Capítulo Oito

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O tempo, nesse verão, era quase sempre bom, mas às vezes o fim da tarde ficava abafado e
úmido e, quando isso acontecia, Nathan e Sofia geralmente me acompanhavam até uma "sala de
coquetéis" - meu Deus, que descrição! - chamada The Maple Court, que ficava na Church Avenue e
tinha ar refrigerado.
Havia relativamente poucos bares naquela parte de Flatbush (coisa que me intrigava até
Nathan me explicar que beber não se incluía entre os passatempos dos judeus), mas esse nosso bar
fazia bom negócio, contando, entre a sua clientela, predominantemente composta de gente humilde,
porteiros irlandeses, motoristas de táxi escandinavos, mestres de obras alemães e gente de outros
Estados e de status indeterminado, como eu, que por uma razão ou por outra fora parar no bairro.
Havia também alguns judeus, com ar um pouco furtivo. The Maple Court era grande, mal iluminado e
bastante reles, com um leve e persistente cheiro de água estagnada, mas nós três éramos atraídos para
lá nas noites muito quentes devido ao ar refrigerado e ao fato de gostarmos do ambiente. Além do
mais, era um lugar barato, onde a cerveja ainda custava dez cents o copo. Fiquei sabendo que o bar
fora construído em 1933, a fim de comemorar o fim da Proibição, e as espaçosas e algo cavernosas
dimensões destinavam-se originalmente a abrigar um salão de danças. Entretanto, esse plano dos
primeiros proprietários nunca se realizara, já que, por incrível descuido, não se tinham dado conta de
que se haviam instalado num bairro tão fanático da ordem e da compostura quanto uma comunidade
batista ou menorita. As sinagogas tinham dito Não, assim como a igreja Holandesa Reformada.
The Maple Court não conseguira licença para funcionar como cabaré e todo o décor cromado
e dourado, incluindo lustres semelhantes a sóis, que iriam girar sobre os bailarinos, como num cenário
de filme musical, caiu em desuso e criou uma pátina de sujeira e fumaça. A plataforma elevada, que
formava o centro do bar de forma oval e fora desenhada para permitir que stripteasers bamboleassem
os traseiros sobre uma circumambiência de pasmados fregueses, ficara cheia de cartazes empoeirados
e garrafas de mentira, anunciando marcas de uísque e cerveja. Mais triste ainda, o grande mural em
estilo Art Decô, colocado contra uma das paredes - uma bela peça, feita por mão de artista, com a
linha de arranha-céus de Manhattan e as silhuetas de uma banda de jazz e de coristas levantando as
pernas - nunca olhara para uma pista de jubilantes dançarinos, mas ficara rachado, salpicado e com
uma longa faixa horizontal marcando o lugar onde uma geração de bêbados tinha deixado cair a parte
de trás da cabeça. Era a um canto desse mural, um canto afastado da mal iluminada pista de dança, que
eu, Nathan e Sofia nos sentávamos, nas noites abafadas em que procurávamos refúgio no The Maple
Court.
- Sinto muito você não ter dado certo com Leslie - disse-me Nathan certa noite, após a
débâcle da Rua Pierrepont. - Via-se que estava desapontado e, ao mesmo tempo, um pouco surpreso
pela fato de os seus esforços como casamenteiro terem dado em nada. - Achei que vocês dois eram
feitos um para o outro. Em Coney Island, naquele domingo, ela parecia querer comer você com os
olhos... e agora você me diz que foi tudo por água abaixo. Que foi que houve? Não posso acreditar que
ela não estivesse a fim.
- Oh, não, correu tudo muito bem no que diz respeito a sexo - menti. - Pelo menos, no
princípio.
Por várias razões, não tinha coragem de dizer a verdade sobre nosso calamitoso encontro e aquele entrevero de duas pessoas virgens. Era por demais doloroso falar no assunto, tanto do ponto de


vista de Leslie quanto do meu. Resolvi inventar, mas percebi que Nathan sabia que eu estava


improvisando - ele estava morrendo de vontade de rir - e terminei a narrativa com uma ou duas


notas freudianas, por exemplo, que Leslie me dissera que só conseguia alcançar o clímax com negros


musculosos e pretos como tições, dotados de pênis colossais. Nathan olhou para mim, sorridente,

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