Nós, em uma casca de noz!

Muito obrigado, Mary Marshall

EPÍLOGO 

"Não chore porque acabou. Sorria porque aconteceu."

Ludwig Jacobowski (poeta alemão)

— Robert John Jameson Walker! Está na hora do seu café do manhã! 

Essa é a voz da Jane, chamando o nome de nosso filho logo tão cedo. 

Hoje é sábado, dia seis de junho de 2015. Hoje a cápsula do tempo da L. M. Alcott High será aberta após exatos trinta anos, e para isso, todo um ato solene será realizado.

Muita coisa mudou na minha vida durante essas três décadas que se passaram, a começar pelo fato de que eu não tenho mais o mesmo vigor que tinha aos meus singelos dezessete anos. Sequer tenho a mesma jovialidade ou o mesmo galanteio. Meus cabelos loiros recepcionam os fios grisalhos, e em meu rosto sinais de cansaço expressos em linhas que demarcam a minha idade. Além disso, lembro que soprei um bolo que continha velas em formas de um 4 e 8. Quarenta e oito anos! Nem eu mesmo acredito que tanto tempo passou-se, mas sim, o tempo passara ligeiro e nada comedido.

Estudei na Universidade do Oregon, e consequentemente, fui morar em um dos apartamentos com preços bem baratos que ficavam em Eugene. Decidi que faria Psicologia e ajudaria a quem precisasse. Quando retornei para Paradise, dois anos depois, em uma de minhas férias da universidade, soube que a Sra. Florence, a bondosa que senhora que ofereceu-me meu primeiro emprego na floricultura, havia falecido devido a sua avançada idade, e não apenas isso, mas o pai da Jane sofrera um ataque fulminante do coração assim que saiu da reabilitação, o que acabara por deixá-la sozinha e desamparada no mundo. 

Jane herdou a Flower&Art, e trabalhava como podia para manter o legado da avó. Nisso, acabei regressando à Paradise pois eu queria ajudar a Jane a enfrentar um momento tão difícil em sua vida, e consegui um estágio como psicólogo para a L. M. Alcott High School. Uma incumbência muito árdua. Tornei-me um jovem psicólogo aos meus vinte e um anos, ajudando os alunos da escola a desabafarem os seus problemas, aflições e medos, e ajudando-os em suas dificuldades, estendendo-lhes a mão e garantindo que eles não mais sofressem calados como eu sofri. Era o meu chamado. A minha vocação.

Em uma de minhas consultas, topei com o professor Irwin pelo corredor do prédio A, aquele homem que recusou-se a ajudar-me quando passei por momentos de angústia nas mãos de meus algozes. Olhou-me de cima a baixo e não disse uma palavra para mim, talvez, envergonhado demais pelas duras sentenças que me desferiu no passado, e constrangido o suficiente para nunca pedir desculpas.

Durante esse tempo, assim que eu saia do estágio, ajudava Jane na Flower&Art, e conforme fomos nos aproximando, percebi o quanto eu gostava dela. Nunca pensei que o amor da minha vida, seria a garota rebelde que implicava tanto comigo e que detestava os meus arranjos florais. Não demorou para que nos apaixonássemos e virássemos namorados. Mas, eu ainda precisava terminar o meu trimestre e, então, retornei para a universidade. Entre muitas noites de estudos, forçando leituras contra a lamparina de luz fraca, acabei adquirindo problemas na visão, o que me fez ter de recorrer ao uso de óculos. Quando regressei em definitivo para Paradise, montei o meu próprio consultório onde passei a ajudar muitas pessoas, e aos meus vinte e quatro anos, pedi Jane em casamento. Ficamos noivos e poucos meses depois, estávamos casados.

Não mudei-me de Paradise e nem retornei para Los Angeles. Continuei a residir no Oregon, apesar de minha mãe e o meu padrasto ainda morarem na Califórnia e eu tê-la visitado com certa frequência junto com a Jane — Natal e Páscoa, principalmente —  nos primeiros anos do meu casamento. Robert, o meu pai, aposentou-se há algum tempo de sua vida como médico e curte sossegado a vida de aposentado, assim como a Susan, que a foi a minha bússola para que eu escolhesse a minha profissão. Escolhi morar a quarenta minutos da casa de meu pai. As crianças sempre gostavam de ficar na casa do avô, pois gostavam dos biscoitos que a Susan assava no forno.