DAN SMITH - DEZEMBRO DE 2001.
Corro desviando das poças de agua e das pessoas na rua. Estou indo a loja de discos do Dicky, ele disse que queria minha ajuda hoje com um lote que acabou de chegar. Sou um garoto um pouco acima do peso, no seu tamanho ideal para alguém com 14 anos, com óculos de lentes finas e minha típica cara de perdedor.
DAN SMIT - ATUALMENTE.
Hoje remoendo essa lembrança não consigo imaginar como podia prever que seria naquele dia em que a minha vida tomaria um rumo diferente. O dia em que eu conheceria uma garota o qual nunca soube o nome, mas que haveria de lembrar e amar pelo resto da vida.
Estou voltando ao antigo bairro de Londres onde eu morava com meus pais na adolescência. No início de uma das ruas principais se localiza uma escola de arquitetura antiga, que parece um mausoléu, a qual eu estudei. E no fim dobrando a direita o "Disc's Dicky" uma loja de discos pequena e estreita que quase sempre cheira a incenso e pertence à um dos meus melhores amigos.
Eu costumava meio que trabalhar lá depois da escola, já que eu não tinha muitos amigos e o Dicky me deixava ouvir os discos e comer todo doce que pudesse.
Até conhecer ela, a garota que me contava histórias fantásticas sobre os livros que lia em um balanço em forma de foguete num parque do outro lado da cidade. Uma garota que saiu da minha vida do mesmo jeito que entrou, num dia de chuva e de uma maneira impactante e brusca que dói só de lembrar.
Empurro a porta estreita que ainda carrega o mesmo adesivo de empurre que tinha à 14 anos atrás. O cheiro de incenso invade o meu nariz, o barulho de alguém mexendo atrás do balcão me acorda, esse lugar está exatamente como antes, no dia em que conheci.
- Olá aaaah... - Digo dando pequenas batidinhas no balcão. -Dan! Cara que surpresa! - O homem de camisa cinza se levanta e me abraça rapidamente - O quê você faz aqui cara?! Você é uma estrela do rock devia estar fumando, bebendo ou cantando por aí - Ele diz sorrindo maroto. - Senti falta dos velhos amigos, e também Kate quer se casar em uma igreja aqui próxima e estávamos no ensaio. - Sorrio de canto. - Hey finalmente vocês se acertaram hein? - Ele me olha malicioso.
- Não cara! Claro que não, somos quase irmãos! - Digo na defensiva brincando com ele - Ela vai se casar com um babaca aí que conheceu outro dia.
- Hun, ela bem que tentou mas você não quis.. Ainda pensa naquela garota cara? A do casaco vermelho? - Ele me diz franzindo a sobrancelha e me olhando curioso.
Não respondi, ele sabia que sim.
- Nunca mais teve notícias dela? - Não, ela meio que evaporou. - Ninguém evapora Dan, se eu fosse você colocaria um detetive atrás dessa história. - Ele disse colocando alguns discos no balcão e me olhando de relance. - Porque eu faria isso? - Eu disse indignado. - Porque você pensa nela a cada segundo do seu dia nos últimos 14 anos? - Ele me olhou sério.
Dei-me por vencido, ele me conhecia melhor que todo mundo.
- Mas o que eu diria para ela se a encontrasse?
- Que tal que você ainda pensa nela e gostaria de conversar?
- Mas e se ela estiver casada? Se ela ficar com medo? Meu Deus ela pode chamar a polícia por achar que eu sou um pervertido, já vejo as manchetes dos jornais "Vocalista do Bastille é preso perseguir namorada da adolescência" - Eu digo pra ele me defendendo.
- Namorada? Não sabia que vocês namoraram..Não respondi, até porque não havia o que dizer. Ele estava certo, nós não namoramos, não dá pra definir o que tivemos.
- Olha Dan - Ele sai de trás do balcão e anda em minha direção - Vou te dar um conselho de amigo, você não pode passar o resto da vida pensando nessa garota e não saber o que houve com ela - Ele diz agora me olhando nos olhos e segurado nos meus ombros.
- Se ela ainda gostar de você vai ser muito legal, mas se não pelo menos você pode seguir em frente, eu sei que você jurou que esperaria por ela, mas as coisas acontecem e você tem que aprender a deixá-las pra trás.Estou olhando pro chão, às palavras dele me atingem como um tapa, eu sei que ele está certo. De repente o celular toca e ele se afasta bruscamente, o nome de Kate brilha na tela.
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A Garota Do Casaco Vermelho
RastgeleEu ainda posso vê-la mexer nos discos rapidamente enquanto cantarolava uma música baixinho. Era ela uma pessoa muito frágil eu acho. Eu nunca realmente soube quem era ela. Ou talvez eu a conhecesse melhor do que todos, mas não o suficiente pra fazê...