que lhe foi determinado. Toma essa!

As semanas passaram voando tais como folhas secas e eu sequer sentia a noção do passar do tempo, pois havia me ocupado naqueles dias. Ocupei-me tanto mental quanto fisicamente. 

No começo de agosto, como eu havia prometido a mim mesmo, arranjei um trabalho de meio período na floricultura. Nem vou dizer a enorme surpresa que eu senti quando reconheci instantaneamente a dona da loja. Era a mesmíssima senhora que havia me presenteado com o unicórnio de pelúcia quando eu lhe dei o meu guarda-chuva para que ela ficasse protegida da garoa. Unicórnio de pelúcia este que acabei dando para a Mary.

— Pois não? — a idosa olha para mim, assim que passo pela porta e aciono a sineta acima dela. 

— Vi que está precisando de ajudantes para a loja — digo, apontando para a placa de cartolina que estava pregada na vidraça. 

— Sim, sim. Preciso muito de ajuda, mas eu sempre que eu menciono que só posso pagar cinco dólares a hora, logo os interessados esmorecem e desistem. E quanto a você, meu jovem? Gostaria de tentar?

— Muito — respondo, impedindo que minhas bochechas não se levantem demais, devido ao meu consolidado sorriso.

— Não há muito trabalho na loja. Apenas cuidar das flores e, claro, saber fazer arranjos florais. A minha neta é ótima em arranjos florais. Ela disse-me que vai poder ajudar-me na próxima semana, pois passará o restante das férias escolares comigo. Pretende morar em Paradise... Então, mocinho, quando pode começar?

— Amanhã mesmo.

— E como se chama, meu jovem?

— John Walker. 

— Sou Florence Wilson. Prazer em conhecê-lo, John Walker.

A floricultura é uma loja bem pequena (um sobrado de dois andares), com uma enorme vidraça que dá visão para dentro da loja, com letreiros colados em vinil adesivo na vidraça com o nome da loja que se chama Flower&Art, escrito desta forma, tudo junto, em letras verde limão. O ambiente da loja nos transmite a ideia de algo vintage. As paredes e o balcão são de madeira. Tudo é muito amarronzado contrastando com as pétalas em cor-de-rosa pálido das flores em seus devidos vasos. Sobre a porta, há uma sineta que avisa sempre que um cliente entra. O que é raro, na maioria das vezes. Curiosos sempre existem. Fregueses? Quase nunca.

Comecei a visitar Mary ocasionalmente no hospital, e, sempre que eu a visitava, ela comentava a respeito de seu plano em unir a Judith e o paciente do quarto 101. Quando o paciente do quarto 101 recuperou-se da cirurgia no fêmur, infelizmente, teve de deixar o hospital. Judith foi diagnosticada com um problema nos ossos e teve de ficar mais um tempo no hospital, sendo colega de quarto da Mary. No entanto, não demorou muito para que Mary tornasse a entrar com seus planos mirabolantes em cena. 

— Infelizmente, o paciente do quarto 101 foi embora. Mas, ainda tem o enfermeiro que sempre vem nos ver. Já vi a Judith olhando para ele, e ele é tão meigo com ela, além dele ser jovem e muito bonito... eles serão um casal, John, com certeza — Mary relatava-me, entre uma pausa e outra, puxando o ar como podia. O modo cupido dela estava a todo o vapor.

Outras pessoas que também visitaram a Mary recentemente, preenchendo um pouco das lacunas que eu deixava, foram a Becca Kennedy e Cynthia Sinclair, duas das amigas mais antigas da Mary que conheci na excursão escolar em Sunriver. Foi um dia de visitas nostálgico para as três. 

Durante a semana, fiz o trabalho que a Sra. Florence ordenou-me na floricultura. A minha função, às vezes, era ficar atrás do simples balcão, regar as flores que ficavam na estufa que localizava-se detrás da loja, ou fazer os arranjos florais. Fui pegando o jeito da coisa com o tempo, mesmo quebrando alguns caules das flores matando-as sem querer no processo, ou fazendo arranjos florais de diferentes cores que deixa o arranjo um tanto bizarro. 

Nós, em uma casca de noz!Onde histórias criam vida. Descubra agora