DAN SMITH – DEZEMBRO DE 2001.
A campainha da loja toca, era um pequeno sino posicionado estrategicamente para que fizesse alarme sempre que alguém abrisse a porta, eu observo uma garota aproximadamente da mesma idade que a minha entrar. Botas pretas e um casaco vermelho de doer a vista, ela estava ensopada e diferente de mim não desviou das poças pelo caminho, pegadas sujas vão se formando a medida em que ela se aproxima das prateleiras sem se importar com a minha presença.
- Olá? Posso ajudar? - Digo a observando brincar com os discos nervosamente. Ela não responde. Volto aos discos novos que Dicky que pediu pra catalogar. Provavelmente ela só está esperando a chuva passar.
DAN SMITH – ATUALMENTE.
Subo as escadas da estação de metrô correndo, tenho quatro minutos pra chegar à igreja onde Kate está ensaiando para o seu casamento, eu vou ser o padrinho. A igreja fica há duas quadras da estação, de modo que com certeza eu vou chegar todo suado e ofegante.
Kate é a minha melhor amiga, desde sempre eu acho, nos conhecemos na escola primária e desde então somos melhores amigos.
Lembro-me de nossos pais dizerem que um dia nós acabaríamos nos casando, talvez isso realmente acontecesse, então eu conheci aquela garota e nunca mais consegui me relacionar com ninguém.
- Até que henfin! A noiva sou eu Dan, eu que tenho que me atrasar. - Ela diz sorrindo na porta da igreja vindo em minha direção.
- Desculpe, perdi a hora.
- Okay, mas não faça isso no casamento se não quiser que eu enfie o buquê na sua garganta. Vem vamos começar. - Ela me arrasta como se fossemos duas crianças.
[...]
Eu não sou do tipo que gosta de reclamar das coisas sabe gosto do que eu faço é gosto de saber que há pessoas que apreciam isso. Mas bem, tudo tem um preço, estar longe da família, dos amigos, não poder chamar um lugar de casa.
Às vezes você só quer voltar pra sua cama, para suas coisas, a sua vizinhança. Embora isso pareça coisa de gente mimada não é, eu juro, depois de um tempo cansa é por isso que algumas pessoas acabam pirando com isso.
É por essas e outras que eu e os meninos da banda sempre estabelecemos regras. Uma delas é sempre fazer pausas por menor que sejam apenas pra respirar um pouco. Entre outras coisas:
"Não ficar longe de casa por muito tempo"
"Não trabalhar exaustivamente"
"Contar sempre um ao outro quando algo estiver errado"
São essa essas coisas que nos ajudam manter a sanidade.
Estar em Londres é muito bom, eu amo essa cidade.
Olho pra o antigo parque Dashwood, ele costumava ser mais bonito quando eu era adolescente, a grama pálida se espalha pelo vasto terreno e há montinhos verdes aqui e acolá, algumas pessoas passeiam por aqui. Hoje faz um dia de sol, o que é muito raro então todos aproveitam pra lotar os parques.
Deitam em baixo das árvores velhas e decrépitas, fazem piqueniques na grama pálida, crianças jogam futebol ou alimentam os patinhos no pequeno lago artificial no meio do parque...
Corro em direção a uma pequena colina e observo por cima das árvores, ele ainda está lá, o balanço em forma de foguete.
A verdade é que não era bem um balanço, são pequenas cabines onde cabem cerca de três pessoas adultas bem espremidas, elas ficavam penduradas sob uma barra de metal grossa e se podia gira-las como se fosse um carrossel. Nos anos 90 elas fizeram bastante sucesso e foram instaladas em vários parques da cidade, mas começaram a ser usadas por adolescentes para se agarrarem e usar drogas à noite, então foram sendo retiradas aos poucos. Restam poucas delas em alguns cantos esquecidos. O parque Dashwood é um desses.
Observo o brinquedo mais de perto, está bem conservado. As crianças não brincam mais neles de modo que todos estão desocupados. Paro em frente à cabine vermelha ao lado de uma árvore feia, ela costumava ser de um verde escuro quando eu vinha aqui com ela. Percebo que eles foram reformados, além da cor as barras de ferro que os apoiavam também foram trocadas, me abaixo e olho melhor, agora foram colocados assentos dentro, de modo que só cabem duas pessoas, quando eu vinha aqui eles era uma base de metal circular acolchoada.
Espremo-me pela passagem estreita e sento em um deles, por incrível que pareça ainda consigo caber aqui de uma forma confortável.
Toco as paredes com a pintura nova, eles realmente fizeram um bom trabalho, a superfície está lisa e bem pintada. Nós costumávamos talhar desenhos com canivetes aqui e ali, mas eles se foram juntamente com ela.
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A Garota Do Casaco Vermelho
RandomEu ainda posso vê-la mexer nos discos rapidamente enquanto cantarolava uma música baixinho. Era ela uma pessoa muito frágil eu acho. Eu nunca realmente soube quem era ela. Ou talvez eu a conhecesse melhor do que todos, mas não o suficiente pra fazê...